A Associação dos Familiares dos Reeducandos Nova Ordem, constituída em 25 de julho de 2005 e comandada até agosto do ano passado por quatro ex-policiais - três civis e um federal -, era apenas mais um braço do Primeiro Comando da Capital (PCC). Disfarçada de entidade interessada na defesa dos direitos e recuperação de presos, a ONG se limitava a lavar o dinheiro ilícito da facção criminosa, atender aos pedidos dos líderes, e funcionar como uma espécie de assessoria de imprensa da organização, segundo a Polícia Civil.
Foi essa última atribuição da entidade que acabou levando o ex-policial civil Ivan Raymond Barbosa, seu braço direito Anderson Luiz de Jesus, o Boi, e Simone Barbaresco para a cadeia, anteontem. Barbosa ocupava o cargo de presidente e Simone, o de vice, na instituição. Os três serão indiciados por formação de quadrilha e seqüestro.
Segundo o delegado Ruy Ferraz Fontes, titular da Delegacia de Roubo a Banco do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), os três estão envolvidos no planejamento do seqüestro do repórter Guilherme Portanova e do auxiliar-técnico Alexandre Calado, ocorrido em agosto passado.
No mês de maio, logo após primeira e mais sangrenta onda de atentados ordenadas pela facção, os presos Cláudio Rolim de Carvalho, o Polaco, marido de Simone, e Wilson Cuba Júnior, o Rabugento, começaram a exigir a divulgação de um manifesto do PCC nas mídias.
"Esse foi o grande objetivo deles no seqüestro do repórter Portanova. O Ivan por intermédio da Nova Ordem começou a insistir, com diversos e-mail enviados aos jornalistas, para que ela abrisse espaço a fim de transmitir o recado da facção, mas a imprensa não deu esse espaço." Três meses depois, Portanova foi seqüestrado. E, para libertar o repórter vivo, o PCC exigiu que a Rede Globo exibisse um vídeo, em que eles reclamavam de maus-tratos e opressão carcerária.
Cinco dias depois, os policiais interceptam uma ligação de Boi, em que ele conta para a mulher que conseguira passar por um bloqueio da PM, na favela de Interlagos, mas que o Douglas Dias de Moraes, o Du, fora preso. Na chamada, ele conta para a mulher que Du, além de ter participado do seqüestro, também tinha ajudado a elaborar o vídeo, com o manifesto do PCC, entregue à Rede Globo.
Notas fiscais e documentos apreendidos com os diretores revelaram também que era o PCC que pagava o aluguel do imóvel usado como sede da Nova Ordem, viagens e despesas de hotéis dos diretores, além de colchões, produtos de higiene e limpeza e comida para presos do Litoral.