TV Bandeirantes denuncia ilegalidades em transação da Abril com grupos estrangeiros

A Rede Bandeirantes exibiu em seus telejornais, segunda e terça-feira,, reportagem denunciando irregularidades praticadas pela Editora Abril, proprietária da revista “Veja”, nos contratos de venda de 30% do capital da editora a grupos estrangeiros. O negócio, no valor de cerca de R$ 900 milhões, está sendo investigado pelo Ministério da Justiça e Receita Federal.

A reportagem destacou ainda que a entrada de sócios estrangeiros foi a tábua de salvação da empresa, que fechou 2005 com prejuízos acumulados em mais de R$ 260 milhões e dívidas - que segundo o balanço da editora passavam de R$ 68 milhões - que o patrimônio da empresa não era suficiente para cobrir.

Segundo a emissora, a Justiça brasileira quer saber detalhes dos contratos, que a editora fez questão de manter sob sigilo. O Jornal da Band teve acesso aos documentos, “cheios de pontos obscuros”. “Agora, a Justiça quer saber todos os detalhes dos negócios da Abril com grupos estrangeiros como Viacom e a sul-africana Naspers, de histórico racista”, revelou o repórter Sandro Barbosa.

“A Band teve acesso aos contratos milionários firmados entre a Naspers e a Editora Abril. Os detalhes que a empresa brasileira tanto quis esconder agora vêm à tona. Os contratos são redigidos em inglês. Parte da transação foi feita com investidores norte-americanos que já possuíam ações da editora. Mais de US$ 170 milhões sequer passaram pelo Brasil. O dinheiro foi depositado em bancos dos Estados Unidos. No restante dos negócios, os sócios brasileiros também receberam cifras altas. Mas o que chama atenção no contrato é a cláusula que concede o controle da Abril para quem tiver mais de 50% das ações. A lei brasileira determina que, além de deter mais da metade das ações, a pessoa tem que exercer efetivamente esse poder, o que não fica claro no contrato”, ressaltou a reportagem.

O advogado Walter Vieira, entrevistado pela emissora, opinou: “Eu acho estranho que um grupo estrangeiro que compre um ativo tão importante, como são 30% do capital social da editora Abril, adquira também, junto com esse patrimônio, direitos políticos, como os de eleger membros do Conselho de administração da Abril e ainda outros que estão num acordo de acionistas que é mencionado em todos os documentos a que a Band teve acesso, mas que continua desconhecido para as autoridades do Brasil”.

A série de denúncias da emissora continuou, em nova matéria exibida no Jornal da Band, da última terça-feira: “Uma empresa que só existe no papel conseguiu a façanha de comprar parte da Editora Abril”, enfatizou o repórter, referindo-se à transação com a Naspers. “Uma análise mais detalhada dos contratos mostra a existência de uma empresa brasileira no negócio, a MIH Brasil Participações. Tentamos localizar a MIH, descobrimos um emaranhado de endereços de uma empresa, a Curundéia, que não possui funcionários e sede, mas, mesmo tendo um capital social pequeno, realizou um dos maiores negócios da comunicação, no ano passado, no país”.

A reportagem checou os endereços, número de telefone e CNPJ atribuídos às empresas nos contratos, constatando que as informações eram falsas. Na Receita Federal, descobriu-se que a Curundéia tem três donos: A MIH (UBC) Holdings BV, a Myriad International Holdings BV, as duas com sede fora do Brasil, e a Brian Vincent Forssman. O capital social registrado é de R$ 878 mil.

“Para comprar a parte das ações da Editora Abril, a empresa pagou mais de US$ 178 milhões, o equivalente a mais de R$ 380 milhões, ou seja, a empresa virtual realizou um negócio 435 vezes maior que o seu suposto capital social. A empresa sul-africana Naspers, considerada racista, é uma das donas da MIH, que as autoridades brasileiras não reconhecem. Oficialmente, a MIH é conhecida como Curandéia, uma empresa virtual que só existe no papel”, completou Sandro Barbosa.
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