Depois da explosão inicial, a venda para o Google, polêmicas com pirataria e sexo na praia, o YouTube está gerando sua primeira geração de cineastas e roteiristas que estão ficando famosos graças ao site. Desde o fenômeno “lonelygirl15” (garotasolitária15), não param de surgir curtas e séries feitas especialmente para o You Tube. E algumas têm uma audiência comparável às similares da TV.
Lonelygirl15 surgiu de forma aparentemente despretensiosa. Uma garota que se identificava apenas como “lonelygirl15” exibia no YouTube confissões filmadas em seu quarto. Quando a audiência atingiu níveis extraordinários, uma reportagem do "The New York Times" mostrou que a garota solitária era, na verdade, a atriz neozelandesa Jessica Rose. Tudo foi meticulosamente planejado. Ela atuava com roteiro e tudo. Hoje, “lonelygirl15” se converteu em um canal dentro do YouTube, com mais de 8,5 milhões de visitas.
Outro fenômeno, só que mais recente, segue a tendência de aproveitar filmes criados para festivais de curtas-metragens e colocá-los no YouTube. Criado para um festival do gênero, “Chad Vader” mostra o vilão Darth Vader, de “Guerra nas estrelas”, convertido em gerente de um mercadinho, dando broncas nos funcionários e resolvendo pendengas com seu rival – o gerente do turno da noite – usando um sabre de luz.
Com acabamento profissional, a série caiu nas graças da rede. Somente o primeiro episódio já foi visto 3,2 milhões de vezes. E a "BBC News" chamou os criadores de “Chad Vader”, Aaron Yonda e Matt Sloan, de “os primeiros superastros da TV na web”.
"Cabocloexploitation"
Curiosamente, um dos “hits” nacionais no YouTube também foi feito para concorrer em um festival de curtas-metragens. “É nóis” (ou "It's we", numa tradução no estilo “engrish” da expressão) foi criado por quatro amigos de Brasília e se auto-intitula o primeiro filme “Cabocloexploitation” do Brasil.
Por “cabocloexploitation” entenda-se “uma mistura de clássicos dos anos 80 como 'Rocky', 'Rambo' e 'Trapalhões' com 'TV Pirata' e filmes do Tarantino”, explica Fábio Evangelista Silva, que atende pela alcunha de Fábio “Macumba”.
Fábio e seus amigos (Luís “Espalha Lixo” Xavier, Alex Vidigal e Rodrigo Ranthum) já fizeram seis episódios do seriado (o sétimo está pronto e o oitavo está em produção), que narra as desventuras de dois assaltantes que, fugindo da polícia, invadem justamente a casa de um policial. Além deles, “É nóis”, que possui legendas em um inglês cheio de erros propositais, mostra personagens antológicos, como o Detetive McCoy, uma espécie de Stallone Cobra dos anos 2000.
Devido ao sucesso da série, que já soma 21 mil acessos no YouTube, Fábio planeja transformar “É nóis” em um média-metragem. “O filme já está roteirizado e estamos tentando dinheiro para produzir”, revela.
“Matrix” made in Brazil
Se o que caracteriza “É nóis” é o acabamento (intencionalmente) tosco, outro sucesso nacional no YouTube, com mais de 40 mil visualizações, é uma refilmagem de uma seqüência da superprodução “Matrix”, feita por alunos de cinema da USP.
Neste caso, a intenção era refazer a seqüência em que Neo desvia das balas dos agentes de Matrix – a famosa “bullet time” - de maneira que ficasse o mais fiel possível ao filme original. Mesmo com um orçamento de R$ 200 (é possível encontrar o vídeo no YouTube procurando por “Matrix baixo orçamento”), os efeitos feitos em um computador caseiro surpreendem pela qualidade.
Feito como uma das tarefas do segundo ano do curso de cinema da USP, levou dois dias para ser filmado e outros cinco na edição. “Na hora de apresentar, a gente não sabia se estava bom ou ruim. Mas todo mundo ficou hipnotizado”, conta João Henrique Crema, um dos cinco idealizadores do "Matrix" brasileiro.
O vídeo ainda rendeu o contato de uma agência de publicidade interessada no trabalho da turma. E João Henrique, que ainda nem terminou o curso, quer mais. “Vamos fazer uma série de kung fu. Vai ser uma comédia.”
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