Cúpula da Secretaria de Segurança Pública culpou a empresa fornecedora do equipamento pelo incidente
A polêmica idéia da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de utilizar compartimentos de carga para alojar presos de delegacias durante o Carnaval demonstrou toda a sua fragilidade. Uma falha do fornecedor, segundo a cúpula da SSP, provocou a fuga de oito detentos na noite de sexta-feira.
Eles utilizaram o próprio material de revestimento do contêiner para abrir um buraco no piso e escaparam pelo matagal, pulando o alambrado que cerca uma das laterais do Complexo Penitenciário Lemos Brito. Nenhum dos policiais encarregados de fazer a guarda dos contêineres percebeu a movimentação dos presos. Dos oito fugitivos, três haviam sido recapturados até o final da tarde de ontem.
Segundo o diretor geral da SSP, André Fernandes Brito, os presos arrancaram uma chapa de aço, de 1,5mm de espessura, que separa a pia instalada no compartimento do sifão. Com a chapa, abriram um buraco de cerca de 30cm x 20cm no piso de madeira, por onde escavaram o solo de brita saindo pela lateral do contêiner. Vestidos com o short laranja da farda penitenciária ou com sungas improvisadas com lençol, eles pularam o alambrado e foram vistos por um agente de guarda do presídio, que disparou um tiro de advertência. Os policiais – seis militares e dois civis –, que faziam a segurança dos contêineres, iniciaram a caça aos foragidos e dois deles foram recapturados em seguida: André Marcos Santos e Daniel Santos de Jesus.
Os outros seis conseguiram fugir pela mata e teriam chegado à Estação Pirajá, onde conseguiram transporte. Nove detentos que estavam no mesmo contêiner optaram por não fugir. Todos os presos do compartimento pertencem ao Complexo de Delegacias dos Barris e respondem por crimes de furto ou assalto à mão armada. Marcos Santos Brandão, Antônio Santos, Gilsonei Soares dos Santos, Jefferson Bezerra Reis, Cláudio Jorge Elói dos Santos e Jorge Luís Souza dos Santos continuam foragidos.
Descumprimento – O diretor geral da SSP, André Brito, culpou a fornecedora dos contêineres, a empresa Eurobravin, da cidade de Serra, no Espírito Santo, pelo descumprimento das especificações expressas no edital de aquisição dos compartimentos. Foi determinada a instalação de barras de ferro no piso, com espaçamento de 15cm, o que inviabilizaria a fuga.
Na prática, as barras estão colocadas com espaços de 28cm a 30cm, o que, segundo o diretor, não foi detectado na entrega dos equipamentos, devido à pintura que unificou a cor da madeira e das barras e pela impossibilidade de vistoriar o assoalho. “O guindaste não ergue muito o contêiner e ninguém quer ficar embaixo para olhar”, disse Brito, lembrando que cada compartimento pesa oito toneladas.
Para evitar novas fugas, o diretor anunciou o reforço de policiamento e a vistoria dos outros 20 contêiners. Ele aguardava a chegada de representantes da Eurobravin para soldar as barras de ferro não instaladas. Ao todo, 336 presos foram transferidos de delegacias para a área do complexo penitenciário, para serem alojados nos compartimentos de carga adaptados. Os presos capturados estão sendo autuados por dano qualificado.
O coordenador geral do Sindicato dos Servidores Penitenciários (Sinspeb), Luís Antônio Fonseca, esteve no complexo penitenciário e criticou a desarticulação entre as secretarias de Justiça e Segurança Pública, bem como entre as polícias Militar e Civil. “É louvável a iniciativa de tirar os presos das delegacias, mas trazer para o presídio é açodamento. Os contêineres não foram discutidos conosco”, reclamou. O coronel Valter Leite, responsável pelo complexo penitenciário, vinculado à Secretaria de Justiça, confirmou a falta de integração denunciada pelo sindicalista. Questionado sobre a fuga, limitou-se a dizer que “os contêineres são responsabilidade da Secretaria de Segurança”.
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