Procura por prótese de silicone aumenta depois do carnaval
Por Cecilia Nascimento São Paulo, 14 (AE) -
"Uma despeitada feliz". É assim que se define a modelo e apresentadora de TV Adriane Galisteu sobre seus seios.
No último carnaval, dentre as rainhas de bateria das escolas de samba no Rio e em São Paulo que exibiram seios volumosos à base de silicone predominaram, Adriane exibiu seu tamanho "P" com graça. "Não sou contra a prótese, cada mulher sabe o que é melhor para si. Nunca pensei em colocá-la porque me sinto bem como o meu corpo de forma natural", reforça a musa, que admite existirem pressões no meio artístico para que mulheres desejadas coloquem prótese. "Não me deixo influenciar e acredito que ninguém tenha que se deixar levar por modelos de beleza pré-estabelecidos. O importante é respeitar o seu corpo , as suas medidas, e fazer aquilo que você acha melhor para ele, sem querer agradar a fulano ou a sicrano".
O desfile de seios siliconados nas avenidas reascendeu o debate sobre o uso da prótese no País. Isso porque a procura aumenta 5% nos consultórios de cirurgiões depois do Carnaval, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Dados de 2006 mostram que foram realizadas 70 mil cirurgias do gênero no país, o que coloca o Brasil como segundo maior mercado do mundo, apenas atrás dos Estados Unidos, onde são feitas cerca de 100 mil cirurgias por ano. De acordo com a SBCP, 90% dos casos de prótese de seio acontece em mulheres entre 20 e 25 anos. Nos dois países, 10% das cirurgias são feitas por motivos de saúde - reconstituição da mama após ocorrência de câncer ou correção do tamanho dos seios quando há uma diferença de volume entre eles. O restante é por motivos estéticos.
Segundo o cirurgião Egídio Martorano, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e ex-aluno do mestre Ivo Pitanguy, há três restrições - a paciente oferecer rejeição ao material, o que ocorre entre 3% e 10% dos casos e só é conhecida depois da cirurgia (nesse caso, o material é retirado em seguida, diante de desconforto da paciente na região operada), ter menos de 15 anos - antes dessa idade, as mamas não estão totalmente formadas, de modo a intervenção ser proibida por lei - e possuir estrutura ósseo-muscular que não suporte o peso da prótese.
"Algumas pacientes são do tipo mignon e querem, de qualquer maneira, ter seios volumosos. Explico que isso pode acarretar problemas na coluna e tento convencê-la o colocar uma prótese pequena ou nem colocar, dependendo da situação", reforça o médico.
De acordo com Martorano, que fez 250 cirurgias no ano passado, os volumes variam entre 180 e 255 ml, sendo que mais da metade das pacientes prefere seios com 250 ml, ou seja, grandes. "É um modismo americano mas, com o tempo, acredito que a mulher brasileira vai encontrar um tamanho próprio, de acordo com suas medidas, sem precisar imitar outras culturas".
Uma dúvida muito freqüente entre mulheres que querem colocar a prótese de silicone é o risco de ter câncer de mama ou a dificuldade de detectar na região depois da colocação do material.
NOVIDADES EM TITÂNIO
"DE MENTIRA"
SERVIÇO: Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
Na internet: www.sbcp.com.br
O mastologista Antonio Frasson, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo (SP) e integrante do Grupo Brasileiro de Estudos de Câncer de Mama (Gbcam), explica que não há relação entre o aparecimento da doença e o uso de prótese. Segundo ele, o que pode ocorrer é a mamografia (raio X das mamas) em seios com próteses não detectar a presença de um tumor em função da resolução.
Porém, como a mamografia deve ser sempre acompanhada do pedido de outros dois exames - ecografia (ultrassom) e ressonância magnética - ambos de alta precisão - o risco é praticamente zero de um tumor passar despercebido.
Em 100% dos casos de prótese de seio, o material utilizado no aumento dos seios é o silicone, uma substância formada a partir da reação química entre o oxigênio e o silício.
Na década de 50, passou a ser usado nos Estados Unidos para a fabricação de várias ferramentas médicas - catéteres, ponteiras para agulha de perfuração em cirurgias e marca-passos, Uma década depois, os cientistas descobriram sua utilidade na fabricação de próteses para os seios em mulheres que tiveram parte da mama retirada em função de tumores.
Para superar a rejeição de até 10% em cirurgias, pesquisas estão em andamento na Austrália e nos Estados Unidos para o uso do titânio - metal de baixa densidade e alta resistência - em próteses de seios. Já usado em próteses de fêmur, por exemplo, o titânio não sofre rejeição pelo organismo humano. Além disso, não precisa ser reposto, como acontece com o silicone, que tem vida útil média de 10 anos.
Há quem tenha optado pela prótese e diante da rejeição do material pelo organismo, tenha desistido do recurso para aumentar os seios. É o caso da funcionária pública Eneida Barroso, de 45 anos, de Florianópolis (SC), que colocou 250 ml em cada seio há 15 anos. Logo após a cirurgia, teve que retirá-las porque sentia dores.
Mesmo com o avanço da medicina, ela desistiu de tentar uma nova intervenção. "Substitui o silicone por sutiãs com enchimento, de vários tamanhos. Quando vou ao trabalho, são mais discretos e quando quero algo mais sensual, tenho um com enchimento maior". Foi o caso de Adriane Galisteu, que usou um sutiã preenchido com látex para equilibrar os seios pequenos com as costas largas, de 92 cm (misses costumam ter 90 cm) na Marquês de Sapucaí, onde desfiou como rainha da bateria da escola de samba carioca Unidos da Tijuca.
Ela defende que a beleza deve ser conseqüência de atitudes de esforço, como a adoção de uma dieta alimentar equilibrada e exercícios físicos diários. "No caso dos seios, que caem mesmo, acho que o implante de silicone deve ser colocado em último caso, quando não tem mais jeito", brinca a apresentadora, que corre 10 km por dia, não consome bebidas alcoólica e mantém uma dieta balanceada. "Acredito no esforço para ficar bonita", conclui.