Al-Qaeda é acusada de treinar crianças iraquianas para operações terroristas

BAGDÁ (AFP) — O comando americano no Iraque acusou nesta quarta-feira o braço da Al-Qaeda no país de treinar crianças para operações terroristas, apresentando à imprensa o que considera ser trechos do "vídeo de propaganda" da organização extremista.

O porta-voz da coalizão Gregory Smith

Segundo um porta-voz da coalizão, o contra-almirante Gregory Smith, cinco vídeos foram apreendidos no dia 4 de dezembro pelo Exército americano durante uma operação visando a líderes da al-Qaeda em Khan Bani Saad, na província de Diyala (norte de Bagdá).

Trechos dos vídeos apreendidos foram apresentados à imprensa nesta quarta-feira. Eles mostram crianças com idades entre 10 e 15 anos brandindo armas de todos os tipos: pistolas, kalachnikovs, metralhadoras PKM. Usando camisas de futebol, elas têm seus rostos tapados por tocas negras.

A autenticidade destas imagens não pôde ser confirmada por fontes independentes.

Sob as instruções de um adulto, também com o rosto coberto por um capuz, as crianças bloqueiam um ciclista em uma barreira e o forçam a ficar de joelhos com uma pistola apontada contra sua cabeça. Eles também param um veículo e retiram um de seus ocupantes sob ameaças.

Em uma outra seqüência, as crianças aprendem a se movimentar entre muros em ruínas, tomam posição em um palmeiral antes de atacar uma casa e de aprisionar seus ocupantes, sempre monitorados por homens adultos encapuzados.

Várias seqüências são rodadas nas ruas de uma pequena cidade não identificada.

"Parece que são famílias da mesma tribo, com os adultos que treinam seus filhos", comentou o contra-almirante Smith, alegando não saber a identidade e o destino destas crianças.

"A utilização de crianças é uma tendência preocupante", afirmou, fazendo referência aos recentes atentados suicidas cometidos, segundo o Exército americano, por adolescentes de quinze anos.

O porta-voz reconheceu, entretanto, não ter estatísticas precisas a respeito do assunto.

"Trata-se de um vídeo de propaganda com o objetivo de recrutar outras crianças", assegurou o general Mohammed al-Askari, porta-voz do Ministério iraquiano da Defesa.

"Al-Qaeda quer envenenar as gerações futuras", acusou o general Askari. "Esses vídeos são um novo sinal do desespero da al-Qaeda" que "sofreu pesadas derrotas e é pouco a pouco desmantelada graças a nossas operações", afirmou, considerando "repugnante" a utilização de crianças.

Segundo o Exército americano, pelo menos dez crianças cometeram atentados suicidas desde janeiro de 2007 no Iraque. Os dois últimos ataques contra dois mercados de animais de Bagdá, no dia 2 de fevereiro, deixaram dezenas de mortos. Eles foram praticados por adolescentes com problemas mentais, segundo autoridades americanas e iraquianas.

As duas meninas foram identificadas por testemunhas graças a fotos, afirmou Askari.

Durante a mesma entrevista coletiva à imprensa, também foi apresentado um vídeo mostrando uma operação realizada por forças de segurança iraquianas para libertar um jovem seqüestrado por cinco supostos membros da al-Qaeda na região de Kirkuk (norte).

Segundo Askari, a criança, de 10 anos, é o filho de um mecânico e seus seqüestradores exigiam um resgate de 1.000 dólares para sua libertação, ameaçando decapitá-lo.

"Os cinco seqüestradores foram presos e uma outra rede especializada em seqüestros foi desmantelada", segundo Askari, cujas afirmações não foram confirmadas por fontes independentes.