Num combate marcado por contradições, a brasileira Adriana Salles foi derrotada na última segunda-feira em Punta del Este, Uruguai, pela argentina Marcela Eliana Acunã. Os juizes pontuaram de forma unânime 79-77, 77-76 e 78-77.
As controvérsias começaram na véspera da luta. Anunciado pela imprensa como “matchmaker” do evento, o argentino Edgardo Rosani informou no seu sítio na Internet que a adversária de Acunã seria outra brasileira, Liliana Salles. Acontece que não existe boxeadora no Brasil com este nome. Uma paranaense de nome Liliane Balles, que teve seu nome usado fraudulentamente em 2007, poderia ter sido novamente a causadora involuntária da confusão.
Mas mesmo que não seja verdade, é no mínimo estranho que o “matchmaker” de um evento não saiba o nome correto de um pugilista e mantenha o erro no dia seguinte do combate ao anunciar em seu sítio o resultado da luta. E informando um nome semelhante à de outra brasileira que já foi utilizado falsamente no passado.
A certeza do que aconteceu só foi possível com a divulgação das fotos pelo fotógrafo Andress Stapff. Ficou comprovado que a brasileira era Adriana Salles.
A segunda controvérsia aconteceu no final do 8° round. A luta que estava anunciada para 10 rounds, com transmissão pela TV, acabou no oitavo. Segundo a mídia esportiva, o córner da brasileira chamou o árbitro para informar que o combate estava encerrado, surpreendendo os organizadores, público e a própria Marcela Acuña.
Não ficaram claros o motivo da supervisão uruguaia do evento ter decidido considerar a marcação dos juízes e não declarar o nocaute técnico e nem a razão da decisão tomada pelo canto da brasileira. O fato poderá gerar uma nova controvérsia para esta luta.
Ela já foi capa de revista e garota-propaganda de refrigerantes, tênis e um shopping center em Portugal. Dez anos depois de abandonar a vida de modelo, Adriana Salles se tornou a primeira campeã brasileira de boxe, com cinturão reconhecido pelo Conselho Nacional de Boxe.
"Ser a primeira campeã brasileira de boxe me trouxe muita satisfação. Agora espero ver o boxe feminino crescer no País", afirmou a pugilista loira de olhos azuis, depois de derrubar sua oponente no quarto assalto.
O primeiro trabalho de Adriana como modelo foi feito aos 12 anos. A pugilista exerceu a profissão por 13 anos, até que adotou o boxe como cura para uma vida desregrada. "Eu não me amava, foi uma fase muito tenebrosa."
Mudança
Adriana resolveu virar pugilista para cuidar de saúde. Adepta de noitadas patrocinadas pelo mundo da moda, a garota, então com 25 anos, encontrou nos ringues um novo estímulo para sua vida. "Troquei as passarelas pelo boxe para cuidar da minha saúde."
O incentivo veio de dois amigos que já eram boxeadores e a levaram para o esporte.
Adriana passou a procurar um técnico, e encontrou Messias Gomes, um dos mais respeitados treinadores do Brasil. Mas seu guru não aceitou a tarefa imediatamente. "Antes de ele decidir me treinar, fiz até lutas clandestinas no Panamá."
"Falei para ela que a ensinaria a competir, e não apanhar", contou Messias. Começava então uma rotina de quatro horas diárias de treinamento, inclusive com combates contra homens, que custam a Adriana hematomas por todo o corpo.
Luta contra Popó
Entre os adversários que Adriana já teve pela frente está Acelino Popó Freitas, o principal pugilista brasileiro da atualidade. O baiano não aliviou.
"Ele me acertou na altura do estômago e me fez urinar sangue por um tempinho. Acho que ele ficou com raiva porque eu consegui encaixar dois jabs nele", conta.
Para Adriana, Popó nunca esqueceu os dois golpes. "Quando a gente se encontra, ele me pergunta: 'ei, galega, quer colocar uma cor roxa nesses olhos azuis?', ou coisas do tipo", disse a nova campeã, com um leve sorriso no canto da boca.
Dia-a-dia
Viver exclusivamente do boxe, no Brasil, é difícil para homens e impossível para as mulheres.
A única solução para Adriana é manter um trabalho paralelo. Além de pugilista, a boxeadora é personal trainer. Sua jornada diária começa às 7h e vai até as 12h. "Depois disso, descanso um pouco e treino até às 18h. É muito desgastante."
Ser pugilista não impede Adriana de arrumar namorados, mas ela confessa que já teve problemas. "Um deles terminou comigo porque achava que eu batia melhor do que ele", contou, com um leve sorriso no lábio.
O boxe também a ajudou a controlar seu lado emocional. Adriana jura que, hoje em dia, não briga fora do ringue. "Mas antes eu era pavio-curto. Aprendi a me controlar."Redação Terra