Madeleine McCann

Amanhã promete ser um dia decisivo para o desenrolar da investigação ao desaparecimento de Madeleine McCann. Os resultados das análises ao sangue encontrado no apartamento do Ocean Club de onde Madeleine desapareceu são esperados esta quinta-feira pela Polícia Judiciária.
Este dia poderá revelar-se determinante para o casal, Kate e Gerry, e para os amigos que estiveram de férias em Lagos, pois poderão vir a ser interrogados novamente pelos investigadores da PJ.

Após os cães ingleses – dois springer spaniel –, especialistas em detectar sangue, terem encontrado uma mancha suspeita no apartamento, a Polícia Judiciária enviou os vestígios para um laboratório em Birmingham, em Inglaterra. O Forensics Science Service, organismo que realiza as análises científicas para as polícias inglesas, é especializado em determinar o ADN em amostras muito deterioradas. Os vestígios foram enviados durante a semana passada para Inglaterra e os resultados estão prestes a chegar.

O casal inglês, Kate e Gerry McCann, tem, entretanto, passado os dias mais recolhido, procurando antecipar o habitual encontro com a polícia, de forma a ver esclarecidas algumas questões sobre o desenrolar da investigação. Um dos assuntos que pretendem ver explicado é o porquê de Olegário Sousa, porta-voz da Polícia Judiciária, ter dado uma entrevista às televisões BBC e ITN, na qual assumiu, pela primeira vez, a hipótese de Madeleine McCann, de quatro anos, estar morta. Amigos próximos do casal, deram conta da enorme insatisfação dos pais, por não terem sido informados antes da Comunicação Social, acusando inclusive a polícia portuguesa de falta de delicadeza e de insensibilidade.
A polícia, no entanto, segundo apurou o CM, não pretende satisfazer a pretensão dos pais. Ao que tudo indica, os investigadores pretendem ter na sua posse os resultados das análises ao sangue encontrado no apartamento e outros vestígios biológios detectados nas viaturas já inspeccionadas antes de falar com os McCann. Caso se confirme a entrega dos mesmos, já amanhã, a Polícia Judiciária poderá chamar Kate e Gerry para serem interrogados oficialmente.

Recorde-se que no último encontro, realizado nas instalações da PJ, o casal foi interrogado em separado pelos investigadores. O objectivo era confirmar a existência de contradições no casal no que diz respeito à hora em que Madeleine desapareceu e, sobretudo, esclarecer quem foi a última pessoa a ver a criança com vida e a que horas. Este encontro, ao contrário do que aconteceu até então, não se realizou no consulado inglês em Portimão, mas antes nas instalações da PJ. O director da PJ do Algarve, Guilhermino Encarnação, supervisionava estes encontros.

Madeleine McCann desapareceu há mais de cem dias de um apartamento na Praia da Luz, perto de Lagos, onde passava férias com os pais, que na altura jantavam num restaurante a 50 metros do alojamento. Com a criança estavam dois irmãos gémeos mais novos, Sean e Amélie, que dormiam quando os pais deram pela falta de Maddie.

PJ APONTA BATERIAS PARA MORTE DE MADELEINE MCCANN

A Polícia Judiciária ainda não descartou as outras hipóteses, mas a tese de que Madeleine McCann pode estar morta, ganha mais força a cada dia que passa.

O porta-voz da PJ, Olegário Sousa, afirmou ontem, em entrevista à SIC, que a “possível morte da menina é a linha que tem mais atenção da Polícia Judiciária”, sublinhando, porém, que “nenhuma das outras hipóteses se encontra encerrada”.

Questionado sobre os motivos para só agora dar-se importância a esta linha de investigação, o inspector-chefe realçou a sensibilidade deste caso: “Além da delicadeza, porque estamos a falar de uma vida humana, de uma criança. O tempo joga, claramente, contra a Polícia Judiciária. A investigação vai recolhendo elementos, vai trabalhando esses elementos, tentando obter prova. A determinada altura esta hipótese, face à falta de indícios nas outras hipóteses, começou a ganhar mais consistência”.

Em relação à possibilidade de os pais, Kate e Gerry McCann, serem suspeitos no desaparecimento, o inspector-chefe da Polícia Judiciária voltou a afastar essa hipótese. “Até ao momento”, referiu Olegário Sousa, os pais e amigos não são suspeitos. Para já, o único arguido e suspeito no caso é Rober Murat, um britânico vizinho do aldeamento onde estava a família McCann.

Outra das questões respondidas por Olegário Sousa dizia respeito ao atraso na descoberta de sangue no quarto do apartamento do Ocean Club. O porta-voz da Polícia Judiciária garantiu não terem existido falhas, esclarecendo alguns pormenores: “Não falhou nada. É normal no nosso e em outros países. Embora a morte fosse uma das hipóteses, era a que estava mais longe. Os meus colegas do laboratório realizaram o seu trabalho e, passado este tempo, a morte começou a ganhar força. Em Inglaterra existem estes cães, identificou-se alguns locais e eles fizeram o seu trabalho”.

"À PRIMEIRA VISTA TERÁ EXISTIDO UMA FALHA"

José Manuel Anes, Ex-director do Laboratório científico da polícia judiciária, reconhece, enquanto observador externo, que a investigação poderá apresentar falhas

Correio da Manhã – Os vestígios de sangue só foram encontrados agora porquê?

José Manuel Anes – Há várias hipóteses, mas visto por quem está no exterior é um bocado estranho os vestígios não terem sido encontrados antes. Mas atenção, não dominamos os pormenores desta investigação. Há, de facto, uma estranheza por parte das pessoas e observadores, mas não se podem fazer juízos negativos. A Polícia Judiciária tem dado provas da sua competência e só após dados mais concretos se podem fazer juízos de valor.

– Isso pode manchar os procedimentos da investigação e da própria PJ?

– Esse exame é da responsabilidade do laboratório da polícia científica. Não sabemos ainda se houve uma falha. À primeira vista parece ter havido.

– Sabe-se que o sangue encontrado já estaria muito entranhado na parede. Isso prejudica a qualidade da amostra e consequentes resultados?

– Não é por acaso que as amostras foram para o laboratório de Birmingham, em Inglaterra. Temos excelentes analistas, mas há experiência, aparelhos e protocolos de análise para amostras que estejam mais deterioradas. Eles, nesse particular, têm esse ‘know-how’.

– Mas continua a ser possível determinar o ADN e ter conclusões inquestionáveis dessa amostra?

– Dificulta, mas pode não prejudicar. Continua a ser possível determinar o ADN. Poderá demorar mais tempo, porque existem aparelhos e protocolos mais adequados para amostras deterioradas.

– Mas se fosse mais cedo...

– ...seria mais simples e as análises podiam ter sido feitas cá. Mas é precisamente aqui que se levantam dúvidas. Há alguma estranheza em que o apartamento tenha sido libertado dessa custódia de conservação. Não sei se, a certa altura, foi abandonada a hipótese de crime no local.

– O que pode acontecer se o ADN não for de Madeleine?

– Se for de um inglês, aí será mais fácil, porque eles têm uma base de dados de ADN. Se não for de nenhum dos familiares ou amigos e se for de um inglês é possível que lá se chegue.

– É possível dizer-se desde quando aquele sangue está no quarto?

– Não sou especialista em biologia, mas penso ser difícil. Não é impossível determinar o ADN, mesmo com amostras de sangue deterioradas. Dizer que está há um ou dois anos ou se é contemporâneo, já não posso dizer se é possível.

– Já se saberá se o sangue resultou de uma agressão?

– Sim claramente. Isso faz parte do abc da criminalística. Se o sangue indicou arrastamento, se tem direcção ou se é uma mancha circular. A esta altura já sabem como o sangue apareceu lá.

– Os investigadores não deviam ter procurado logo por sangue?

– Não consigo dizer como foi feita a investigação da cena do crime. Não sei o que foi feito. Agora, causa estranheza que só apareça agora. Sem saber detalhes não podemos fazer juízos, mas que é estranho é.

– Como analisa esta investigação?

– Não sabemos se houve falhas, mas há um problema maior relacionado com o procedimentos e organização. Está na altura de reflectirmos na necessidade de formarmos Técnicos da Cena de Crime e de pensarmos melhor na coordenação entre as forças policiais.

– Qual a importância desses técnicos?

– ‘Só’ fazem a preservação e exame da cena de crime. Têm grande experiência e seguem protocolos de exame exaustivo de pesquisa. Que guardam as provas, que as enviam para os laboratórios e evitam a sua contaminação. São fundamentais numa investigação.

PERFIL

José Manuel Anes, de 62 anos, é um dos criminalistas mais conceituados do País. Ligado à maçonaria, Manuel Anes foi grão mestre da Grande Loja Legal de Portugal. Ingressou em 1978 nos quadros do Laboratório Científico da Polícia Judiciária, onde permaneceu durante cerca de 20 anos.

O CASO VISTO LÁ FORA

'DALY MIRROR'

O diário inglês destacou a notícia de que Maddie terá sido atirada ao mar, o que provocou mais angústia no casal McCann.

'THE SUN'

O tablóide britânico noticia o “tormento” da notícia de que Maddie terá sido “atirada” ao mar. O fórum on-line foi sobre o tema.

'HERALD NEWS'

O editorial do diário de New Jersey (EUA) compara o efeito nas pessoas das notícias de Maddie ou dos mortos do furacão Katrina.

'DAILY EXPRESS'

O jornal inglês noticia a inocência reclamada por James Garrod. Foi a sétima manchete consecutiva do jornal com o caso Maddie.

'GAZETA ON-LINE'

O jornal brasileiro diz que, segundo o Ocean Club, os McCann não solicitaram babysitter na noite do desaparecimento.

'EL MUNDO'

O jornal espanhol noticia que o caso Maddie ajudou a minimizar as quebras nas vendas dos jornais ingleses no último mês.
André Pereira
A imagem “http://www.correiodamanha.pt/images/lg.gif” contém erros e não pode ser exibida.

Pais de Madeleine dispensaram babá na noite em que garota sumiu


Vista do resort Ocean Club, na Praia da Luz, de onde desapareceu Madeleine
Os pais de Madeleine McCann não utilizaram o serviço de babá oferecido gratuitamente pela direção do hotel de onde a garota inglesa desapareceu no dia 3 de maio. A informação é da diretora de serviços técnicos do resort Ocean Club, Silvia Batista, que deu uma entrevista exclusiva ao G1 na tarde desta terça-feira (14).

Cuidadosa com as palavras, ela afirma que o resort não falhou no dia do desaparecimento da menina. "O resort não é responsável pelos filhos dos clientes. E oferecemos o serviço de babá, que não foi solicitado pelo casal."

Madeleine foi vista pela última vez em 3 de maio enquanto dormia com seus irmãos num quarto desse resort, localizado na Praia da Luz, na região do Algarve, no sul de Portugal. No momento de seu sumiço, seus pais, os médicos Kate e Gerry MacCann, haviam saído para jantar num restaurante próximo do local.

Na entrevista, Batista disse ainda que a direção do resort adverte todos seus clientes a tomarem cuidado por causa de assaltos, que aumentam durante a alta temporada (durante o verão europeu, nos meses de julho a setembro). "Ocorrem de 5 a 6 assaltos por mês no resort. Então nós orientamos os hóspedes a trancar sempre as portas, não deixar janelas abertas e cuidar de seus pertences", disse Batista, para quem ainda há muita confusão e desinformação no caso do sumiço da garota inglesa.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

G1 - De que forma o hotel está colaborando com as investigações?
Batista - Estamos dando todo tipo de informação e de depoimentos que ajudem a polícia, mas não sei precisar exatamente o que eles estão pedindo. Isso é com o pessoal da investigação.

Os funcionários estão sendo chamados para depor?
Não que eu saiba.

O quarto usado pelo casal está fechado?
O quarto ficou fechado por dois meses, reabriu por 15 dias e depois fechou de novo. No período que esteve aberto houve hóspedes por lá.

O movimento do resort mudou em relação à mesma época do


Resort de onde Madeleine desapareceu fica na região do Algarve, no sul de Portugal (Mapa: G1)


ano passado?
Batista - Não. Agora estamos em alta temporada, então temos bastante movimento, mas nada mudou em relação ao ano passado.

E a segurança? Vocês mudaram alguma coisa após o desaparecimento de Madeleine? Há muitos curiosos no local?
Sim, há muitos curiosos, mas nada que altere nossa rotina. Nós temos segurança por causa dos assaltos. Em alta temporada ocorrem cerca de 5 a 6 assaltos por mês no resort, então nós orientamos os hóspedes a trancar sempre as portas, não deixar janelas abertas e cuidar de seus pertences. Mas nada mudou na segurança por causa do incidente.

Qual a sua opinião sobre o ocorrido? Você acha que foi falha da segurança do resort?
Eu não sei dizer o que aconteceu. Existem muitas versões, muitas hipóteses e muitas contradições. As pessoas dizem muitas coisas, está tudo muito confuso. Mas não acho que a falha tenha sido nossa. O resort não é responsável pelos filhos dos clientes. Nós advertimos todos a cuidarem da segurança por causa de assaltos apenas. E oferecemos o serviço de baby sitter (babá), que não foi solicitado pelo casal.

Como funciona esse serviço no resort?
O hóspede deve pedir pelo telefone e as garotas (meninas inglesas) vão até o quarto para cuidar das crianças. É gratuito e está incluído no pacote de férias, assim como as recreações diurnas. Mas os McCann não pediram esse serviço.

Por que não pediram?
Acho que eles estavam despreocupados, acharam que não havia problema.

Era a primeira vez da família MaCann no Ocean Club?
Sim, eles nunca haviam freqüentado o resort.

Vocês têm alguma relação com a campanha pela busca de Madeleine?
Não, apenas estamos colaborando com as investigações.
A imagem “http://gazetaonline.globo.com/imagens/logo.gif” contém erros e não pode ser exibida.

Polícia acredita que corpo de Madeleine foi jogado no mar
  • Agência ANSA

  • Londres e Lisboa - A polícia portuguesa considera agora a hipótese de que a garota britânica, Madeleine McCann, desaparecida no sul de Portugal desde o último dia 3 de maio, esteja morta e que seu corpo tenha sido jogado no mar.

    Segundo informou o jornal português Diário de Notícias, a garota de quatro anos foi assassinada e seu corpo teria sido colocado dentro de um saco de lixo junto com pedras e depois jogado no mar.

    Para os detetives portugueses cedo ou tarde o corpo de Maddie será achado na costa do país, atraído pelas marés ou pego pelas redes dos pescadores.

    Ontem à noite, amigos pessoais dos McCann afirmaram que os pais da garota, Gerry e Kate, "estão arrasados" ao escutar notícias como essas.

    "Eles seguem com espírito positivo e rezam para que Madeleine esteja com vida e que em breve possam se reencontrar de novo", disse uma fonte ligada a família.

    A última versão surge em meio às teorias que sugerem que Madeleine havia sido assassinada dentro do local onde desapareceu, o quarto de hotel no complexo turístico de Ocean Club na Praia da Luz.

    Até mesmo seus pais, ambos médicos e com 39 anos, admitiram esta semana pela primeira vez a possibilidade de que a garota esteja morta.

    Segundo o Diário de Notícias, que cita fontes policiais, ainda não está claro se Maddie morreu por homicídio ou por acidente. "Não descartamos nenhuma possibilidade", declarou essa fonte policial.

    Enquanto isso, as polícias britânica e portuguesa voltaram a interrogar um dos amigos dos McCann que estava em férias na região de Algarve no momento do desaparecimento da garota, o advogado James Gorrod.

    Os detetives suspeitam do britânico de 34 anos por haver dado depoimentos contraditórios.
    A imagem “http://www.jornaldamidia.com.br/imagens/logo_jm.jpg” contém erros e não pode ser exibida.

    PJ acredita que chave são os amigos dos Mc Cann



    JOSÉ MANUEL OLIVEIRA
    MIGUEL VETERANO JR. (imagem)

    O porta-voz da PJ para o caso Madeleine multiplicou-se ontem em declarações públicas, insistindo em que a possível morte da criança é nesta altura o caminho a que as autoridades policiais estão a dar mais força.

    Numa altura em que se aguarda pelos resultados dos exames laboratoriais feitos em Birmingham, Inglaterra, para testes de ADN aos vestígios de sangue de detectados no apartamento do The Ocean Club, na Praia da Luz, perto de Lagos, de onde Madeleine McCann desapareceu a 3 de Maio, a Polícia Judiciária (PJ) continua a actuar discretamente no terreno escutando conversas em locais públicos e observando populares, como apurou o DN.

    De resto, os investigadores têm em seu poder "muita informação" e até já saberão quem estará na origem da morte de Madeleine. Residirá nos amigos dos pais que jantavam no grupo naquela noite a chave do mistério. E o mar continua a ser uma das hipóteses para fazer o desaparecer o corpo.

    O porta-voz da PJ para o caso Madeleine, inspector-chefe Olegário de Sousa, reiterou a tese da morte, em entrevista à SIC, quatro dias depois de, pela primeira vez, ter admitido esse cenário às estações televisivas BBC e ITN. Mas "até ao momento", observou, os pais de Maddie não são suspeitos do seu desaparecimento. Olegário de Sousa considerou, aliás, "perfeitamente normal" o regresso da polícia ao apartamento no resort onde o casal McCann passava férias, tendo por objectivo recolher provas com cães que detectam vestígios de cadáveres. Garantiu, a propósito, que "não falhou nada" no início da investigação, sublinhando o facto de a Polícia Científica ter recolhido nessa altura o maior número de indícios jamais obtidos num caso. Contudo, só agora a PJ tomou conhecimento da existência em Inglaterra de cães especializados em detectar odores de cadáveres.

    Já em declarações à TVI, Olegário admitiu que venham a ser constituídos "novos arguidos", podendo tal estatuto recair em actuais testemunhas neste processo.

    Enquanto vai tentando assimilar o cenário da morte da filha mais velha, o casal McCann procura resguardar-se o mais possível dos olhares indiscretos, tendo optado pela zona mais cara da Praia da Luz em termos imobiliários, onde vivem, na sua maioria, cidadãos britânicos, muitos dos quais já aposentados. Localizada na urbanização Luz Parque e com vista sobre o mar, a moradia Vista Mar, onde os pais de Madeleine e os dois irmãos gémeos estão alojados há mais de um mês, "vale 800 mil euros", tendo sido construída "há menos de dez anos", assegurou ao DN a responsável de uma empresa de mediação imobiliária na zona
    A imagem “http://imgs.sapo.pt/images/c2/dn.sapo.pt/layout/logo_dn2.jpg” contém erros e não pode ser exibida.



    A INVESTIGAÇÃO NA CENA DO CRIME



    José Manuel M. Anes
    ex-criminalista do Laboratório de Polícia Científica da PJ

    O caso Madeleine tem sido alvo de comentários de carácter conspiracionista, pretendendo fazer crer que o Governo britânico "exigiu" ao nosso Governo (e à nossa Polícia) que seguisse exclusivamente a hipótese de rapto. Ora, não se pode confundir a Sky News e outros órgãos de comunicação com a Polícia britânica. Na realidade, foi a Polícia britânica e os seus cães - postos à disposição da PJ -, treinados para farejar sangue não fresco e odor de cadáveres, que terão levado à descoberta (três meses depois do desaparecimento da pequena!) de manchas de sangue numa parede e numa cortina do apartamento dos McCann. Isto não só contradiz a tese conspiracionista, como coloca um problema delicado para a nossa PJ, e também para aqueles que, como eu e muitos outros, sempre têm defendido a sua competência e o seu bom trabalho e não têm razões para mudar de opinião.

    De qualquer modo, mais do que apontar eventuais falhas, e até porque os exames de DNA aos vestígios de sangue estão ainda a ser feitos em Inglaterra (Birmingham) e ainda não sabemos a quem eles pertencem (e se são relevantes para o crime em questão), o que interessa é reflectir sobre uma questão que hoje está tão em voga (através das séries televisivas) e que tem a ver com a cena do crime.

    A questão fundamental de uma investigação criminal tem a ver com a preservação e exame da cena do crime e da consequente recolha de provas materiais. Podemos ter excelentes Investigadores Criminais (como temos), excelentes analistas de Laboratório de Polícia Científica (como temos), mas se não tivermos especialistas treinados exclusivamente na Cena do Crime, será muito difícil fazer-se um bom trabalho. A série CSI tem ajudado à confusão nas mentes do público, já que nela os criminalistas (os "forensics") tanto fazem exame à cena do crime, como fazem investigação criminal, como ainda vão a correr para o laboratório forense (ou criminalístico, como queiram) fazer análises. Isso já não é verdade nos dias de hoje, pelo menos nos países com uma polícia moderna. É necessário, pois, haver técnicos especializados na preservação, no registo (desenho, fotografia, vídeo, etc.) e no exame da cena do crime (pesquisa de objectos e de vestígios diversos), os quais não sejam nem analistas do Laboratório, nem Investigadores Criminais; é claro que já existem especialistas de impressões digitais, fotógrafos, desenhadores e criminalistas do laboratório mas do que estamos a falar é de outra classe de profissionais. Serão eles aquilo que se denomina nos países anglo-saxónicos, de cene of de crime officers, oficiais (ou agentes) da cena do crime que se ocupam com grande responsabilidade desta questão basilar e indispensável da investigação de um crime e que deverão receber o mais rapidamente possível a cena do crime dos first responders, os que tomaram conta da ocorrência em primeiro lugar (em Portugal, normalmente a GNR e a PSP) e que isolaram convenientemente o local do crime.

    Este é um problema que exige a maior coordenação entre polí- cias e forças de segurança, em Portugal, e que deve merecer a maior preocupação de todos, a começar pelos responsáveis governamentais que superintendem estes corpos. Mas é também um problema da justiça, já que se uma cena do crime não for devidamente preservada, tudo o que for recolhido pode ser posto em causa (poderá ser invocada uma eventual contaminação, por exemplo), assim como se escapar alguma prova material aos examinadores, a investigação do crime pode estar gravemente comprometida. Todas estas (e outras) precauções são fundamentais para assegurar também a indispensável cadeia (ou custódia) da prova material sobre a qual assenta uma boa justiça. É pois indispensável termos bons técnicos da cena do crime que façam exclusivamente esse trabalho com profissionalismo e seguindo os protocolos de exame da cena do crime (quer em espaços fechados, quer ao ar livre) internacionalmente estabelecidos.
    A imagem “http://imgs.sapo.pt/images/c2/dn.sapo.pt/layout/logo_dn2.jpg” contém erros e não pode ser exibida.