A ex-vendedora Simone Cassiano da Silva, 30, acusada de, em 28 de janeiro de 2006, atirar a filha de dois meses na lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, sentou-se das 9h de sexta-feira às 12h45 de sábado no banco dos réus e foi condenada a oito anos e quatro meses de prisão em regime inicialmente fechado.
Os sete jurados do 1º Tribunal do Júri da capital mineira não se convenceram da versão de Simone. Consideram-na culpada das acusações de tentativa de homicídio qualificado por motivo torpe (repulsivo), com uso de meio cruel e contra descendente.
Ré primária, Simone também foi beneficiada por ter bons antecedentes. Contudo, não vingou a idéia da mãe zelosa e arrependida por ter deixado a filha com um casal de mendigos. Prevaleceu a imagem da mulher que escondeu a gravidez do homem em cuja casa morava, já havia abandonado a filha de 11 anos --que hoje vive com a avó paterna-- por um ano e mentido para não pagar uma amiga.
Simone manifestou emoção durante seu julgamento apenas durante a leitura de cartas de afeto dirigidas a ela na cadeia por sua filha de 11 anos. Soluçou e usou lenço de papel. "Amo as minhas filhas e me considero uma ótima mãe, principalmente para a Paola [filha de 11 anos de seu primeiro casamento]", afirmou. No final do julgamento, mostrava-se impaciente com as intervenções do promotor.
A Polícia Civil e o Ministério Público concluíram que Simone jogou a filha na lagoa porque queria esconder do então namorado o fato de a menina ser filha de outro homem. Exame de DNA --contestado por Simone-- apontou que esse namorado, em cuja casa vivia na época, não é pai da menina. O pai verdadeiro ainda é desconhecido.
Outro exame mostrou que ela não tem problemas mentais e não apresentou sintomas de depressão pós-parto.
Estratégias
A defesa de Simone procurou desqualificar o inquérito policial. Questionou a não-realização de exame de impressões digitais no saco em que o bebê foi encontrado e o fato de o delegado do caso ter buscado testemunhas para depor. Simone disse ter sido agredida com dois socos pelo delegado quando foi presa, para que falasse à imprensa.
Testemunha de acusação, o delegado Hélcio Sá Bernardes negou ter agredido Simone. "Seria muito burro fazer isso na frente de toda a imprensa." Também disse que não coletou digitais no saco plástico em que a bebê foi encontrada porque o material estava ensopado e havia sido manipulado por diversas pessoas.
Outra tática adotada pela defesa foi a de estender o julgamento. Enquanto, por exemplo, a Promotoria pediu apenas a leitura do laudo psiquiátrico-forense, o advogado de Simone solicitou a leitura das cerca de 800 páginas do processo, que se estendeu por nove horas.
O advogado também promoveu a exibição de quatro VHS e três DVDs com reportagens veiculadas na mídia sobre o fato e até matérias sobre depressão pós-parto.
Já a Promotoria contestou a afirmação de Simone de que não sabia que estava grávida --ela disse que só soube de gravidez quando foi se submeter a cirurgia para retirada de um mioma. Só então teria descoberto a gravidez nas trompas de quatro meses e tido o bebê.
A Promotoria apresentou prontuários hospitalares mostrando que ela já havia passado por exames de ultrassom antes do parto prematuro. Em um dos exames, havia a anotação de que ela "não queria que seu acompanhante soubesse de sua gravidez". Com isso, procurou caracterizar Simone como mentirosa.