Ainda Mato Grosso (30 anos)

Faltando exatamente trinta e sete dias para comemorar (?) trinta anos de sua criação, o Mato Grosso do Sul continua sendo Mato Grosso, pelo menos para boa parte dos grandes veículos da imprensa brasileira. A Rede Globo, principalmente, parece que resolveu riscar de vez do mapa do Brasil o Estado que nasceu para ser modelo de desenvolvimento nacional e que, para ela, só interessa quando mostrado como corredor do narcotráfico e esconderijo preferencial dos chefões do crime organizado.
Em sua programação jornalística, sempre dando destaque ao lado negativo do Estado, de veeeez em quando eles se referem àquele naco do Mato Grosso desmembrado em 1977 como Mato Grosso do Sul. Mas só de vez em quando! E assim mesmo, quando os repórteres de rede aqui sediados, como Claudia Gaigher e Honório Jacometo, conseguem emplacar suas matérias. Aliás, nos últimos tempos eles têm entrado bastante no Jornal Nacional e no Fantástico, desde que foi desmantelada a máfia dos caça níqueis comandada por Nilton Cesar Cervo e, mais recentemente, com a chegada do segundo homem mais perigoso do mundo – o narcotraficante Juan Carlos Abadia.
Fora isso, na programação de variedades, incluindo-se aí o bem informado e esnobe Jô Soares, só dá Mato Grosso sem o "do Sul". Os exemplos mais recentes vêm de duas das principais novelas da emissora. Há poucos dias, em "Sete Pecados", a personagem de Maria Zilda Belém, ao se referir a Campo Grande disse que a cidade morena é a capital de Mato Grosso. Na última quinta-feira, em "Paraíso Tropical", Olavo, o pilantra mau caráter interpretado por Vagner Moura, ao levar uma surra do irmão Ivan, de Bruno Gagliasso, disse que não ficaria com um pingo de remorso se o gigolô, namoradinho e principal suspeito do assassinato da vilã Thaís Grimaldi, passasse o resto da vida "numa segurança máxima do Mato Grosso".
Claro que ao rogar praga ao irmão, Olavo se referia ao Mato Grosso do Sul, provavelmente influenciado pelo recall da transferência do colombiano Abadia para Campo Grande e pelo ibope que deu a chegada, uns dias antes, de outro ilustre companheiro, o Fernandinho Beira-Mar, já que não se tem notícia da construção de nenhuma dessas jóias do sistema carcerário brasileiro lá pelos lados de Cuiabá. Pelo contrário, o "cadeião" Pascoal Ramos, onde está "hospedado" o não menos ilustre João Arcanjo Ribeiro, está caindo aos pedaços.
Pelo menos nisso o Mato Grosso do Sul tem do que se orgulhar, estando melhor que o Estado do qual foi gerado. Temos presídio moderno, de segurança máxima, um legítimo cinco estrelas, para o melhor conforto da bandidagem, como se pôde ver domingo passado em longa reportagem no Fantástico, claro, na rede Globo.
A trinta e sete dias do aniversário de trinta anos do Mato Grosso do Sul, isso tudo nos faz voltar trinta e sete anos no tempo, quando o jornalista Theodorico Luiz Viegas foi preso por criticar o governador José Fragelli, pela intenção de construir uma penitenciária de segurança máxima em Dourados, ainda Mato Grosso. E parar para pensar se Zeca do PT, que tanto insistiu para mudar o nome do Mato Grosso do Sul para Estado do Pantanal, não tinha lá suas razões.

* jornalista:
valfridosmelo@globo.com
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