Atraso na entrega de vestido de noiva leva costureiro a pagar R$ 8 mil
Noiva foi à Justiça pedir indenização e diz que recebeu vestido inacabado em cima da hora. Mesmo condenado, valor é pequeno perto dos R$ 150 mil pedidos pelo casal.
Cláudia Loureiro Do G1, no Rio
Uma noiva viveu momentos de angústia antes do famoso 'Dia D'. Chateada com a situação, ela foi à Justiça reclamar seus direitos. Uma decisão da 17ª Vara Cível condenou o costureiro Guilherme Guimarães a pagar uma indenização de R$ 8 mil por danos morais por ter atrasado a entrega do vestido de noiva. Apesar da condenação, o costureiro pode comemorar, já que o montante pedido pelo casal era de R$ 150 mil. “Interpretamos a sentença como uma vitória”, falou satisfeita a advogada Alice Franco, que representa o costureiro.
A notícia foi publicada na coluna do jornalista Ancelmo Gois em O Globo. A decisão é da juíza Teresa Andrade Castro. Tanto o casal como o costureiro podem recorrer ao Tribunal de Justiça. Nesse caso, a sentença pode ser mantida, reformada para inocentar o costureiro ou agravar a condenação.
Com o casamento marcado para o dia 10 de março de 2006, a noiva conta que contratou verbalmente os serviços de Guilherme por R$ 13.680 (valores atuais) e que o vestido deveria ser entregue até as 18h do dia do casamento. Mas não foi isso que aconteceu.
O advogado Leonardo Rzezinski, que representa o casal, explica que poucos antes da cerimônia, o vestido não tinha sido entregue. Sem conseguir localizar o costureiro e vendo a hora passar, uma ajudante do ateliê acabou levando a roupa ao local da cerimônia, mas a noiva continuou nervosa porque o modelo não estava pronto. Segundo ela, ajustes foram feitos às pressas para evitar o cancelamento do casamento. Diz o processo: “....os autores sustentam que o vestido de noiva não estava totalmente pronto, faltando os ajustes finais, como a bainha, e em tom de cor diverso do que havia sido acordado.” Por conta do imprevisto, a cerimônia teria atrasado três horas e alguns convidados teriam ido embora, sem participar do casamento. “Uma noite que é para ser a grande noite na vida de uma mulher e ninguém sabia se teria o casamento. Guilherme alega que houve confusão na data do casamento porque o convite não foi entregue. Mas quando a gente contrata, a entrega do vestido não está condicionada à entrega do convite. Isso não justifica”, explica.
Costureiro não cobrou pelo vestido
Em defesa do costureiro, a advogada Alice Franco argumenta que o vestido estava pronto, mas reconhece o atraso na entrega e por isso seu cliente abriu mão de cobrar pelo trabalho. “O casamento foi numa sexta, mas Guilherme se confundiu e pensou que a cerimônia fosse no sábado. Mas a juíza decidiu que o vestido estava perfeito porque viu fotos, vídeo e o próprio vestido que foi apresentado. Ele estava perfeito no corpo da menina.” Sobre o comprimento do vestido, a advogada fala que, durante as provas do vestido, foi pedido que a noiva levasse o sapato que iria usar no dia da cerimônia para que a bainha fosse feita com perfeição. O que, segundo ela, nunca aconteceu. E mais, sobre o paradeiro do profissional no dia do casamento, ela limita-se a esclarecer: “Ele não foi encontrado porque não estava em casa. Às vezes ele gosta de ficar hospedado em um hotel perto de casa.” A decisão da juíza acabou beneficiando o costureiro e fala “em culpa concorrente”, o que significa que ambas as partes do processo tiveram responsabilidade no episódio. Apesar de condenado, o costureiro não pode reclamar. O valor arbitrado está longe dos R$ 150 mil pedidos pelo casal. Em sua decisão, a juíza é clara: “....fixar um valor exorbitante seria um ato de injustiça, já que a autora contribuiu para o defeito na prestação e o dano alegado não corresponde ao efetivamente comprovado, o que ensejaria um ganho sem causa aos autores, que estariam recebendo uma indenização muito acima do dano moral sofrido.”
'Tem que doer no bolso', diz advogado da noiva
O advogado do casal diz que vai recorrer e que o objetivo não é enriquecer com o processo, mas reconhecer a lesão e ver que o réu foi exemplarmente penalizado.
“A questão aqui não é o dinheiro. Meus clientes moravam no Leblon e estão de mudança para São Paulo. Achamos que esse valor da sentença não é condizente com o dano causado à noiva. Houve a ameaça do casamento não se realizar. A mãe da noiva chegou a desmaiar de nervosismo. Para um cara que cobra R$ 10 mil ou R$ 15 mil, ele vai pagar R$ 8 mil de indenização sorrindo. Ele tanto reconheceu que pisou na bola, que não cobrou o vestido. Tem que doer no bolso, senão a sentença perde o caráter pedagógico.” Bem mais satisfeita com a decisão em 1ª instância da Justiça, a representante do costureiro diz que ainda não conversou com seu cliente sobre a possibilidade (ou não) de entrar com um recurso. "Ele se divide entre os dois ateliês no Rio e em São Paulo e ainda não tive oportunidade de tratar do assunto", fala tranqüila.