Prefeita de Ribeirão Preto é suspeita de envolvimento em fraude
A Polícia Civil de Ribeirão Preto, a 290 km de São Paulo, investiga se a prefeita Dárcy Vera (PSD) está envolvida num suposto esquema de fraude na distribuição de casas populares por meio da Companhia Habitacional Regional da cidade. A prefeita nega as acusações. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
A investigação começou a partir de uma acusação feita pela suspeita de estelionato por "vender" essas casas a Marta Aparecida Mobiglia, 45 anos. Ela afirmou à polícia que entregava dinheiro referente à comercialização das residências para um mensageiro da prefeita.
Dárcy negou as acusações e convocou uma entrevista coletiva para se defender no final da tarde desta quarta-feira.
Marta é uma das investigadas por prometer, mediante pagamento de até R$ 3.000, que era capaz de "furar" o sorteio das casas do conjunto Paulo Gomes Romeu, construído pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de SP).
A Cohab-RP era responsável por fazer o cadastro das pessoas interessadas e organizar os sorteios.
Segundo a advogada de Marta, Máira Ferreira Teles, sua cliente disse à polícia que documentos e todo o dinheiro arrecadado com a fraude eram entregues a um motoqueiro, que seria um mensageiro de Dárcy.
"Ela afirmou que o contato [com a Dárcy] foi por meio da irmã da prefeita [Marli Vera, conhecida como Chaveirinho]", disse Teles.
DENÚNCIA
O caso começou a ser investigado há uma semana, quando Marta e uma segunda suspeita, Maria Rosa Lopes Ferreira, 57, foram parar na delegacia após denúncia de membros do Conselho Municipal da Habitação e do jornal "A Cidade".
Após a denúncia, a polícia começou a apurar se havia participação de funcionários da Cohab --comandada pelo PMDB em Ribeirão desde que Dárcy assumiu a prefeitura, em 2009.
Além de Marta, o delegado responsável pelo caso, Marcelo Velludo, deve ouvir nesta quinta-feira a segunda suspeita.
Procurado pela Folha, Velludo confirmou ter ouvido o depoimento de Marta, mas não quis comentar o conteúdo das declarações da investigada.
"Eu sou o presidente do inquérito e, se esse conteúdo vazou, não foi pelas minhas mãos. O que eu posso dizer é que o depoimento da Marta realmente foi colhido", afirmou sobre o fato de Dárcy já ter recebido as declarações.
Em depoimento à polícia nesta quarta-feira (16), a representante comercial Marta Aparecida Mobiglia, de 45 anos, disse que negociou um emprego com a prefeita, com as funções de recolher dinheiro e documentos para a aquisição de moradias. Ela seria responsável por repassar tudo à Marli Vera, irmã da prefeita, em troca de um salário de R$ 1,8 mil por mês.
De acordo com o advogado de Marta, Antonio Carlos de Oliveira, a linha telefônica em que sua cliente fazia os contatos, está à disposição da Justiça para auxiliar nas investigações. “Todas as instruções que foram passadas pela irmã da prefeita Dárcy Vera e pela prefeita Dárcy Vera se deram por telefone. Inclusive, passamos para a autoridade policial o número do telefone da nossa cliente para que seja oficiada a operadora para que se mande a bilhetagem referente a esse número e as ligações recebidas”, disse o advogado.
CDHU
Duas mulheres suspeitas de cobrar até R$ 6 mil para facilitar a compra de casas da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) de Ribeirão Preto foram detidas no dia 8 de novembro. Ao todo, 11 pessoas foram ao 4º Distrito Policial registrar boletim de ocorrência.
Com a promessa de que seriam contempladas com moradias no bairro Paulo Gomes Romeu, elas afirmam que chegaram a pagar R$ 1,6 mil para entrar na fila de distribuição de imóveis. Segundo o delegado Marcelo Veludo Garcia de Lima, as casas são da CDHU, no entanto, o cadastro é da Cohab.
“Eu dei o valor de R$ 3 mil para conseguir essa casa da Cohab”, disse o músico Giliard Tavares Reis.
“Ela falou que a casa ia sair em março. Eu dei o dinheiro em janeiro. Passou o mês de março e elas disseram que iam dar a casa em julho. Na esperança de ter a casa, aconteceu o que aconteceu. Agora, só Deus sabe”, disse uma mulher que preferiu não ser identificada.
O presidente da Cohab de Ribeirão Preto, Silvio Martins, afirmou que vai investigar se funcionários estão ligados ao suposto crime. “Eu estou aqui, junto com o chefe do jurídico, para apurar isso. Vamos levantar junto à autoridade policial se tem algum nome de funcionário envolvido”, declarou.
As duas suspeitas foram ouvidas e liberadas. Segundo a advogada da dupla, suas clientes responderão apenas ao juiz. “Elas me passaram que elas são inocentes. Elas vão falar em juízo.”, disse a advogada Maira Ferreira Teles que foi chamada pelas suspeitas, sem as conhecê-las. "Não tive tempo para conversar com as minhas clientes. Elas pegaram o meu cartão e me ligaram", disse Maira.
OUTRO LADO
Não conheço
Procurada pela reportagem da EPTV, Marli Vera, irmã da prefeita, disse por telefone que não conhece e que nunca conversou com a mulher que fez as acusações.
No final da tarde, Dárcy chamou os jornalistas para desmentir as afirmações da mulher que a acusou.
A prefeita afirmou nunca ter falado com a investigada e que não é a primeira vez que "usam" seu nome para cometer irregularidades.
Ela disse ainda que está à disposição da polícia para a investigação.
"Sou a maior interessada em que tudo isso seja muito bem investigado e que se descubra a verdade. Estou muito tranquila quanto a isso", afirmou Darcy.
Ela concedeu a entrevista diante de uma mesa cheia de fitas de vídeo que ela disse serem as filmagens de todos os sorteios de casas em seu governo.
O presidente da Cohab-RP, Sílvio Martins [ex-vereador do PMDB indicado ao cargo pelo deputado Baleia Rossi], acompanhou a prefeita durante a coletiva.
Ele afirmou que até agora não há indício de prova sobre o envolvimento do poder público no caso.
A assessoria de Dárcy disse que ela soube do depoimento da mulher à polícia por meio de "fontes".