BARBOSA Em ex-casa de colono, na região de Bebedouro, onde há sismógrafo digital instalado
Vai começar a temporada de tremores de terra na região de Bebedouro. O aviso é de José Roberto Barbosa, técnico do laboratório de Sismologia do Instituto de Astronomia e Geofísica, o IGA, da Universidade São Paulo (USP).
Esta semana, José Roberto montou seu quartel-general num hotel da cidade e visitou os locais onde o IGA instalou, desde 2005, seis sismógrafos digitais que captam e registram os tremores de terra.
Embora o sismógrafo mais sensível tenha apresentado defeito, o técnico do IGA detectou a propagação de microtremores de 0,3 a 0,5 na escala Richter. São tremores imperceptíveis mas indícios fortes de inquietação no subsolo e prenúncio de possíveis abalos.
Existe uma explicação técnica para fato de os tremores começarem justamente nesta época.
É que com a chegada das chuvas, o funcionamento de dezenas de poços tubulares usados na irrigação de laranjais entram em recesso. São poços perfurados em rochas, com mais de 100 metros de profundidade, e vazão entre 80 mil a 150 mil litros/hora.
A água da chuva, pressionada pelo primeiro lençol freático, cerca de sessenta metros do solo, infiltra-se pelas falhas e fraturas existentes nos poços.
O mecanismo de ação é simples: a água da chuva, ao se infiltrar nas falhas age como lubrificante. Isso faz com que a tensão de que a rocha é dotada naturalmente, seja liberada em forma de tremores. Pequenos tremores na maioria das vezes, mas com a possibilidade de abalo mais forte.
“Geralmente, os tremores aqui têm magnitude em torno de um grau na escala Richter. Eles assustam mais as pessoas que estão na região epicentral (distrito deAndes) mas não causam problemas além do pânico”, disse Barbosa.
Esse processo, entretanto, não ocorre quando os poços estão em funcionamento, bombeando água normalmente. A água puxada do lençol não penetra nas fraturas.
Com a certeza de que novos tremores virão, como tem ocorrido nos ultimos três anos, o galpão ao lado da igreja Nossa Senhora Aparecida, em Andes, já recebeu faxina da prefeitura. É lá que se refugiam as famílias mais afetadas e assustadas pelos abalos.
José Roberto Barbosa explica que os tremores em Bebedouro não têm nada a ver com o terremoto que sacudiu o norte de Minas. O técnico disse que o fenômeno de Caraíbas tem outra característica.
“Lá não existe a mão do homem. Foi um abalo natural, produto de uma falha geológica, em placas tectônicas, com sismo que chegou a 4,9 na escala Richter.”
A pequena Andes é o epicentro dos sismos
Não faz muito tempo, o brasileiro ufanava-se do fato de não conviver com terremotos. Os técnicos diziam que os tremores limitavam-se à Cordilheira dos Andes. E foi no final de 2004, por ironia, que o povoado de Andes, distrito de Bebedouro, começou a sofrer pequenos abalos. Os moradores imaginavam que fossem explosões em pedreiras. A terra chiava e as criações - cavalos, cães e galinhas - eram os que mais sentiam. Pediram ajuda à USP. Três meses depois, mais exatamente em 30 de março de 2005, Andes, pouco mais de 300 habitantes, foi chacoalhada por um sismo de 2,9 na escala Richter. No dia seguinte, outro abalo de 2,8 graus. Depois disso, no fim e começo dos últimos três anos, a terra tremeu na região de Bebedouro. Em 15 de junho deste ano, o IGA registrou tremor de 2,2 e dezenas de pequenos abalos.