Um tribunal egípcio recusou terça-feira libertar sob fiança o autor de um «blog», acusado de crimes de insulto ao Islão, com textos que colocou na Internet, naquele que é o primeiro julgamento de um «blogger».
Abdel Kareem Nabil, de 22 anos, está detido desde Novembro, por ter denunciado as autoridades islâmicas e criticado o presidente egípcio, Hosni Mabarak, no seu «blog» escrito em árabe.
O interneauta enfrenta uma pena de nove anos se for condenado pelos crimes de que é acusado.
Em declarações proferidas terça-feira, a Organização Egípcia para os Direitos Humanos pediu aos grupos de direitos humanos para «pressionar o governo no sentido de retirar as queixas contra Nabil, como objector de consciência».
Dois congressistas norte-americanos expressaram igualmente a sua preocupação pela detenção de Nabil - cujo pseudónimo no «blog» é Kareen Amer - e pediram que as acusações fossem retiradas.
«O governo egípcio deteve o Sr.Amer simplesmente por descontentamento pelas críticas manifestas no seu blog pessoal, no qual expôs as suas profundas dúvidas sobre o respeito do Egipto pela liberdade», lê-se numa missiva de Trent Franks, republicano do Arizona, e Barney Frank, democrata de Massachusetts, dirigida ao Embaixador do Egipto nos estados Unidos, Nabil Fahmy.
A administração Bush não fez comentários sobre o julgamento de Abdel Kareem Nabil, contrariamente às críticas feitas, nos últimos anos, a outras detenções de activistas dos direitos humanos egípcios.
Em 2005, a administração Bush fez do Egipto - país cujo presidente Mubarak tem governado sem contestação à quase um quarto de século - o centro da prioridade política de promoção da mudança democrática no mundo árabe.
No entanto, os reformistas egípcios afirmam que Washington abandonou a pressão sobre Mubarak, em troca do seu apoio na questão iraquiana e no conflito israelo-palestiniano.
Os Estados Unidos também se manifestaram quando a irmandade egípcia muçulmana tirou proveito das eleições parlamentares de 2005 e quando o movimento radical do Hamas ganhou as eleições palestinianas em 2006, criando receios de que a maior democracia aumentaria o poder dos fundamentalistas.
Nabil, cujo julgamento começou a 18 de Janeiro, foi acusado de incentivar revoltas, insultar o Islão, prejudicar a unidade nacional e insultar o Presidente.
No «blog» Nabil fez duras críticas aos conservadores muçulmanos, em particular a al-Azhar, uma das mais prestigiadas instituições religiosas do mundo árabe. Foi estudante de direito na Universidade de al-Azhar, mas denunciou-a como uma «universidade de terrorismo», e acusou-a de promover ideias radicais e oprimir a liberdade de pensamento.