SIMONE IGLESIAS
da Agência Folha, em Taquara
Uma das testemunhas que acusou de pedofilia o casal norte-americano Barbara Anner, 72, e Frederick Louderback, 64, afirmou que mentiu à polícia gaúcha porque foi agredida.
Anner, Louderback e um casal de brasileiros, André Herdy e Cleci Jaeger, 35, estão presos desde 11 de dezembro e foram indiciados sob acusação de atentado violento ao pudor, corrupção de menores, formação de quadrilha e produção e divulgação de imagens de sexo com crianças e adolescentes. Eles negam as acusações.
A Justiça de Taquara (73 km de Porto Alegre) aceitou denúncia do Ministério Público contra os casais e contra três pais de meninos que teriam sido abusados.
Um adolescente de 16 anos, chamado pela polícia para depor como testemunha, primeiro negou envolvimento com os indiciados, mas depois confirmou o abuso, dizendo que Louderback se masturbou na sua frente. O depoimento ocorreu no dia 18 de dezembro.
Mas, no início de janeiro, o pai do jovem registrou ocorrência na Corregedoria da Polícia Civil, em Porto Alegre, dizendo que o filho foi coagido. O jovem reafirmou a acusação em entrevista à Folha, acompanhado do pai. A polícia nega (leia texto nesta página).
"Um policial me deu um tapa na cabeça, disse que eu ia ser preso, que ia passar o resto da vida na cadeia. Chutou várias vezes a cadeira que eu estava sentado. Também disse que os policiais iriam fazer fila para me violentar", disse o menino.
Segundo o pai dele, o menino "ficou por mais de sete horas sem comer, sem tomar água e sem poder ir ao banheiro".
Ele disse que seu filho fez as acusações para ser liberado. "Os policias fizeram meu guri mentir. Disseram que ele ia apodrecer na cadeia. Meu filho nunca tinha entrado numa delegacia, estava apavorado. Ele me disse que se desesperou e mentiu", afirmou o pai.
A polícia diz ter recolhido nas casas dos casais, na comunidade naturista Colina do Sol, fotos com meninos nus, CDs e DVDs com imagens de sexo entre adultos e crianças. A reportagem não teve acesso às fotos.
Além do material fotográfico e de depoimentos de testemunhas, a denúncia tem como base laudos psicológicos feitos pela psiquiatra Heloísa Meyer, que apontam "fortes indícios de abuso sexual" em pelo menos seis meninos. À Folha, Meyer disse que não poderia detalhar os laudos porque sua profissão exige segredo de Justiça.
Segundo as investigações da polícia, os quatro davam presentes e dinheiro a crianças de uma comunidade carente, vizinha à Colina do Sol, com a intenção de abusarem delas. Eles também ajudavam os pais das crianças, providenciando a reforma de suas casas.
O pai do adolescente está entre os denunciados pela promotora Natália Cagilari por "submissão e indução à prostituição ou exploração sexual, conivência e corrupção de menores". Ele nega, afirmando que os casais suspeitos estão sendo punidos por ajudarem a comunidade carente.
A polícia diz que começou a investigar o caso com base em queixas de pais de crianças supostamente abusados e de moradores da Colina do Sol.