Igreja Católica: 2.000 anos de história, ainda na infância na TV

Por Renata de Freitas

SÃO PAULO (Reuters) - Quanto vale um minuto na TV? Para a comunidade católica, cada alma mantida no rebanho, não perdida para as religiões pentecostais, que fazem da televisão uma ferramenta eficaz de conversão. Com 2.000 anos de história, a Igreja Católica ainda engatinha na batalha da mídia eletrônica.

A estrutura televisiva que dá suporte à religião com mais adeptos no Brasil não é de propriedade da Igreja. São iniciativas independentes, inclusive de leigos, que estabeleceram emissoras da década de 1990 para cá. Elas eventualmente atuam em colaboração, mas não têm gestão integrada e nem há um plano de unificação.

"Cada qual tem sua característica. Na Igreja, há diversidade", justificou o bispo Fernando Figueiredo, da diocese de Santo Amaro, zona Sul de São Paulo. Ele foi presidente do Instituto Brasileiro de Marketing Católico (IBMC) e é um dos diretores da Rede Vida, emissora do empresário João Monteiro de Barros Filho, com sede na cidade paulista de São José do Rio Preto.

O interior do Estado abriga também a maior das redes católicas, a Canção Nova, administrada pelo padre Jonas Abib, que, como o padre Marcelo Rossi, vai cantar na vigília dos fiéis no Campo de Marte antes da missa de canonização do frei Galvão pelo papa Bento 16. A Canção Nova está em Cachoeira Paulista.

A TV Século XXI, comandada pelo padre jesuíta Eduardo Dougherty, fica em Valinhos. Na cidade que abriga o santuário da padroeira, foi inaugurada em 2005 a mais nova delas, a TV Aparecida.

"Tudo isso mostra uma necessidade que a Igreja sempre sentiu e a resposta a algo que está muito presente como elemento importante da Igreja, que é evangelizar, que é levar a mensagem do senhor a todos. E hoje os meios de comunicação são veículos privilegiados desta comunicação para atingirmos todas as pessoas", afirmou dom Fernando à Reuters.

No entanto, falta poder de fogo a essas emissoras. A Canção Nova, por exemplo, vive de doações de cerca de 300 mil associados e venda de produtos religiosos, orçamento total que chegou a 11 milhões de reais este mês, segundo a superintendente da TV, Paula Guimarães.

Em 2006, a Rede Record, da Igreja Universal do Reino de Deus, tinha faturamento previsto de pelo menos 850 milhões de reais.

"O crescimento não é tão rápido como com alguém que tem receita publicitária", admitiu Paula, jornalista de 31 anos, há 15 anos trabalhando com o grupo Canção Nova, que inclui rádio e editora. A TV tem perto de 500 funcionários, três geradoras e mais de 500 retransmissoras. Em 2003, contou com o publicitário Nizan Guanaes para renovar o visual dos programas.

Há quatro anos conta com a atriz Myrian Rios, 48 anos, que atualmente apresenta um programa de orações, depois de ter estrelado por alguns anos um talk show na emissora. Terço e missa são os programas mais populares da Canção Nova. A audiência é, no entanto, inexpressiva, segundo especialistas.

MARKETING DA FÉ

Com 32 anos de carreira artística, 27 de Globo, Myrian Rios relatou que faz de tudo um pouco na Canção Nova: ajuda na produção do programa e de imagem, aprendeu um pouco de edição.

"Eu tive que me virar, eu cresci como profissional também porque nas outras emissoras a gente encontra pronto", comentou, por telefone, do Rio de Janeiro. "A Globo e outras emissoras estão aparelhadas tecnicamente, não tem comparação, mas não estão usando para oferecer um serviço mais apropriado para a população."

Os padres-cantores associados ao movimento carismático são também estrelas para as emissoras católicas, que potencializam com a TV o magnetismo desses evangelizadores. Uma "forcinha" das emissoras de televisão abertas nessa missão religiosa também é bem-vinda.

A Rede Globo, por exemplo, transmite nos domingos pela manhã para todo o Brasil e mais de 40 países, pela Globo Internacional, a missa do padre Marcelo no Santuário do Terço Bizantino, em São Paulo. A celebração de sábado à tarde também é exibida pela Rede Vida.

"Padre Marcelo foi uma coisa muito boa para a Igreja, deu visibilidade. Ele tem a visão de um padre que não é intelectualizado, mas agrada às pessoas. Ele agregou pessoas à Igreja", comentou o consultor de Marketing aplicado à Igreja Católica, Antonio Kater Filho, colaborador permanente do IBMC.

Envolvido com a produção de programas televisivos como a novela católica Irmã Catarina, da qual Myrian Rios foi protagonista em 1996, Kater lamenta que esse tipo de iniciativa não tenha tido continuidade, mas reconhece que os programas religiosos poderiam ser mais bem elaborados.

"A audiência é pequena porque falta produção, um certo sensacionalismo, presença glamurizada de artistas. Nossos programas são pobres", disse.

Para o especialista em comunicação religiosa Eduardo Refkalesfsky, publicitário e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, até mesmo a liturgia católica é um desafio para a linguagem televisiva.

"Toda a riqueza visual das igrejas, das imagens e da arquitetura, toda a ritualística, não têm o mesmo impacto na televisão. Nas igrejas evangélicas contemporâneas, a liturgia é bem mais simples", afirmou. "Em geral, se resume a louvor e pregação. O louvor pode ser facilmente adaptado através de clipes musicais ou shows ao vivo; e a pregação, por ser mais racional e centrada na palavra, também."

A atriz Myrian Rios defende mais apoio financeiro da comunidade. "Se os grandes empresários católicos realmente investissem, seria um grande 'boom'. Muitos temem se identificar. O cristão evangélico abraça mais a causa, eles são unidos."


REUTERS

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