Discurso contra biocombustíveis é equivocado, diz Amorim

Rebatendo a críticas, feitas nos últimos dias, de que os biocombustíveis são responsáveis pela alta do preço dos alimentos, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse hoje (18) que o Brasil é a maior prova de que isso não é verdade. “No Brasil, a produção de etanol aumentou junto com a produção de alimentos”, afirmou.

A declaração foi feita depois que o ministro assinou termos de cooperação com o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o senegalês Jacques Diouf. A cooperação visa à transferência de tecnologias e recursos para o combate a fome em países da América Latina e Caribe, com prioridade para o Haiti, que vive a situação mais crítica.

Feito com manejo responsável, cuidando para que a renda seja distribuída e o alimento chegue ao pobre, acrescentou o chanceler, os biocombustíveis podem ser uma fonte de riqueza e “redenção” para países africanos e latino-americanos, totalmente compatível com a produção de alimentos.

“Como foi reconhecido pelo próprio diretor-geral da FAO, o que impediu o crescimento da produção de alimentos em países africanos e sul-americanos foram os subsídios. Não foi o biocombustível. Quer dizer, ninguém na África deixou de produzir alimentos para produzir biocombustíveis. Não produziam alimento e continuam sem produzir alimento porque os subsídios agrícolas da Europa e dos Estados Unidos impedem que isso ocorra”, argumentou Amorim.

Segundo o ministro, os subsídios agrícolas concedidos a produtores europeus e norte-americanos são os principais causadores da alta no preço dos alimentos, e os organismos internacionais deveriam ser mais incisivos em suas recomendações.

“Que me conste, o alimento não estava chegando ao pobre antes. Nunca estava chegando, e ninguém estava reclamando. Se o FMI [Fundo Monetário Internacional] puder ajudar para que países africanos e países latino-americanos mais pobres possam produzir biocombustíveis, que entrem sem barreiras nos países ricos, eles estarão ajudando a renda desses países, e é com renda que se obtém alimentos”, sugeriu Amorim ao referir-se a declarações do diretor geral do FMI, Dominique Strauss-Khan, para quem o pior da crise dos alimentos ainda está por vir, e que produzir combustíveis a partir de culturas alimentícias é um problema moral.

“O que prejudica a produção de alimentos nos países pobres, vamos ser claros, é a existência de subsídios e das barreiras nos países ricos. Se o diretor-geral do FMI e o presidente do Banco Mundial querem dar uma recomendação que realmente melhore a produção de alimentos nesses países, deveriam dizer o seguinte: em vez de reduzir [os subsídios agrícolas] para US$ 14 bilhões nos Estados Unidos ou para US$ 20 bilhões na Europa, reduz a zero”, disse o ministro.

Amorim disse que a preocupação inicial a respeito da produção de biocombustíveis pode até ser legítima, mas as conclusões são simplistas e têm como base um tipo de preocupação protecionista.

Agência Brasil