Laudo alerta: há risco na Linha 4 do metrô

São Paulo, 14 (AE) - Um laudo elaborado pela empresa Tecnoplani Inspeções, 15 dias depois do acidente no canteiro de obras da Estação Pinheiros da Linha 4 do Metrô, apontou problemas na estrutura metálica que sustenta as paredes da futura Estação Fradique Coutinho e que poderiam causar "acidentes de proporções imprevisíveis". O documento veio a público ontem em reportagem do Jornal Nacional.
A nova inspeção foi feita, segundo o secretário de Transportes Metropolitanos, José Luís Portella, a pedido do governo do Estado. "Foi por causa disso que os problemas apareceram." A ordem foi despachada em 17 de janeiro. Três dias depois, os trabalhos começaram e cerca de 20% do serviço já foi refeito.
Segundo laudo do inspetor de soldagem Nelson Augusto Damásio, a recomendação era paralisar as obras até que se iniciassem os trabalhos de recuperação das soldas, pois havia o risco de elas romperem. Entre os problemas apontados está o uso de "bacalhau" - preenchimento de espaço entre as vigas com pedaços de metal e solda - , além do uso de materiais em discordância com as normas técnicas.
Especialistas em soldagem confirmam que o laudo da Tecnoplani demonstra claramente que há muitas gambiarras no serviço. "Isso acontece sempre que há empresa terceirizada", alertou um soldador que presta serviços para a Petrobrás. Para ele, a existência de "bacalhau" pode comprometer toda a estrutura construída, e o uso de materiais em desacordo com as normas técnicas é fator preocupante. "Para derreter os eletrodos, por exemplo, é preciso mantê-los dentro de estufas, aquecidos. Para cada tipo de material há um eletrodo diferente." Ele disse que todo o serviço feito para a Petrobrás passa por rigorosa inspeção, o que inclui raios X. "Se for detectada uma mínima diferença na solda, se aparece um buraco, é preciso refazer todo o serviço.
"Um inspetor de soldagem com 29 anos de experiência disse que as "não-conformidades" mostradas no laudo "são problemas elementares para qualquer tipo de solda". Ele destacou a ausência de estufas portáteis para evitar excesso de umidade nas soldas e a prática do "bacalhau". "Isso é algo inexistente pelas normas internacionais."
Para o diretor de engenharia civil do Instituto de Engenharia, Roberto Kochen, as conclusões do relatório revelam desleixo na execução do trabalho. "Seria preciso visitar a obra para saber o que ocorreu porque economizar em solda me parece improvável e deixar de soldar uma junta que deveria ter sido soldada ou fazer o trabalho pela metade é grave." Kochen soube do laudo pelo Estado. "A soldagem tem métodos de inspeção e especificação próprios. Você faz ensaios, ultra raio X para verificar como a solda está se comportando. Não é algo tão simples."
Ao Jornal Nacional, Damásio disse apenas que fez o laudo. "Fui contratado. Fui lá, fiz a avaliação e o laudo é deles."
A segunda inspeção no início do mês constatou porosidade e trincas no ligamento das estruturas. "Fico (com medo), mas não posso passar isso para o pessoal", disse um funcionário que faz o trabalho. As informações são do O Estado de São Paulo