Camisas-de-forças, correntes, cadeados. Dentro de caixas, de pernas para o ar ou debaixo de água. Com o truque certo, Houdini livrou-se de tudo, em todos os lugares. Só não se livrou da morte, há 81 anos. Oficialmente, morreu de uma infecção generalizada depois de ter sido agredido. Mas um sobrinho-neto do mágico anunciou que vai tratar da documentação para que seja desenterrado e analisado. É que ninguém o convence de que o tio-avô não foi envenenado por espíritas cujas artimanhas denunciava em palco.
Nunca foi provado, mas sempre constou que os autores do espancamento foram membros da seita "Os Espíritas", um grupo que fazia sessões de espiritismo, a que pertencia Sir Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes. Houdini infiltrou-se várias vezes nessas reuniões, disfarçado e acompanhado por um agente da polícia, para depois, em palco, explicar como eram feitos os truques que os Espíritas atribuíam a almas de outro mundo.
E recebeu ameaças. Dois anos antes de o mágico ser espancado, já Conan Doyle tinha planos para o seu futuro: "Um dia haverá de receber o que merece no resto da sua curta vida." A 22 de Outubro de 1926, com 52 anos, quando se preparava para mais um espetáculo, foi agredido com dois socos que lhe rebentaram o apêndice. Morreu nove dias depois no Grace Hospital, em Detroit. Mas não foi autopsiado.
"A morte de Houdini chocou toda a nação [Estados Unidos], se não mesmo o mundo. Talvez seja agora a altura ideal para verificarmos uma segunda vez as causas da sua morte", disse George Hardeen, o sobrinho-neto, na conferência de imprensa que convocou para anunciar que vai tratar da exumação do corpo do tio-avô.
O lançamento de uma nova biografia, A Vida Secreta de Houdini, terá relançado as suspeitas sobre a morte do mágico e convencido a família a tentar a exumação, que depende de uma ordem judicial. Segundo George Hardeen, uma equipa de peritos poderá examinar o corpo e, usando a tecnologia atual, descobrir se, como suspeitam, o mágico foi envenenado com arsênio
"Havia um motivo para o assassinato de Houdini e esse dado foi encoberto", afirmou aos jornalistas, na sexta-feira, o advogado da família, Joseph Tacopina. Que adiantou ainda que o pedido de exumação será entregue amanhã no tribunal.
Se a vontade dos descendentes de Houdini for aceite, pode finalmente ficar a saber-se como desapareceu o mestre do desaparecimento. Terminará assim o mistério da morte do ilusionista, cujo corpo está enterrado no cemitério Machpelah, em Queens. Famoso pelos truques em que arriscava a vida, poderá ter agora desmascarada a sua morte.
Fonte: Diário de Noticias (Portugal)
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