O pai e a madrasta da menina Isabella Nardoni, de 5 anos, que caiu ou foi jogada do 6º andar de um prédio na Zona Norte de São Paulo, divulgaram nesta quinta-feira (3) cartas nas quais afirmam não serem culpados pela morte da criança e dão detalhes do relacionamento com Isabella.
Nos textos, Alexandre Nardoni, de 29 anos, e Anna Carolina Jatobá, de 24, dizem que não tinham se pronunciado ainda porque acreditavam “que o caso seria solucionado” e que acreditam que a “verdade prevalecerá”.O casal teve a prisão temporária decretada na quarta-feira (2) pelo 2º Tribunal do Júri do Fórum de Santana. Segundo o delegado-adjunto do 9º Distrito Policial (Carandiru), Frederico Rehder, os advogados do casal foram notificados da decisão no final da noite de quarta. De acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça (TJ), a prisão é de 30 dias e pode ser prorrogada por mais 30.
O pai de Isabella já foi procurado pelos policiais na casa de seu pai. Sem entrar na residência, a polícia foi informada que nenhum dos suspeitos estava lá. Equipes policiais buscam o pai e a madrasta de Isabella nas casas de familiares. De acordo com a polícia, eles serão considerados foragidos depois de todas as possibilidades de encontrá-los se esgotarem.
Leia a íntegra da carta do pai:
"Eu, como pai de três filhos, posso dizer sem dúvida uma coisa: que a Isabella é o maior tesouro da minha vida. Tenho outros filhos meninos, mas a minha menininha era a princesa da casa. A Isabella sempre foi muito carinhosa comigo e com os irmãos dela. Costumava dizer que era a mamãe do meu filho mais novo, o Cauã, e defendia o do meio, Pietro, acima de tudo. Quando me dei conta que tinha perdido minha Isabella, senti naquele momento que meu mundo acabou. Não sei como caminhar.
Todos estão me julgando sem ao menos me conhecer. Não faria isso com ninguém, muito menos com minha filha. Amo a Isabella incondicionalmente e prometi a ela, em frente ao seu caixão, que, enquanto vivo, não sossego enquanto não encontrar esse monstro. Tiraram a vida da minha princesa de uma maneira trágica e não me permitem sentir falta dela, pois me condenam por algo que não fiz. Minha filha, como os irmãos dela, são tudo na minha vida. Eu estou sem rumo, mas confio que Deus me dará forças para vencer esses obstáculos, mostrando o caminho certo para a justiça.
Quero a minha filha bem, em paz, e tenho plena certeza, e consciência tranqüila do meu amor, amor que tenho por ela. Pois por mais que me julguem, só eu e minha filhinha sabemos a dor que estamos sentindo. E o mais importante é que 'Isa' sabe o pai que fui para ela. Minha mãe está à base de calmante por falta do nosso 'botão de rosa', como ela diz. Meu pai chora quando lembra dela e quando assiste a cada reportagem. Minha irmã e minha mãe choram pelo que estão fazendo.
Tenho muito mais a dizer, mas espero que um dia me escutem como pai que sofre por sua filha, e não como um monstro, que não sou. Nós não tínhamos feito nenhuma declaração ainda porque acreditávamos que o caso seria solucionado. Nós não somos os culpados, e ainda encontrarão o culpado. Dessa forma, não precisaríamos mostrar a nossa imagem, porque o nosso sofrimento é muito grande. Só que nos acusam e queremos mostrar o que realmente estamos sentindo. A verdade sempre prevalecerá."
Leia a íntegra da carta da madrasta:
“Amor da minha vida, você é e sempre será tudo na minha vida, na do Titi e do Alemão. Isa, a Tia Carol te ama muito e te amarei. Sei que a palavra madrasta pesa ao ouvido dos outros, mas para ‘Isa’ sei que eu era a Tia Carol. Amo ela como amo aos meus filhos. Eu tenho minha consciência tranqüila do carinho com que sempre a tratei.Ela adorava me ajudar a cuidar dos irmãos e até ensinou o mais novo a andar. Ele trocava meu colo para ficar com ela.
O Pietro chamava a ‘Isa’ todos os dias e só passou a ir à escola quando a ‘Isa’ estudava lá. Adorava fazer tudo para agradá-lo. Ela e o Pietro ligavam sempre para que eu a buscasse. Brincávamos ela, eu e o Pietro de musiquinhas, ciranda e casinha.
Eu, Alexandre e minha sogra fizemos o quarto dela como ela sempre sonhou. Compramos o baú do Hello Kitty. Ela adorava as princesas da Disney e compramos um abajur. Mas, acima de tudo isso, o carinho era o que mais contava.
Então, o que tenho a dizer, é que Isabella era tudo para todos nós e tenho fé que encontraremos quem fez essa crueldade com nossa pequena.
Não tínhamos dado nenhuma declaração, pois acreditávamos que o caso seria solucionado. Somos inocentes e a verdade sempre prevalecerá.”
Advogado de Nardoni diz que casal vai se entregar e que vai pedir habeas corpus
Wagner Gomes - O Globo Online
SÃO PAULO - O advogado Jairo Neves de Souza, contratado pelo pai de Isabela de Oliveira Nardoni, disse que está analisando o inquérito policial para entrar com um pedido de habeas corpus. O consultor jurídico Alexandre Nardoni e sua mulher Anna Carolina Jatobá tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça por 30 dias nesta quarta-feira. O casal negocia sua apresentação à polícia.
- Estamos analisando alguns detalhes e tomando ciência do que existe para elaborar uma ação sobre a entrega dos dois. Ainda não chegamos a uma posição. Mas o que está acordado é que haverá a apresentação - disse Souza ao sair do 9ª Distrito Policial do Carandiru, onde o caso está sendo investigado.
Escola conversa com alunos sobre morte de Isabella
Vídeo divulgado nesta quinta-feira (3) mostra menina em festinha.
Menina sofreu queda do 6º andar de prédio na Zona Norte de São Paulo.
Imagens copiadas do video Jornal Hoje(TioSamNews)
No vídeo, Isabella, ou simplesmente Isa, como as amiguinhas da escola a chamavam, dança, brinca e quase sempre tem um sorriso no rosto.
Nesta quinta, no portão da escolinha, que fica poucos metros da casa onde Isabella morava, havia um aviso sobre a missa de sétimo dia. No jardim, os brinquedos, os lugares onde ela brincava ainda estavam vazios. Na sala de aula, algumas crianças ainda se lembravam de Isa.
A professora propôs aos alunos uma atividade lúdica, quase uma homenagem: um desenho "bem lindo, bem colorido para que ela possa ver nosso desenho lá com o papai do céu”.
As crianças traduzem a imagem que vão guardar da amiguinha Isabella. Mas como explicar essa tragédia para crianças que têm a mesma idade de Isabella? Segundo os especialistas, o melhor e não explicar, apenas responder o que a criança pergunta. Isso porque nessa faixa etária elas ainda não relacionam morte com dor.
"Eles não têm a noção dessa perda, a noção de tempo. Ainda não sabem que esse nunca mais vou ver é nunca mais mesmo. Por isso eles falam com carinho e com saudades, mas sem dor”, disse Elenice dos Santos Romeu, pedagoga e diretora da escola.
Nesta quinta-feira, ambos divulgaram cartas afirmando ser inocentes e dão detalhes do relacionamento com Isabella.
Crime A polícia investiga se Isabella foi agredida e arremessada antes de o corpo dela ter sido encontrado no jardim do edifício no sábado (29) ou se ela se jogou do 6º andar do prédio no Carandiru.
Peritos do Instituto de Criminalística (IC) voltaram na noite de quarta ao apartamento da família para procurar mais pistas. Eles usaram materiais, capazes de identificar vestígios de sangue.
A polícia trabalha sobre a versão contada pelo pai da criança que, desde o primeiro dia, afirma ser inocente. Ele conta que deixou a menina em um quarto, dormindo, enquanto foi até a garagem ajudar a mulher a subir com os outros dois filhos. A família havia chegado de um jantar na casa da sogra dele, por volta de 23h30.
Alexandre Nardoni afirma que deixou o imóvel trancado depois de colocar a menina na cama. Quando subiu, viu que ela não estava no cômodo e percebeu que a tela de proteção na janela estava rasgada. Em seguida, relatou ter visto o corpo da criança no jardim. Ele sustenta a versão de que alguém entrou na casa, possivelmente para assaltar, mas a polícia diz que nada foi roubado.