AmBev pode adotar a garrafa PET para vender cerveja no Brasil

Mas a opção colocaria a empresa na mira dos órgãos ambientais

A AmBev está prestes a abrir um novo flanco para as mais iracundas reações de seus concorrentes. Desta vez, as pedradas terão como alvo a política ambiental da empresa –ou a falta dela. A AmBev tem feito estudos para adotar a embalagem PET na comercialização de cerveja no mercado brasileiro.

Expertise na matéria não lhe falta. A InBev não apenas domina a tecnologia para o uso da resina no envasamento de cervejas como já vende o produto neste tipo de embalagem em diversos países da Europa, entre eles a Rússia e a própria Bélgica.

No Brasil, a adoção do PET vai espalhar cacos de vidro para tudo quanto é lado. É previsível que a concorrência da AmBev irá marchar na direção não apenas dos órgãos ambientais como também das autoridades de defesa econômica.

E tome campanha de propaganda contrária. A vantagem competitiva da embalagem PET é tão gritante que, se alguma indústria do setor adotar a resina, não restará opção à concorrência. Em um espaço de tempo relativamente curto, todos os demais fabricantes de cerveja terão de desenvolver tecnologia própria para o uso do material ou comprá-la de terceiros.

Basta dizer que, no mercado de refrigerantes, 80% da produção são comercializados em embalagens PET. Ao chamar para si o pioneirismo na venda de cerveja em garrafa PET no Brasil, a AmBev se tornará, de longe, o "sugismundo-mor" entre as fabricantes de bebidas candidatíssima à pecha de “Union Carbide do setor cervejeiro”. A indústria brasileira de reciclagem não tem a menor infra-estrutura para suportar a entrada em circulação de uma torrente de embalagens PET.

O problema começa na raiz. No Brasil, há pouco mais de 200 municípios com coleta seletiva de lixo. Pelo menos 30% das cidades, algo como 1,5 mil localidades, não contam com qualquer tipo de coleta. A bola de lixo só aumenta quando a assunto é a capacidade de reciclagem. Dos mais de 2,5 milhões de toneladas de plástico pós-consumo gerados anualmente no país, cerca de 17% têm a resina como matéria-prima.

Desse total de embalagens PET pós-consumo, apenas a metade é reciclada. O número é pequeno e pode se tornar ainda menor. Há uma tendência mundial de queda no índice de reciclagem visa-vis o aumento da produção de garrafas PET. Um exemplo clássico é a experiência norte-americana. Entre 1997 e 2003, a taxa de reaproveitamento de plástico pós-consumo nos Estados Unidos caiu de 27% para 18%.

Ao adotar as garrafas PET na venda de cerveja, a AmBev abrirá caminho ainda para o surgimento de lixões nas grandes cidades do país. As embalagens PET não-reaproveitadas vão parar em aterros sanitários, um crime ambiental dos mais graves. O material é de difícil degradação – chega a durar mais de cem anos – e, ainda por cima, é altamente combustível.

Além disso, a resina PET é uma cicuta. Libera gases como monóxido e dióxido de carbono, acetaldeído, benzoato de vinila e ácido benzóico. O fato é que a AmBev não perde por esperar. Vai apanhar que nem boi ladrão.
Cidade Biz