O padre Júlio Lancelotti negou ter desviado recursos de ONGs e declarou que não manteve relacionamento sexual com um ex-interno da antiga Febem. As declarações foram feitas a fiéis, na porta de sua casa, em São Paulo.
Leia a íntegra do pronunciamento.
"Agradeço a todos vocês e fico constrangido em incomodar a todos e fazer todos mudarem a sua rotina desse dia. Saírem dos seus afazeres. Olhando no rosto de cada um de vocês, eu vejo um pouco da minha vida, um pouco da minha história. O rosto de cada um é um momento, uma alegria, um sofrimento, uma esperança, a amizade.
Vejo crianças que eu batizei, casais que eu fiz o casamento, pessoas com quem nós rezamos juntos. Pessoas que estavam na rua e saíram da rua. Tudo coisa que Deus foi providenciando na vida de cada um. Cada um que está aqui é muito importante para mim. São pessoas que eu respeito muito.
Me faz constrangido, realmente, de causar incômodo a vocês, de causar tristeza, de causar preocupação. Eu não queria que ninguém estivesse sofrendo por isso e também o sofrimento imposto à minha mãe. Em relação a tudo isso que está acontecendo, estão sob segredo de Justiça algumas coisas. Outras estão sendo encaminhadas. Eu pediria muito que rezássemos pelas pessoas que estão presas. Eu peço, eu acredito muito que Deus pode tocar o coração das pessoas. E o mais simples é que as pessoas possam dizer a verdade.
Dizer que aquelas coisas todas, que foram ditas e colocadas nas manchetes dos jornais e dos noticiários, não aconteceram. Isso eu já repeti muitas vezes. Algumas pessoas da comunidade até me viram muitas vezes sofrendo, tendo de dificuldade de lidar com essas coisas.
Os meus irmãos e minhas irmãs da Toca de Assis, são, talvez, testemunhas muito concretas de quantas vezes eu dizia para eles: 'Rezem por mim, porque estou passando um momento difícil, estou lidando com pessoas muito difíceis'. Muitas vezes isso na porta da igreja, na saída das celebrações, às pessoas eu pedia oração, para muitas pessoas dizia: 'Rezem por mim'. Foi o que eu sempre pedi. Quem está aqui e estava nas celebrações lembra que eu sempre pedia orações. E continuo pedindo que nós tenhamos orações. O que eu não gostaria de prejudicar e por quem eu daria a minha vida é pela Igreja. Não gostaria que ninguém desacreditasse.
Acreditem em Jesus, acreditem nele. Acreditem nele. Ele é muito maior que isso tudo. Deus é muito maior que tudo isso. Que ninguém se perturbe na sua fé. Nós, seres humanos, e os padres também, somos frágeis, somos fracos. Somos sujeitos a tantas situações difíceis, mas o que eu gostaria de pedir a todos: mantenham a sua fé. Orem, estejam nas celebrações, recebam a eucaristia, esteja com seu coração sintonizado com Deus.
Acima de tudo, que a Igreja não seja atingida e desrespeitada. Que as entidades sociais são muito maiores do que eu, e muito mais importantes, os movimentos, as pastorais. Nós passamos. A Casa Vida é muito mais importante do que eu, muito mais. Que sejam ajudados todos esses trabalhos, que a Casa Vida seja ajudada e apoiada. Que possa ter claro que tudo isso está sendo falado, que muda a cada hora de um jeito, eu podia dizer para vocês, olhando nos olhos como irmão, que aquilo que já foi dito, mas que a alguns dizem para mim: "Ah, são perguntas que não querem se calar'.
Eu nunca tive acesso a nenhum recurso da entidade Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto. Mesmo porque sou conselheiro da entidade, nunca tive acesso (aplausos), nem tenho acesso às contas da própria Casa Vida. Eu não posso movimentar. A não ser que fosse por algum jeito que logo seria descoberto. Eu não tenho acesso a nada dos recursos da entidade. Então, conheçam a entidade, conheçam os trabalhos, para verem a honestidade da entidade e dos trabalhos.
Depois daquela primeira questão que apareceu da fita, onde há a gravação que eu mesmo fiz. Eu mesmo busquei a polícia. Eu sabia que estava sendo feita a gravação. Eles não sabiam. Então, eles podiam dizer coisas que me comprometessem. E seu eu desligasse o gravador naquela hora, os peritos que periciaram a fita teriam descoberto que eu tinha interrompido a gravação. Então, essas gravações que são longas, são gravações de mais de uma hora e meia, de vários momentos, que foram entregues imediatamente à polícia. Eu entreguei. Eu agradeço a todas as autoridades que me ajudaram desde que eu procurei há muito tempo. Nenhum deles me tratou com desprezo nem desdém. Todos me trataram com respeito. A todos eu agradeço.
Não quero citar os nomes, esses dias já saíram nos jornais, mas todas as autoridades me atenderam com dignidade. A todos eu agradeço. Eu não tenho nenhum reparo a fazer. Principalmente ao delegado que foi o que nos últimos dias me acompanhou e alguns dos telefonemas eu atendi e conversei diante desse mesmo delegado, que acompanhou e foi uma pessoa muito digna. Eu agradeço a todos eles.
Sobre a criança, que depois a própria mãe mudou. Só que quando a mãe falou, foi manchete de meia página dos jornais. Quando ela negou, foi uma chamada lá dentro, na décima página do jornal. Quando agora dizem que eu tenho relacionamento com uma dessas pessoas. Se eu tivesse, por que eu gravaria? Ele poderia em algum momento da gravação dizer: "E o nosso caso? Você agora esqueceu?' E eu estou dizendo isso para vocês [fiéis], que são meus irmãos, que são meu amigos. Porque, para muita gente, isso pode não ter crédito nenhum.
Eu só posso voltar a dizer o que uma pessoa muito religiosa, esses dias, uma pessoa muito boa me disse: "Repita muitas vezes no dia: Eis-me aqui, Senhor'. Os que convivem comigo sabem das minhas limitações. Sabem das minhas dificuldades. Sabem que ninguém é perfeito. Eu não sou perfeito. Eu não quero vender uma imagem de pessoa perfeita, porque quem convive comigo sabe das minhas limitações. Aqueles que estão mais próximos na comunidade.
Então, o que eu peço a todos vocês, que orem, oremos, para que se preservem os valores maiores da nossa fé, que se preservem os valores e a dignidade da Igreja. Que assim como eu não gostaria de receber uma ofensa pública como as que ocorrem, porque se colocou em público a minha casa. Todos que são da comunidade sempre sabiam porque quantas vezes me trouxeram aqui. Quantas vezes as pessoas vêm me trazer até em casa porque eu não tinha como chegar em alguns momentos.
Agora, passam pessoas de carro aqui, xingando, ofendendo, falando coisas pesadas. Então, queria também orar por essas pessoas. Rezar por todas essas pessoas, pelos que estão presos. Porque eu acredito que Deus é capaz de tocar no coração de todos. Vocês, hoje, tocaram no meu coração, pela amizade, pela bondade, pelo carinho. Então, eu lhe agradeço. Deus lhe pague, Deus lhe pague." (aplausos)
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