Cem escolas terão máquina de camisinha

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Governo federal instalará equipamento em colégios de ensino médio em 2008, mas não definiu se preservativo será gratuito

Para retirar o preservativo, aluno terá de digitar o seu número de matrícula e uma senha pessoal na máquina; instalação começa em SC

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal vai colocar máquinas de distribuição de camisinha em cerca de cem escolas de ensino médio da rede pública no ano que vem.
O protótipo do equipamento foi exibido ontem: o aluno digitará o seu número de matrícula e uma senha pessoal na máquina. Em seguida, ela despejará um preservativo, em um mecanismo semelhante ao de uma máquina de refrigerantes.
Ontem, porém, não foi possível verificar se o equipamento realmente funciona, uma vez que ele estava desligado e sem preservativos dentro.
De acordo com Mariângela Simão, coordenadora do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde, ainda não foi definido se o preservativo será gratuito ou se o aluno terá de colocar uma moeda de R$ 0,25. A pasta não estabelecerá uma cota de preservativos por aluno, mas isso poderá ser feito por iniciativa de cada escola que aderir ao projeto.
O "dispensador de preservativos", como é chamado pelas autoridades, foi projetado por estudantes do Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica) de Santa Catarina.
Alunos dos cursos de automação industrial, radiologia e design de produtos, eles ganharam concurso lançado em outubro de 2006 e receberam ontem R$ 50 mil pela invenção.
O Cefet de Santa Catarina e outras escolas do Estado devem ser os primeiros a receber as máquinas. Os outros estabelecimentos ainda não foram definidos, segundo a pasta.
Segundo a coordenadora, depois da experiência com essas cem escolas, outras irão receber as máquinas, mas apenas se demonstrarem "interesse" e tiverem em seu projeto pedagógico temas relativos a "promoção da saúde e prevenção junto aos alunos".
A distribuição do equipamento depende ainda de alguma empresa manifestar interesse em fabricar o que foi desenhado pelos alunos do Cefet. O preço por unidade é estimado em R$ 400.
Representantes dos ministérios da Saúde e da Educação presentes ontem no lançamento negaram que a presença das máquinas nas escolas seja um incentivo à vida sexual do jovem. "Não se trata de nenhuma ação indutiva", disse Jaqueline Moll, do MEC. A idéia, defendem, é ampliar o acesso aos jovens que têm relações sexuais. "Outro dia ouvi no rádio que um menino desistiu de pegar a camisinha no posto de saúde porque teria que, antes, assistir a uma palestra sobre planejamento familiar", disse Simão.

Jovens são público-alvo do Dia Mundial de Luta contra a Aids

De acordo com o último Boletim Epidemiológico Aids/DST, a presença do vírus HIV nos jovens com idade entre 13 e 19 anos aumentou

>Apesar de terem acesso à informação, pesquisas indicam que os jovens entre 13 e 24 anos não usam o preservativo em todas as relações sexuais. Por esse motivo, eles são o foco da campanha que o Ministério da Saúde lançou esta semana para comemorar o Dia Mundial de Luta contra a Aids, celebrado hoje (1º). Este ano, o slogan da campanha é Sua Atitude Tem Muita Força na Luta Contra a Aids.

Segundo a assessora técnica do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde, Ângela Donini, os jovens são o grupo da população que mais usa camisinha, mas os casais deixam de usar o preservativo quando a relação se torna mais estável.

“As mulheres dizem que não usaram porque confiavam no parceiro. São pilares difíceis de serem modificados num tempo histórico”, afirmou.

Há também, segundo a assessora, a questão do acesso ao preservativo. Segundo ela, muitos jovens relatam que na hora do sexo estavam sem o preservativo. Ela também critica a orientação sexual tardia das escolas, uma vez que muitos adolescentes estariam iniciando a vida sexual ainda no ensino fundamental.

De acordo com o último Boletim Epidemiológico Aids/DST, divulgado semana passada, a presença do vírus HIV nos jovens com idade entre 13 e 19 anos aumentou, principalmente entre as meninas. Há dez anos, havia 273 meninos e 258 meninas infectadas nessa faixa etária. No ano passado, esse número chegou a 223 meninos e 368 meninas. Segundo o mesmo documento, quase 70 mil casos de aids já foram registrados entre pessoas com menos de 24 anos de idade no Brasil, o que representa cerca de 16% do total de casos do país.

O coordenador-geral da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Veriano Terto, afirma que o Brasil conseguiu reduzir pela metade a taxa de mortalidade da doença nos últimos anos, mas lembra que, apesar de tratável, a aids ainda é um grave problema de saúde pública.

“Os dados mostram que é preciso chamar a atenção das pessoas mais jovens, porque nós conseguimos alguns resultados e isso pode dar a impressão para muita gente de que o problema está mais ou menos controlado, o que pode ter como conseqüência o relaxamento da prevenção, principalmente, entre os mais jovens”, enfatiza.

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, abre as comemorações do Dia Mundial de Luta contra a Aids neste sábado, durante ato religioso no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, a partir das 15h30. O evento também terá a presença do arcebispo do Rio de Janeiro, dom Eusébio Oscar Scheid, e do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Estarão presentes ainda os jovens Kleber Fábio Mendes e Thiago Victor Barbosa, ambos portadores do vírus HIV.
O POVO.com.br