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No sistema digital, telas de cristal líquido têm informações sobre o cantor, a escalação do time e até acesso à Internet

NA PAULA PEDROSA
Na última quinta-feira começou mais uma rodada de testes do rádio digital no Brasil. O novo sistema ainda não tem data para ser implantado, mas promete revolucionar a maneira como o brasileiro ouve rádio. O próprio verbo ouvir deixará de ser o único na relação entre o usuário e o aparelho. "A gente não pode nem imaginar a quantidade de serviços que serão agregados", diz o presidente da fundação e coordenador de pesquisas do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Adonias Costa da Silveira.

A primeira mudança será na aparência dos aparelhos, que passarão a ter tela de cristal líquido para exibir informações no painel. Essas informações serão enviadas pelas emissoras e poderão ser selecionadas pelo ouvinte. Assim, durante uma partida de futebol, por exemplo, será possível consultar a posição do time na tabela e os resultados das outras partidas da rodada. Quando estiver tocando uma música, o usuário poderá descobrir quem são o cantor e o compositor e em qual álbum a canção foi gravada. Além desses, Adonias da Silveira diz que outros serviços poderão ser agregados, como acesso à Internet, por exemplo.

AM com som de CD

O rádio digital vai melhorar muito a qualidade do som, fazendo com que as transmissões das emissoras tenham som semelhante ao do CD tanto em AM quanto em FM. As transmissões não terão chiados ou zumbidos e terão alcance muito maior que as das rádios atuais. Tanto que o sinal das rádios que participarão dos testes iniciados na última quinta-feira em São Paulo poderão ser captados em cidades como Belo Horizonte e Porto Alegre.

Os testes foram autorizados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e serão conduzidos pelo Instituto Mackenzie. Segundo o professor Fujio Yamata, da equipe de pesquisa da Escola de Engenharia e do Grupo de Trabalhos em Transmissão Digital, os testes devem ser concluídos em três meses. Ele explica que esses experimentos serão realizados com o padrão norte-americano (Iboc).

De acordo com o a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), serão testados os melhores locais para que os transmissores emitam sinais analógicos e digitais. Serão considerados cobertura e características técnicas para cada emissora. Participam dos testes as rádios Bandeirantes e Globo, ambas FM, e Cultura (AM). Haverá testes também com o padrão europeu (DRM).

A Anatel explica que os testes não afetarão o ouvinte porque todos os receptores usados atualmente são analógicos. Ainda não há data prevista para o fim do período de testes nem para a escolha do padrão. Quando terminarem os testes, a Anatel enviará ao Ministério das Comunicações um relatório com as conclusões. O ministério também fará uma análise dos resultados e indicará um padrão. A decisão final será tomada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A expectativa é que a partir da publicação do decreto com o padrão haja um período de transição entre as tecnologias, como vai ocorrer com a TV. O prazo deve ser de dez anos. Os aparelhos móveis, como os automotivos, ou portáteis, como os celulares, devem ser os primeiros a conquistar o consumidor porque têm preços mais baixos que os equipamentos de som instalados nas residências. Sem padrão definido, não há como calcular o preço dos equipamentos.

Exigência de padrão nacional deixou equipamento para o fim


A digitalização do rádio acompanha a tendência de outros meios de comunicação, como o telefone, os sistemas de som, que hoje funcionam com CDs ou MP3 e não mais com vinil e fitas cassete, e, mais recentemente, a televisão. “O rádio e a TV ficaram por último porque dependem de um padrão único para todo o país”, explica o presidente da Fundação Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Adonias da Silveira.

A telefonia foi a primeira a surfar na onda, no final da década de 90, quando as plantas fixas e móveis começaram a deixar a tecnologia analógica, o que significou agregar uma infinidade de serviços. Os aparelhos, que até então serviam apenas para conversar, passaram a oferecer caixa postal, identificador de chamadas e outros diferenciais.

No celular a mudança foi mais evidente. Os modelos cada vez menores se tornaram também cada vez mais poderosos. Hoje eles fazem quase tudo, como enviar e receber mensagens, tocar música, tirar fotos, filmar, acessar a Internet e exibir programas de TV onde o sinal digital é transmitido (atualmente apenas São Paulo).

Hoje, celulares analógicos são raridade e representam apenas 0,02% das mais de 116 milhões de linhas ativas no país, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Da mesma forma, discos de vinil e fitas cassete viraram objetos de museu ou peças de colecionador. Com a TV, o processo vai se estender até 2016, quando acaba o prazo de transmissão e o sinal analógico será extinto. Até lá, todos os brasileiros devem ter um aparelho que receba a nova tecnologia ou um settop- box, que converte o sinal. (APP)

Padrão pode ser importado com toque nacional



O Brasil pode adotar um padrão misto de rádio digital, com características do modelo europeu (DRM) e do norteamericano (Iboc) ou com um dos dois (ou mesmo os dois) acrescido de inovações nacionais. Os dois sistemas são os únicos que estão na disputa porque só eles permitem que se use a mesma freqüência do analógico para a transmissão digital. Isso é necessário porque não existem freqüências sobrando para ofertar mais um canal para que cada rádio transmita as duas tecnologias no período de transmissão, como está sendo feito com a televisão.

As rádios em ondas médias (AM) são contempladas pelos dois sistemas. No entanto, o norte-americano não faz transmissões em ondas curtas (OC) e o europeu não contempla a FM. As OCs são necessárias porque somente elas alcançam regiões remotas do país, como a Amazônia. As rádios de ondas curtas chegam também aos países vizinhos e podem ser ouvidas por brasileiros que estejam em viagem ou morem no exterior. Em casos extremos, como uma guerra, o sistema serve para realizar a comunicação entre os países. (APP)
http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdEdicao=797&IdCanal=5&IdSubCanal=&IdNoticia=66605&IdTipoNoticia=1
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