Fumo de corda, artigos de pesca, ração animal, pastel, grãos, lingüiças, carne-de-sol, queijos, doces e até pinico são alguns dos produtos encontrados no Mercado Municipal de Ribeirão Preto (314 km ao norte de São Paulo), que em setembro completa 107 anos.
Cerca de 6.000 pessoas, 25% delas de outras cidades, passam pelo local diariamente, segundo a Associação dos Comerciantes do Mercado Municipal. O público é diverso: vai de estudantes atraídos pela fama do pastel a idosos que buscam fumo ou a companhia dos amigos.
Marcia Ribeiro/Folha Imagem |
Tradicional Mercado Municipal de Ribeirão Preto completa 107 anos no mês de setembro |
De acordo com o gerente da associação, José Cassimiro dos Santos, 65, o desenvolvimento comercial da cidade pode ser contado pelas bancas, a maioria passada de pai para filho. "Muitas formaram uma clientela fiel. Quem vem aqui confia nos comerciantes", diz.
O perfil dos comerciantes é tão variado quanto o dos clientes, mas todos apontam a cumplicidade com o consumidor como o "segredo do negócio". Maria Helena Pischiotini, 65, dona de dois boxes que vendem queijos, grãos e cereais, diz que a tradição é o que atrai a clientela. "Chega a ser uma relação de amizade."
A loja do pernambucano Daniel Camilo de Azevedo, 36, é um "poço dos desejos" consolidado há 36 anos. Ali encontram-se brinquedos que há muito tempo não são vendidos, como o mamulengo e o bilboquê. "Antes, vendíamos frutas, legumes e verduras. Depois, passamos para balaios e artesanato. Basicamente, hoje temos produtos vindos do Nordeste, que não se vêem mais em lojas."
Outra figura tradicional no mercado é Pedro Deraldo Villa, 58, dono da Tabacaria do Pedrão, instalada há 44 anos. Ele afirma que hoje adivinha o que o cliente vai comprar assim que esse chega a sua loja. "É muito tempo fazendo a mesma coisa no mesmo ponto. Então, a gente já sabe o que cliente vai levar. O diferencial do fumo é o ritual."
O comerciante Romildo Eugênio Calfapietro, 69, há dez anos em seu box de grãos, cereais, utensílios domésticos e outras particularidades, diz: "Aqui eu vendo até pinico. São coisas antigas, que em determinadas situações têm utilidade. É só vir aqui que encontra".
Clientes
A família do comerciante Luís Alberto Magnani, 37, passeia no Mercadão aos sábados. "O ribeirãopretano precisa valorizar o patrimônio. É uma riqueza cultural sem igual."
Nascido em Cássia (MG), o pintor Carlos Roberto de Oliveira, 47, há 30 anos em Ribeirão, é assíduo freqüentador. "Venho sempre buscar o queijo minas. Em supermercados, eu não encontro os produtos frescos como aqui."
O comerciante Luiz Sérgio Nogueira de Almeida, 50, visita a loja de pesca para ouvir histórias de pescaria. "Aqui é lugar para jogar conversa fora e beber cerveja. A loja de pesca é apenas uma desculpa", diz.