PF investiga relações perigosas da Mirante

A revista Época desta semana traz uma reportagem, intitulada de “Curto-circuito no ministério”, sobre as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal sobre os empresários Fernando Sarney e Edson Lobão Filho, o Edinho Lobão, e as implicações dessas investigações em relação à indicação do senador Edson Lobão ao Ministério de Minas e Energia como cota do PMDB no governo Lula.
As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal sobre as movimentações bancárias de Fernando Sarney foram iniciadas em novembro de 2006. O ponto de partida foi um comunicado do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda ao Ministério Público sobre movimentações de R$ 3 milhões em contas bancárias controladas por Fernando Sarney. Para conter as investigações, o senador José Sarney acionou advogados em Brasília para saber a extensão dos danos. Depois de uma batalha nos tribunais para ter acesso aos dados da investigação, os advogados descobriram que os sigilos bancário e fiscal de Fernando, de sua mulher, Teresa Murad Sarney – presidente do Sistema Mirante de Comunicação - e de contadores de suas empresas também haviam sido quebrados. Na Justiça, o Ministério Público Federal no Maranhão obteve a quebra do sigilo telefônico de Fernando Sarney em dezembro do ano passado, mas ele já havia sido apanhado, há quase um ano, em grampos armados pela PF para outras investigações.
Segundo o que foi noticiado pela revista Época, a família Sarney encarou as investigações como uma teoria da conspiração, ou seja, “as investigações teriam o objetivo de intimidar e enfraquecer o PMDB e Sarney, o mais importante aliado do governo no Congresso. Um dos objetivos da conspiração seria manter o Ministério de Minas e Energia sob o controle da poderosa ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a quem o interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, é ligado”.

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Fernando Sarney Roseana Sarney e Edson Lobão Filho


FACTORING

Teorias ou não, o fato é que as investigações renderam matéria sólida nas contas de Fernando Sarney e suas empresas. A revista apurou que o Ministério Público suspeita do trânsito de dinheiro entre o Sistema Mirante de Comunicação e a São Luís Factoring e Fomento Mercantil Ltda., uma outra empresa familiar que é desconhecida que troca cheques e outros títulos a prazo por dinheiro à vista e, para isso, cobra comissão. Com a quebra dos sigilos bancário e fiscal autorizada pela Justiça, descobriu-se que a São Luís só realiza transações entre as próprias empresas do grupo Sarney com uma movimentação anual de R$ 100 milhões. No ano passado, a empresa lucrou cerca de R$ 25 milhões em juros e comissões cobrados, de acordo com as investigações, das empresas Grupo Mirante.
“Esse é o calcanhar-de-aquiles dessas operações que estamos investigando”, disse à revista Época uma autoridade diretamente envolvida na apuração, sob a condição de anonimato porque a investigação corre em segredo de Justiça.
O endereço da factoring, que está em nome de um contador do grupo e de Teresa Murad Sarney, é o mesmo do jornal e da TV Mirante. Os investigadores estão trabalhando com a suspeita de que a empresa tenha servido para lavar dinheiro. “O lucro declarado dessa factoring pode ser uma forma de esquentar dinheiro”, afirma um dos investigadores à revista Época.
Além das investigações da PF e do Ministério Público, o grupo do Sistema Mirante responderá a uma ação fiscal instaurada pela Receita Federal. De acordo com a reportagem, o juiz federal Neian Milhomem Cruz, da vara especializada em lavagem de dinheiro de São Luís, autorizou a quebra de sigilo bancário da TV Mirante, da Gráfica Escolar e da São Luís Factoring.
A investigação da Polícia Federal está concentrada em Brasília. Está a cargo da Divisão de Crimes Financeiros, a mesma que investigou o mensalão. No inquérito composto de 13 volumes estão todas as movimentações financeiras do grupo realizadas entre 2002 e 2006.
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Retirada à véspera das eleições estaduais de 2006

Segundo noticiado na revista, que teve acesso aos relatórios do Coaf, o primeiro movimento se deu em 23 de outubro quando o empresário Eduardo Lago, concunhado de Fernando Sarney, depositou R$ 2 milhões na conta da Gráfica Escolar. No dia seguinte, o dinheiro voltou para a conta de Eduardo Lago. Logo após, a transferência é refeita e Eduardo Lago deposita diretamente na conta de Fernando Sarney os R$ 2 milhões. O primeiro saque no valor de R$ 1,2 milhão foi feito em 25 de outubro. O restante (R$ 800 mil) foi retirado no dia seguinte. Nas duas operações bancárias, o dinheiro foi sacado em espécie. Ainda segundo a reportagem, os saques foram feitos na agência 2192 do Bradesco, no centro da cidade.
“Houve ainda outras movimentações atípicas. Segundo o relatório do Coaf, entre 27 de setembro e 27 de outubro, foram retirados mais R$ 1.022.450 de contas da TV Mirante. Os saques, também em dinheiro vivo, foram feitos por Carlos Henrique Campos Ferro e Teresa Cristina Ferreira Lopes. Segundo Fernando Sarney, os dois são funcionários da emissora. ÉPOCA conversou com Teresa Murad e advogados da família Sarney, mas eles preferiram não se pronunciar sobre o caso da São Luís Factoring”, trecho da reportagem.

Roseana, a benefiária

Devido às movimentações bancárias terem sido feitas próximo ao segundo turno da eleição de 2006, que aconteceu em 29 de outubro de 2006, os investigadores suspeitam que os saques possam ter relação com o financiamento da campanha de Roseana Sarney ao governo do Maranhão. De acordo com Época, Fernando Sarney era o tesoureiro informal da campanha da irmã. Os investigadores estão tentando refazer o caminho do dinheiro, que Eduardo Lago e Fernando Sarney dizem tratar-se de um empréstimo para fins privados. Entretanto, para a PF e o Ministério Público, se a natureza da operação era essa, por que, então, o dinheiro foi sacado em espécie.
A descoberta das investigações sobre as empresas administradas por Fernando Sarney teria sido um dos motivos que levaram Sarney a recusar a indicação do PMDB para disputar novamente a presidência do Senado, quando da vaga aberta pela renúncia de Renan Calheiros, em dezembro. “O experiente senador, segundo essa versão, avaliou que sua candidatura poderia atrair atenções para acusações contra o filho e as empresas da família” (trecho da reportagem).
Edinho e a doméstica

Edison Lobão Filho, o Edinho Lobão, é suplente do pai, o senador Edison Lobão. Se Lobão for mesmo indicado para o ministério, ele assumirá sua cadeira no Senado Federal. Segundo a lei, Edinho terá que se afastar da direção das emissoras de rádio e TV da família, negócios que sempre foram motivo para preocupação do grupo Sarney. A preocupação deve aumentar agora que o Ministério Público Federal do Maranhão está investigando a denúncia de que essa emissora teria sido arrendada ilegalmente por uma ONG do Rio de Janeiro. De acordo com a revista Época, a família Lobão nega o arrendamento.
Edinho Lobão, logo no primeiro ano do governo Edson Lobão (1991 a 1994), comprou a TV Difusora, retransmissora do SBT em São Luís. Na época, o empresário (que iniciou a carreira de empresário com uma padaria na Serra Pelada) disse ter pago a aquisição com um empréstimo bancário. A reportagem da revista Época afirma que Edinho é dono, hoje, de duas emissoras de TV e de uma rádio. A família Lobão já era dona de uma emissora de TV em Imperatriz, a maior cidade do interior do Maranhão.
“Edinho diz ser dono de uma construtora, uma fábrica de gesso e várias empresas em diversos setores, hoje inativas. Um de seus empreendimentos foi uma distribuidora da cerveja Schincariol no Maranhão. É uma empresa com capital social de R$ 3 milhões, registrada na Junta Comercial em nome de duas mulheres: Maria Vicentina Pires da Costa, de 79 anos, sócia majoritária, e Sílvia Maria Gomes Muniz, de 47. Mãe de duas funcionárias da distribuidora, Sílvia mora em uma casa humilde de um bairro pobre da periferia de São Luís, onde o esgoto corre a céu aberto. Á Época, Sílvia disse que nem sequer sabia ser sócia da distribuidora” (trecho da reportagem).
Para esse fato noticiado pela revista, Edinho afirmou que deixou a distribuidora há quase dez anos. Ao desfazer a sociedade, diz ter assinado, inocentemente, um contrato que, em vez de transferir suas cotas para os antigos sócios, repassou sua parte para duas mulheres. “Eu não as conhecia, mas meus ex-sócios disseram que elas eram de confiança. Só depois soube que uma delas era uma empregada doméstica”, disse Edinho à reportagem da Época.
Esses imbróglios com as empresas de Edinho Lobão também podem atrapalhar os planos do senador Sarney de ficar com o Ministério de Minas e Energia e garantir os altos cargos na Eletronorte, hoje comandada pelo PT.
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