Padre sob denúncia de pedofilia se suicida

Vista do convento de Capuchinhos de Moncroix, em Delemont: o caso do padre pedófilo que vive no convento causa polêmica na Suíça.
Legenda da foto:
Vista do convento de Capuchinhos de Moncroix, em Delemont: o caso do padre pedófilo que vive no convento causa polêmica na Suíça. (Keystone)

O suicídio de um padre acusado de pedofilia faz com que o Conselho da Imprensa discuta a abertura de um inquérito sobre o papel da mídia no caso. A Igreja era pressionada até por blogs a revelar a identidade do clérigo.

Na carta de despedida, ele responsabilizou à imprensa pela sua morte. O caso, que ocupa há duas semanas as manchetes do país, obrigou autoridades da Igreja a instaurar uma comissão de inquérito e se desculpar publicamente às vítimas.

O padre de 45 anos de idade deu um tiro com a arma do exército no próprio coração na noite de domingo. O suicídio foi confirmado pelo porta-voz da polícia cantonal de Neuchâtel, Pascal Luthi, durante coletiva de imprensa.

Segundo o Vicariato de Neuchâtel, o religioso não suportou mais a pressão social. Na sua carta de despedida, ele acusou a pressão da mídia como responsável pelo seu ato trágico.

Há duas semanas o tema domina as manchetes da imprensa. O protesto também foi refletido na Internet através de blogs e sites. Em um deles, os autores faziam pressão pública para que a Igreja revelasse a identidade do clérigo.

Para Dominique von Burg, presidente do Conselho da Imprensa, órgão de autocontrole da mídia helvética, os órgãos de imprensa do país exageraram na cobertura do caso. Ele lembrou do perigo do "linchamento" público e ao direito de perdão em um caso onde os crimes já estão prescritos. "Como em qualquer crime, os jornais deveriam ser mais cuidadosos e respeitar a ética". O Conselho irá debater nos próximos dias a possibilidade de abrir um inquérito para investigar a cobertura jornalística no caso do padre pedófilo.

"Uma questão muito crítica foi a publicação de fotos dessa pessoa, sem esconder o seu rosto", criticou von Burg. Para o antigo redator-chefe do jornal "Tribune de Genève", outro problema grave foi um blog criado por pessoas indignadas. "Os autores não se comportaram como jornalistas".

Porém von Burg relativiza a crítica. "Em primeiro lugar, a imprensa também cumpriu seu dever. Esse problema foi omitido por muito tempo pela Igreja. Eu acho legitimo escrever e falar abertamente sobre ele", defende.

Prescrição

O padre havia sido denunciado em 2001 pelas vítimas. Ele teria abusado várias vezes de menores de idade nos anos 80, o que faz com que seus supostos crimes estejam prescritos por lei. Por essa razão a polícia não abriu inquérito. Nos últimos anos o religioso era acompanhado por médicos e não trabalhava mais com crianças. Seu enterro ocorreu na quarta-feira (seis de fevereiro).

O suicídio coloca um ponto final na história desde que o caso. A gravidade das denúncias e a repercussão na imprensa obrigaram as autoridades religiosas a se pronunciar. No final de janeiro, Bernard Genoud, bispo de Lausanne, Genebra e Friburgo, pediu publicamente desculpas às vítimas. "Ler sobre casos de pedofilia nos jornais foi algo que me abalou profundamente. Muitas vezes e por muito nos calamos na Igreja e na sociedade sobre os casos de pedofilia", declarou.

O bispo declarou no momento que a Igreja estava instaurando uma comissão de inquérito para investigar as denúncias de abusos sexuais cometidos por clérigos. Duas queixas - uma contra o padre do cantão de Friburgo e outra contra um padre de Genebra - também foram formalizadas oficialmente pela Dioceses na justiça cantonal.

swissinfo com agências

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