Operador francês sabia que estava operando ilegalmente

Transcrições de conversas entre Jérôme Kerviel, o operador do banco francês Société Générale (SocGen) acusado de provocar rombo de 4,9 bilhões com operações fraudulentas, e Moussa Bakir, 32 anos, corretor de uma subsidiária do banco chamada Newedge, sugere que Kerviel estava bastante ciente da gravidade de suas ações.

A troca de mensagens eletrônicas instantâneas, ocorrida entre outubro do ano passado e janeiro deste ano, revela um Kerviel que ao mesmo tempo em que se mostrava temeroso das conseqüências de seus atos, se gabava do próprio "poder". Nas conversas, o operador e o corretor tentam acalmar um ao outro e brincam com a possibilidade de irem parar na cadeia. A revelação das mensagens aumentou a pressão sobre o SocGen, que sustenta que Kerviel fez tudo sozinho, sem o conhecimento de ninguém no banco.

O corretor Bakir foi chamado para ajudar no inquérito e ficou sob custódia durante 48 horas na condição de “testemunha auxiliar”, status intermediário entre uma testemunha normal e um suspeito. Ele foi liberado no sábado sem nenhuma acusação formal, mas em breve deve ser novamente intimado a depor. As informações são com agências internacionais e do jornal O Estado de S. Paulo. (AE)

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TI e o escândalo do banco Société Générale

Assim como a instituição e a sociedade aprenderam com mais um escândalo financeiro, a TI precisa refletir, apesar de os acontecimentos não serem culpa da tecnologia
Na França, o caso do rombo de 7 bilhões de dólares atribuído à ação de um operador da empresa Société Générale – especializada em serviços financeiros – tem dominado a pauta da imprensa nas últimas semanas. Por lá, isso se trata de um assunto de Estado. Um escândalo financeiro, econômico e político. Talvez nunca saibamos a verdade dos fatos, mas pouco importa. O sistema bancário internacional aprendeu mais uma, e nós da TI também temos algumas considerações.

O rombo bilionário desta organização tradicional teve repercussões no combalido mercado financeiro global, cuja crise provém de uma sucessão de eventos que se somam e se propagam de forma instantânea por conexões que tão bem conhecemos.

Dentro da França, o impacto é muito mais expressivo do que seria apenas um escândalo de um grande banco privado no Brasil ou Estados Unidos. Lá, o Estado coloca o dedo em tudo. Um choque desses abala uma instituição que é orgulho nacional e a deixa vulnerável a uma aquisição estrangeira: "Quel horreur!"

As primeiras notícias da suposta fraude, que tem o investidor Jérôme Kerviel no centro das atenções, falavam das suas habilidades em informática. Centenas de artigos depois, isso nem é lembrado. Ainda bem!

A TI é a fábrica dos bancos. O sistema financeiro internacional alavancou-se nas possibilidades oferecidas pela tecnologia, porém os conceitos básicos de controle e risco permanecem os mesmos. E é por isso que vários executivos do banco estão sob suspeita: Do enigmático Jérôme ao aristocrático Daniel Bouton, o presidente.

A cada dia, surgem novas evidências de uma trama complexa não protagonizada apenas pelo misterioso investidor. Nem mesmo podemos caracterizar o incidente como fraude, crime, incompetência ou qualquer outra coisa. Provavelmente, jamais o saberemos.

O Société Générale não pode esconder tanta sujeira debaixo do tapete como fazem quase todas as empresas submetidas a fraudes e desfalques. Nos episódios semelhantes, as instituições não sobreviveram aos seus golpes. Em se tratando da França, o destino do banco dependerá da intenção do governo: Salvá-lo ou permitir a aquisição por um congênere nacional (BNP?), evitando ao máximo passá-lo para um estrangeiro (HSBC?).

Resumindo, um golpe gigantesco abalou o sistema financeiro mundial e ameaça a existência de um dos maiores bancos da Europa. As transações financeiras que provocaram o rombo foram todas realizadas e controladas por computadores, até pela falta de outra opção. E nem por isso a TI é um dos vilões da trama, como acontece em inúmeros casos anônimos, desses que ficam debaixo do tapete para sempre.

Nós, profissionais da TI, sabemos mais do que ninguém da vulnerabilidade dos sistemas. Sabemos que não existe sistema 100% seguro. Por outro lado, propiciamos um conjunto de ferramentas para torná-los razoavelmente seguros e permitir que nossos clientes tenham pleno domínio de suas operações.

Muito menos inseguros que os sistemas são as pessoas. Pessoas compartilham senhas e informações protegidas, ignoram as ferramentas de controle proporcionadas pela TI ou são mal intencionadas. Os maiores "hackers" preferem a engenharia social a força bruta dos computadores.

O mundo ficou bastante pequeno e rápido. As transações comerciais e financeiras movimentam trilhões de dólares. Fraudes e desfalques “à la Kerviel” são cada vez mais comuns, ainda que em menores proporções. O problema do renomado banco francês não foi de TI, foi de pessoas: Um, dois ou dez incompetentes ou corruptos. Talvez não seja um problema do Société Générale, mas da sociedade em geral.
COMPUTERWORLD

Fernando Birman é Diretor de CRM e Estratégia de TI do Grupo Rhodia, baseado em Lyon (França).