Saída de Matilde do governo preocupa movimento negro

A crise provocada pelo uso irregular do cartão corporativo do governo, que culminou com a demissão da ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), atingiu tanto o movimento negro quanto as políticas voltadas ao setor. A opinião é de especialistas e integrantes do movimento negro ouvidos pela Folha. Alguns identificam a saída de Matilde como uma vitória de uma camada da sociedade contrária a ações anti-racismo.
"A saída da ministra é uma vitória das pessoas que não concordaram com a criação da própria secretaria. É uma vitória das pessoas contrárias às políticas de ações afirmativas para a população negra", diz Kabengele Munanga, professor de antropologia e diretor de estudos africanos da USP.

Com a saída de Matilde (PT-SP), Martvs das Chagas (PT-MG), até então o número dois da secretaria especial, assume como ministro interino. O presidente Lula decidirá sobre efetivá-lo ou não após o Carnaval.

Por conta do uso irregular do cartão corporativo, a ministra pediu demissão na sexta-feira(01/02).

"O movimento sai riscado. E a gente sabe que os que concentram a renda do país, onde a maioria não é negra, influenciaram contra a secretaria e contra a ministra", opina Edgard Moura Amaral, secretário nacional de formação dos agentes pastorais negros.

Em 2007, Matilde gastou R$ 171 mil com o cartão, incluindo gastos pessoais. Ela tentou resistir à crise até a audiência de anteontem com o presidente, mas não obteve retaguarda.
Para o professor Nelson Inocêncio, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da UnB (Universidade de Brasília), a demissão de Matilde traz um prejuízo conjunto.

"Na medida que existe um descontentamento com essa secretaria, tudo serve de pretexto. É um prejuízo à secretaria, às políticas e ao movimento", declara.
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Sob suspeita, 8 ministros já deixaram governo
João Prestes, com Agência Estado
Em cinco anos, escândalos envolvendo improbidade e corrupção derrubaram oito ministros do governo Lula. Matilde Ribeiro, da Igualdade Racial, foi a última a cair, após o fiasco da gastança com o cartão corporativo. Esse foi um caso clássico de abate rápido, embora não indolor. Outros ministros agonizaram nos cargos, gerando desgaste desnecessário ao governo.

A queda anterior à Matilde foi de Walfrido Mares Guia, que entregou a pasta de Relações Institucionais em 22 de novembro, minutos após ter sido denunciado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, no caso do mensalão tucano.

Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social) foi a primeira da lista de demissões, em 21 de janeiro de 2004. Em setembro de 2003, hospedou-se no Alvear, luxuoso hotel de Buenos Aires, com diária de US$ 400, à custa da União, para um café da manhã com evangélicos. Ela resistiu, mas perdeu a vaga.

Em 13 de março de 2004, o ministro dos Transportes, Anderson Adauto, chamuscado pela suspeita de ligação com um esquema de corrupção na Prefeitura de Iturama (MG), ficou sem a cadeira. Saiu da Esplanada e lançou-se para prefeito.

Já o ex-chefe da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT-SP) anunciou a sua saída em 16 de junho de 2005, dois dias após o então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor da denúncia do mensalão, cobrar na TV a sua demissão. Dirceu foi o fiador das alianças que conduziram Lula ao Planalto.

Dirceu integrava o "núcleo duro" do primeiro mandato, assim como o ministro da Fazenda, Antonio Palocci (PT-SP) - hoje deputado -, outro membro do primeiro escalão que não resistiu a um escândalo. Elogiado até pela oposição e gozando de ampla confiança de Lula e do mercado, o petista entregou o posto em 27 de março de 2006.

O próximo a ceder o lugar foi Luiz Gushiken, outro ex-integrante do "núcleo duro". Rebaixado da Secretaria de Comunicação para o Núcleo de Assuntos Estratégicos, em meio ao escândalo do mensalão e à CPI dos Correios, ele se demitiu em 13 de novembro de 2006.

Fecha a lista o ex-titular de Minas e Energia Silas Rondeau. Ele perdeu a pasta em 22 de maio de 2007, três dias após ser apontado pela Polícia Federal como suspeito de ter recebido R$ 100 mil da Construtora Gautama, alvo da Operação Navalha. Com mais ou menos fritura, todos os ministros deixaram o cargo negando as denúncias.

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