Menino João Hélio será nome de praça no Rio

A prefeitura do Rio de Janeiro dará o nome do menino João Hélio Fernandes Vieites, 6 anos, a uma praça em Cascadura, na zona norte da cidade. A homenagem serve para que o município não esqueça da morte da criança, brutalmente assassinada no subúrbio do Rio, na última semana. O local, próximo de onde seu corpo foi encontrado e que antes se chamava praça Três Lagoas, é um recanto bucólico do bairro e conta com brinquedos infantis, árvores, mesas e bancos. Fica junto à rua Apuí. O decreto que homenageia João Hélio está publicado no Diário Oficial desta sexta-feira.
Pais de João Hélio falam pela primeira vez após morte do filho
Na primeira entrevista após a morte do filho João Hélio Fernandes, de seis anos, após ficar preso pelo cinto de segurança e ser arrastado por 7 quilômetros durante o assalto do carro da família, os pais do garoto pedem justiça. “Só queria que a morte dele não ficasse em vão. Que tudo o que vem acontecendo servisse realmente para marcar uma fase de mudança no nosso país porque coisas como esta não podiam voltar mais a acontecer, as pessoas não podem sofrer como a gente está sofrendo”, disse o pai de João, Elson Lopes Vieites, em entrevista a Fátima Bernardes no Fantástico.
“Quando eu vi que ele foi arrastado, eu sabia que não tinha como corrigir aquilo, como livrar ele da morte. Eu comecei a rezar por um milagre. Eu queria um milagre”, lembra a mãe de João Hélio.
O pai de João Hélio comentou o fato de o pai de um dos apontados como participante do crime, Diego Nascimento da Silva, 18, ter ajudado a localizar o próprio filho.
“A gente tem conhecimento pelo jornal que foi tão forte o que ocorreu que o próprio pai de um dos marginais sentiu a nossa dor, não suportou e denunciou o filho. É difícil quando se trata do próprio sangue. Ele sentiu o tamanho da nossa dor.”
Elson e Rosa Cristina também relataram como foi voltar pela primeira vez em casa após a morte de João Hélio, no sábado. “A gente esteve hoje na nossa casa, ficou muito emocionado. Tinha um quadro de lousa branco onde, na segunda ou na terça-feira, ele desenhou um coração, depois botou a mãozinha dele lá, marcou a mãozinha dele. Hoje eu lembrei daquele momento”, relembrou o pai, comovido.
“A gente estava num momento da nossa vida que vivia para os nossos filhos, para a nossa família. Onde íamos era com eles, gostávamos de fazer programas que divertissem eles, que fosse prazeroso para os dois. Em função disso, a gente estava reformando uma casa, com espaço maior. Tinha espaço para o João andar de bicicleta. Tava linda a casa”, disse a mãe, que descreve o filho como um menino “meiguinho, engraçado, que estava sempre feliz”.
Manifestações tomam ruas, novelas e internet para mostrar indignação
“O importante é que o João não se torne mais um número na estatística de vítimas de violência. Não podemos deixar o João cair no esquecimento.” Com voz embargada, tentando controlar a emoção, Carlos Ribeiro – pai da jovem Gabriela Prado Ribeiro, morta há quatro anos, aos 14, atingida por uma bala perdida durante tiroteio no metrô do Rio – falou ontem sobre o crime bárbaro que chocou o País esta semana.
Ele é um dos organizadores de uma grande manifestação de protesto que está sendo preparada para terça-feira, no sétimo dia da morte do menino. João Hélio Fernandes, 6, foi brutalmente assassinado por ladrões que levaram o carro de sua mãe, na noite de quarta-feira, na zona norte do Rio. O menino ficou preso ao cinto de segurança, pelo lado de fora do carro, e foi arrastado por sete quilômetros pelos bandidos.
O ato de protesto, que reunirá parentes de outras vítimas de violência, ainda não tem local definido. Ribeiro, ao falar sobre o assassinato de João, lembra de sua própria história e afirma que nada será capaz de extinguir o martírio da família, refugiada em casa de parentes, para fugir do assédio da imprensa “Não há palavras para expressar a dor (de perder um filho). É incurável. A única coisa que me deu serenidade, tranqüilidade espiritual foi não deixar que a morte (da Gabriela) se tornasse mais um número”, disse.
A comoção nacional provocada pela morte de João Hélio é proporcional à crueldade do crime, que atingiu uma escala inimaginável. O novelista Manoel Carlos, autor de Páginas da Vida, o folhetim do horário nobre da TV Globo, incluiu, de última hora, uma cena em referência ao caso. Na última sexta-feira foi ao ar o capítulo no qual os personagens das freiras Fátima (interpretada pela atriz Inez Viana), Natércia (Bete Mendes)e Zenaide (Selma Reis) leram, chorando, a notícia na primeira página de um jornal.
Manoel Carlos, que perdeu, em 1988, o filho Ricardo, aos 34 anos, vítima da aids, foi veemente sobre a morte do menino João. “É um caso de comoção internacional. Um jornal, em um dia de domingo, tem tiragem de 500 mil exemplares. Uma novela é assistida por 50 milhões de pessoas”, disse, comentando que é necessário expor o caso e mobilizar a sociedade para o combate à violência. Ele comentou que, desde a noite de sexta-feira, já recebeu mais de 500 e-mails de telespectadores que comentavam a cena. “Eu uso a novela para dar o meu grito contra coisas assim.
”O choque pela morte de João Hélio atingiu a todos. Ontem, o site de relacionamentos Orkut registrou centenas de comunidades de luto pela morte do menino. Uma delas batizada de “Luto João Hélio Fernandes”, já tinha mais de 1,3 mil acessos, com cerca de 70 tópicos de discussão sobre a morte da criança. Outra, batizada de “Justiça pela morte de João Hélio”, assume o tom de indignação da sociedade civil pelo ocorrido. No texto de apresentação da comunidade, um apelo: “Não podemos nos calar, deixar que a violência continue destruindo famílias, matando pessoas inocentes, sem dizer a insegurança e medo que nos assombram a cada dia.”
Os pais de Gabriela Prado, hoje separados, coordenam a ONG “Gabriela sou da Paz”. No protesto de terça-feira pela morte de João, estão previstas presenças de parentes da estudante Luciana de Novaes, que ficou paraplégica após ser atingida por bala perdida no Campus da Universidade Estácio de Sá, e de Priscila Belfort, irmã do lutador e esportiva Vitor Belfort, desaparecida desde 2004.
Na tentativa de amenizar a dor pela perda da filha, e não deixar que ela se tornasse mais um número da violência, Carlos Ribeiro se engajou em atividades e petições que visavam ao endurecimento das penalidades para crimes como o que vitimou sua filha. A ONG “Gabriela sou da Paz” conseguiu reunir 1.300 mil assinaturas para alteração de 100 itens no Código Penal, entregues no ano passado ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL). “Mas a dor não passa. Nunca passa. As pessoas dizem que ela diminui, mas isso é bobagem. A minha dor hoje é tão intensa quanto era há quatro anos (quando Gabriela morreu)”, afirmou