Muito convincente a ambientação dos tais contêineres – pomposamente chamados de unidades prisionais móveis – destinados a acolher o excesso de contingente das delegacias situadas na jurisdição da efêmera cidade do carnaval. As camas forradas com lençóis floridos, as condições de higiene e o razoável espaço para circulação interna transformam os módulos em objeto de desejo de dez entre dez presos que disputam cada centímetro das pocilgas situadas nos porões das nossas infectas e abarrotadas cadeias convencionais. De todo modo, não dá para esquecer: por mais arrumadinhos que possam parecer, os caixotes são apenas uma solução paliativa – e tão passageira quanto o próprio Carnaval – para o crônico problema da superlotação carcerária. Na Quarta-feira de Cinzas, tudo volta ao normal...
Polêmica
Apesar do esforço de marketing desenvolvido pelo governo para melhorar a imagem dos contêineres e da forcinha dada pela OAB-BA – que através do presidente da Comissão de Direitos Humanos, Domingo Arjone – considerou os módulos “em boa situação de uso”, a OAB nacional resiste. O presidente da instituição, Cezar Britto, insiste que os módulos submetem os detentos a condições subumanas, vez que foram adaptados para receber pessoas, mas sua concepção original é para animais ou mercadorias. Há quem vislumbre nessa polêmica uma mera briga de egos.
Reforço
Dá para identificar sem muito esforço boa parte dos policiais militares trazidos do interior do estado para reforçar o esquema de segurança no carnaval de Salvador. Ao contrário de seus colegas da capital (a maioria de cara amarrada e com um mau humor evidente) os visitantes são mais descontraídos e nem sempre conseguem ficar imunes à mística da maior festa de rua do planeta. Um ou outro arrisca uma olhada nas atrações que desfilam em cima do trio e até trocam comentários entre si. Nada, entretanto, que comprometa a atuação ou os faça perder a compostura.
Estranho no ninho
Hummm... mas nem tudo é perfeito. Precisava mesmo incluir na Operação Carnaval os bravos rapazes da CPAC, a Companhia de Polícia de Ações em Caatinga? Treinados para atuar na zona rural e na erradicação de plantios de maconha, eles parecem meio deslocados em plena selva de pedra, com milhares de megawatts de potência zunindo ao pé do ouvido.
Guerra
Em menos de uma semana, dois adolescentes foram executados no bairro do Engenho Velho, como saldo da disputa entre facções rivais pelo espólio do traficante Éberson Souza dos Santos, o “Pitty”, morto pela polícia, em agosto do ano passado, no município de Candeias. Ao que parece, trata-se de uma guerra sem fim.
Apresentação em ‘off’
A Polícia Federal acaba de lançar uma novidade: a apresentação em off de presos! Isso mesmo. Convoca a imprensa para mostrar o autor de um crime durante entrevista coletiva, mas disponibiliza apenas suas fotografias. Não deixa de ser uma incongruência. Fotografar ou filmar não pode, mas é permitido reproduzir as imagens de documentos de identidade. Melhor faria a PF se enviasse as informações e as fotos por e-mail. Pouparia tempo e energia de todo mundo.
Batido
A morte do marinheiro birmanês Aung Nyein, que caiu do terceiro andar do apart hotel Sol Vitória Marina, no eternamente elegante Corredor da Vitória, centro da cidade, evidenciou o despreparo da polícia baiana. Dada por encerrada a perícia do quarto em que a vítima estava hospedada e de onde despencou para a morte, um repórter chamou a atenção para o que poderia ser um mero detalhe, caso não se tratasse de um local de encontro de cadáver. No vidro de uma das janelas, escrita com uma substância vermelha, a palavra “sexo”, passou despercebida da equipe do Departamento de Polícia Técnica.