Repórter demitido pela Globo faz novas revelações

22/04/2007 às 10:54

Lembram do Rodrigo Vianna, aquele reporter que a Rede Globo demitiu? Ele conversou sobre seu caso com o site "Fazendo media". Vale a pena ler. Reproduzo alguns trechos:

"Tentaram te desqualificar?
É. A mesma prática usada com Franklin Martins, a mesma prática usada agora com o editor Marco Aurélio Mello. Um troço feio, desnecessário. Fora o fato de que bloquearam meu crachá imediatamente - com o contrato ainda em vigor, uma arbitrariedade clara - e tive que pular a catraca eletrônica pra sair da Globo... Barrarem entrada de quem eles não gostam, vá lá. Mas barrar o cara que quer sair? Parece coisa de senhor de engenho. Ainda há, ali, mentalidade de senhor de engenho, e há capitães do mato fazendo o serviço sujo ali. Largos setores da imprensa ainda vivem como se a Revolução de 30 não tivesse acontecido. São "barões da imprensa", como disse um colega também admoestado pela direção da Globo.

Bom, se quiser acrescentar alguma coisa...
Tem uma coisa. O diretor de jornalismo aqui de São Paulo [Luiz Cláudio Latgé] perguntou em sua carta-resposta "ah, se ele achava tudo isso, por que não se demitiu antes?". Eu tinha um contrato com a Globo. Quem se demite é empregado. Eu não era empregado, eu tinha um contrato com a Globo. Esse é um ponto. O segundo ponto é que eu não podia pelo contrato me demitir a não ser que eu pagasse uma multa de 800 mil reais, o que eu não tinha a menor condição de pagar uma multa desse tamanho. Tava previsto ali que se romper o contrato unilateralmente ensejaria uma multa que no meu caso chegaria a esse valor. Então, é fazer de conta que isso não existe. Não sei a quem ele tá querendo iludir. Enfim, não vou nem perder tempo porque acho até que ele é um personagem menor nessa história toda. Ele é como um coroinha, querendo agradar o cardeal Ratzinger.... Só pra esclarecer as pessoas mesmo. Eu não podia me demitir, a não ser que pagasse a multa e seria uma atitude talvez heróica, o que não era meu objetivo. Eu sou um profissional, preciso cuidar da minha vida.

E você pode falar sobre esse contrato. Ele é normal?
É normal. A maioria dos jornalistas da Globo, e mesmo fora da Globo, trabalha com esse tipo de contrato. Não é contratado pela CLT, você trabalha sob um contrato em que abre uma empresa que presta serviços pra TV Globo ou...

É o tal contrato de Pessoa Jurídica.
De Pessoa Jurídica.

Tem um tempo máximo ou mínimo, ou é caso a caso?
Não. É caso a caso. Pode ser dois, três, quatro anos.

Isso serve para a contratante economizar com encargos trabalhistas?
Eu imagino que sim, né? E também pra criar um vínculo um pouco mais forte. Porque, veja, se no meio do contrato o contratado está descontente, ele não pode pegar o boné e ir embora. De outro lado também a empresa não pode demitir o sujeito, a não ser que pague a multa. Ou seja, é um outro tipo de relação. No meu caso não existia essa figura de eu me demitir. Outra coisa que ele dá a entender na carta que eu queria continuar da Globo. Ele dizia que os sinais que eu emitia era de que eu queria continuar. Pelo contrário! O que eu queria era, ao fim do meu contrato, ter uma última conversa com o diretor geral de Jornalismo no Rio, pra saber: "o jogo é esse? Porque se o jogo for esse não tem lugar pra mim mais na empresa...". Eles tentaram se antecipar, achavam que eu estava frágil, só não contavam com minha carta - escrita já há algumas semanas. Meus amigos com quem eu tinha conversado sabem que eu já estava preparado para ir embora, já estava procurando outras alternativas.

Tanto que não ficou nem um dia desempregado. Assim que terminou seu contrato com a Globo, assinou com a Record. Como está sendo trabalhar lá?
Estou muito feliz. Trabalho numa redação com ambiente muito mais saudável, sem perseguições, sem chefes que tentam negar o racismo no Brasil ou que tentam reescrever a história das Diretas no Brasil... Humildemente, vou dar minha colaboração para que a Record cresça, ganhe audiência, e crie um mercado mais equilibrado no país.

E com relação à liberdade para fazer jornalismo?
A liberdade de trabalho tem sido total, a estrutura do Jornalismo em São Paulo é excelente, e agora a Record começa a investir também na rede, nas afiliadas pelo Brasil. Estreei no novo emprego com uma série de matérias na Índia, para o Jornal da Record. O curioso é que na mesma semana a Globo correu pra botar uma série sobre a Índia no Jornal da Globo... Eles estão se incomodando lá, pela primeira vez a Globo tem que prestar atenção na concorrência. Não por minha causa, evidentemente, mas porque a Record tem um projeto consistente de Jornalismo, um projeto consistente pra concorrer e, num segundo momento, pra ganhar da Globo.

Da redação/Enock Cavalcanti

Fonte: Olhar Direto

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