As denúncias de fraudes e lavagem de dinheiro no pagamento de jogos lotéricos feitas pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR) já começam a abalar a imagem das casas de loteria. Segundo empresários do setor consultados pela reportagem, a clientela está desconfiando de que os estabelecimentos estejam envolvidos nessas irregularidades e, por isso, estão diminuindo a compra de jogos.
O Sindicato dos Comissários e Consignatários de São Paulo (Sincoesp) nega a participação das empresas no esquema. Segundo a entidade, as lojas estão autorizadas a pagar somente prêmios de até R$ 800,00. Acima desse valor, o apostador só pode fazer o saque nas agências da Caixa Econômica Federal (CEF).
Apurações preliminares feitas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) dão conta de que as fraudes estão ocorrendo com valores maiores. Conforme o sindicado da categoria, o esquema consiste na venda de bilhetes premiados, por parte dos ganhadores, a pessoas ou grupos de alto poder aquisitivo.
“Quem compra, tem algum tipo de informação privilegiada sobre as pessoas que ganharam (o prêmio). Assim, conseguem receber o valor em seus nomes. Mas em relação ao sorteio, não há nenhum tipo de irregularidade. Trata-se de um processo muito transparente, que inibe qualquer tipo de direcionamento do ganhador”, explica Luiz Carlos Peralta, presidente do sindicato.
Conforme o senador Álvaro Dias, que denunciou o esquema, o interesse de quem compra o bilhete para se tornar ganhador oficial do prêmio é a possibilidade de justificar a origem do dinheiro com o argumento de que tem sorte constante no jogo.
O Coaf aponta suposto envolvimento de funcionários da CEF. A Caixa, no entanto, nega o envolvimento. A instituição diz que nenhuma das auditorias internas realizadas revelou a conivência de funcionários.
Em queda
Em Bauru, diversas casas lotéricas já sentem os reflexos gerados pelas denúncias de fraudes no pagamento de prêmios. Em muitas empresas, o movimento de apostadores caiu significativamente, segundo gerentes e proprietários.
“As pessoas estão receosas em apostar. A Mega-Sena está acumulada em R$ 36 milhões e seria muito natural um aumento no movimento. Mas não foi o que aconteceu”, relata João Ricardo Arruda, dono de uma lotérica na avenida Cruzeiro do Sul.
Segundo ele, Mega-Sena acumulada é sinônimo de bom faturamento para as casas de loteria. No entanto, Arruda acredita que essa teoria não se concretizará desta vez. “Espero uma queda de 25% no faturamento. O assunto das fraudes está atrapalhando muito ainda”, acrescenta.
“Temo que as lotéricas percam credibilidade, porque o comentário está geral. Aqui na loja, os clientes questionam muito o assunto. Acredito que isso deva motivar uma queda no movimento”, comenta Marcos Vinícius Carnelossi, gerente de uma lotérica no Centro de Bauru.
Em outro estabelecimento da cidade, a preocupação da gerente Maria Cecília dos Santos é a mesma de Carnelossi: a perda da credibilidade. “Acho que as loterias podem perder com esse problema, principalmente a confiança do cliente”, completa.
Fonte: JC Net