OBITUÁRIO-Na infância,Pavarotti sonhava em ser craque de futebol
MILÃO (Reuters) - Como tantos meninos italianos, Luciano Pavarotti costumava sonhar em ser um craque dos gramados. De fato, chegou ao estrelato e conseguiu lotar estádios, mas graças à música e à ópera, e não ao seu talento futebolístico.
Pavarotti morreu nas primeiras horas de quinta-feira, após lutar contra o câncer de pâncreas. Ele tinha 71 anos.
O tenor, considerado por muitos como o melhor de sua geração, chegou à fama depois de uma apresentação como substituto no Covent Garden de Londres, em 1963, e logo os críticos se derramavam por sua voz encorpada.
Talvez seu maior presente ao mundo da música tenha sido quando se juntou aos astros espanhóis Plácido Domingo e José Carreras, durante a Copa da Itália de 1990, e introduziu a ópera clássica para milhões de torcedores de futebol mundo afora.
As vendas de discos de ópera dispararam depois que aquele concerto de gala nas Termas de Caracalla, em Roma, foi transmitido para 800 milhões de pessoas, com destaque para a melodia de "Nessun Dorma", de Puccini.
Nascido em 1935, Pavarotti tinha um pai bancário que gostava de cantar e uma mãe que trabalhava em uma fábrica de cigarros. Eles viviam de forma modesta em um pequeno apartamento na cidade ao norte da Itália de Modena, mas partiram para a cidade grande durante a Segunda guerra Mundial.
Seus pais o queriam em um emprego estável, e durante um tempo o tenor trabalhou como vendedor de seguros e professor.
Mas, paralelamente, começou a cantar no circuito da ópera. Seu golpe de sorte ocorreu graças a outro ídolo italiano, Giuseppe di Stefano, que teve de abandonar a montagem de "La Bohème", em Londres, em 1963. O Covent Garden havia escalado "aquele jovem grande" como possível substituto, e assim nascia uma estrela.
Mais de 40 anos depois, Pavarotti continuava sendo um dos cantores líricos mais bem pagos do mundo, embora suas apresentações em público fossem cada vez mais raras -- em geral, concertos beneficentes ao lado de pop stars como Bono, do U2.
Nas últimas vezes em que subiu ao palco, Pavarotti era criticado pela falta de mobilidade, ocupando o centro do palco para as árias, sem as sutilezas cênicas de tantos cantores modernos.
Também era mal-visto por abandonar óperas na última hora, como uma diva, e por não conseguir atingir todas as notas -- o que para os críticos era sinal de que sua voz já não tinha mais energia para mais do que duas peças em cada apresentação.
Em 1992, ele admitiu ter feito "playback" durante uma apresentação, por não ter se preparado bem. Ele ofereceu pagar à BBC o custo total da transmissão.
AMOR JOVEM
Quando a estrela do já sexagenário Pavarotti se apagava nos palcos, ele descobria uma nova vida pessoal, trocando a mulher com quem fora casado durante 37 anos por uma assistente 34 anos mais nova -- mais jovem, aliás, que as três filhas dele.
O tenor barbudo se casou com Nicoletta Mantovani após um amargo divórcio, mas sua vida não virou um mar de rosas.
Nicoletta estava esperando gêmeos, mas a gravidez se complicou e o menino Riccardo nasceu morto, em janeiro de 2003, quase um ano depois da morte de ambos os pais de Pavarotti.
Arrasado pela perda do único filho, Pavarotti devotou então todo seu amor à irmã gêmea de Riccardo, Alice, a quem dedicou seu primeiro disco solo em 15 anos -- desta vez com pop suave ao invés de ópera. "Ti Adoro", era o nome do disco.
Pavarotti se recusava a cantar em casa, "nem no chuveiro", mas certa vez disse que a única forma de fazer Alice parar de chorar era cantar mais alto do que ela. Assustada, a menina fazia silêncio.
Em outubro de 2005, quando completou 70 anos, Pavarotti iniciou a "Turnê da Despedida", mas vários shows foram cancelados, inclusive um no Brasil, nos meses seguintes por problemas de saúde. Em dezembro de 2006, ele foi agraciado com um prêmio da Fundação do Festival Pucini, de Viareggio, Itália.
Perfeccionista, ele dizia que não conseguia ouvir suas próprias gravações, porque escutava todas as notas erradas.
"Minha idéia de pesadelo é ser convidado para um jantar e alguém colocar um disco meu. Isso me tiraria o apetite imediatamente", afirmou certa vez numa entrevista.
Pavarotti era chamado carinhosamente de "Grande Luciano", mas reduzir sua cintura foi uma luta inglória. Os 175 quilos de peso se refletiram em cirurgias de joelho e quadril e também pesaram na sua voz.
Outras marcas vieram das suas complexas finanças, que abrangiam da casa da família em Modena até à sua residência em Nova York, sempre atraindo hordas de fiscais tributários. Em 2000, ele fez um acordo para resolver uma disputa de quatro anos e pagou mais de 12 milhões de dólares em impostos atrasados ao governo italiano.
Em julho deste ano, o tenor se submeteu a uma operação em Nova York devido a um câncer de pâncreas e se recolheu em Modena.
Pavarotti foi levado ao hospital em Modena por um quadro febril no mês passado. Ele teve alta em 25 de agosto, após permanecer mais de duas semanas fazendo exames e tratamentos.
MILÃO (Reuters) - Como tantos meninos italianos, Luciano Pavarotti costumava sonhar em ser um craque dos gramados. De fato, chegou ao estrelato e conseguiu lotar estádios, mas graças à música e à ópera, e não ao seu talento futebolístico.
Pavarotti morreu nas primeiras horas de quinta-feira, após lutar contra o câncer de pâncreas. Ele tinha 71 anos.
O tenor, considerado por muitos como o melhor de sua geração, chegou à fama depois de uma apresentação como substituto no Covent Garden de Londres, em 1963, e logo os críticos se derramavam por sua voz encorpada.
Talvez seu maior presente ao mundo da música tenha sido quando se juntou aos astros espanhóis Plácido Domingo e José Carreras, durante a Copa da Itália de 1990, e introduziu a ópera clássica para milhões de torcedores de futebol mundo afora.
As vendas de discos de ópera dispararam depois que aquele concerto de gala nas Termas de Caracalla, em Roma, foi transmitido para 800 milhões de pessoas, com destaque para a melodia de "Nessun Dorma", de Puccini.
Nascido em 1935, Pavarotti tinha um pai bancário que gostava de cantar e uma mãe que trabalhava em uma fábrica de cigarros. Eles viviam de forma modesta em um pequeno apartamento na cidade ao norte da Itália de Modena, mas partiram para a cidade grande durante a Segunda guerra Mundial.
Seus pais o queriam em um emprego estável, e durante um tempo o tenor trabalhou como vendedor de seguros e professor.
Mas, paralelamente, começou a cantar no circuito da ópera. Seu golpe de sorte ocorreu graças a outro ídolo italiano, Giuseppe di Stefano, que teve de abandonar a montagem de "La Bohème", em Londres, em 1963. O Covent Garden havia escalado "aquele jovem grande" como possível substituto, e assim nascia uma estrela.
Mais de 40 anos depois, Pavarotti continuava sendo um dos cantores líricos mais bem pagos do mundo, embora suas apresentações em público fossem cada vez mais raras -- em geral, concertos beneficentes ao lado de pop stars como Bono, do U2.
Nas últimas vezes em que subiu ao palco, Pavarotti era criticado pela falta de mobilidade, ocupando o centro do palco para as árias, sem as sutilezas cênicas de tantos cantores modernos.
Também era mal-visto por abandonar óperas na última hora, como uma diva, e por não conseguir atingir todas as notas -- o que para os críticos era sinal de que sua voz já não tinha mais energia para mais do que duas peças em cada apresentação.
Em 1992, ele admitiu ter feito "playback" durante uma apresentação, por não ter se preparado bem. Ele ofereceu pagar à BBC o custo total da transmissão.
AMOR JOVEM
Quando a estrela do já sexagenário Pavarotti se apagava nos palcos, ele descobria uma nova vida pessoal, trocando a mulher com quem fora casado durante 37 anos por uma assistente 34 anos mais nova -- mais jovem, aliás, que as três filhas dele.
O tenor barbudo se casou com Nicoletta Mantovani após um amargo divórcio, mas sua vida não virou um mar de rosas.
Nicoletta estava esperando gêmeos, mas a gravidez se complicou e o menino Riccardo nasceu morto, em janeiro de 2003, quase um ano depois da morte de ambos os pais de Pavarotti.
Arrasado pela perda do único filho, Pavarotti devotou então todo seu amor à irmã gêmea de Riccardo, Alice, a quem dedicou seu primeiro disco solo em 15 anos -- desta vez com pop suave ao invés de ópera. "Ti Adoro", era o nome do disco.
Pavarotti se recusava a cantar em casa, "nem no chuveiro", mas certa vez disse que a única forma de fazer Alice parar de chorar era cantar mais alto do que ela. Assustada, a menina fazia silêncio.
Em outubro de 2005, quando completou 70 anos, Pavarotti iniciou a "Turnê da Despedida", mas vários shows foram cancelados, inclusive um no Brasil, nos meses seguintes por problemas de saúde. Em dezembro de 2006, ele foi agraciado com um prêmio da Fundação do Festival Pucini, de Viareggio, Itália.
Perfeccionista, ele dizia que não conseguia ouvir suas próprias gravações, porque escutava todas as notas erradas.
"Minha idéia de pesadelo é ser convidado para um jantar e alguém colocar um disco meu. Isso me tiraria o apetite imediatamente", afirmou certa vez numa entrevista.
Pavarotti era chamado carinhosamente de "Grande Luciano", mas reduzir sua cintura foi uma luta inglória. Os 175 quilos de peso se refletiram em cirurgias de joelho e quadril e também pesaram na sua voz.
Outras marcas vieram das suas complexas finanças, que abrangiam da casa da família em Modena até à sua residência em Nova York, sempre atraindo hordas de fiscais tributários. Em 2000, ele fez um acordo para resolver uma disputa de quatro anos e pagou mais de 12 milhões de dólares em impostos atrasados ao governo italiano.
Em julho deste ano, o tenor se submeteu a uma operação em Nova York devido a um câncer de pâncreas e se recolheu em Modena.
Pavarotti foi levado ao hospital em Modena por um quadro febril no mês passado. Ele teve alta em 25 de agosto, após permanecer mais de duas semanas fazendo exames e tratamentos.