Lucien Luiz
Dois irmãos, que não se viam há 59 anos, se reconheceram na fila de espera de um hospital. Essa história não faz parte de nenhum roteiro de filme, tampouco é obra literária. Ela aconteceu de verdade, ontem, no Hospital Lauro de Souza Lima, em Bauru. Maria Lustosa Brandão, 73 anos, e Osvaldo Lustosa Brandão, 58 anos, se reencontraram por acaso, quando ele viu o nome da irmã na lista de pacientes ao pedir uma informação à recepcionista.
“Sem querer, vi o nome dela no papel de pacientes que seriam atendidos no dia. No primeiro momento, pensei que pudesse ser minha mãe, mas tive a surpresa e a alegria de reencontrar minha irmã. Esperei muito por esse momento”, relatou Osvaldo, emocionado.
“Sempre quis saber por onde ele andava, já tinha até perdido as esperanças. Mas, hoje, esse sonho se tornou realidade e, por acaso”, comentou a irmã, com um sorriso de felicidade no rosto.
A história dos irmãos não é formada por episódios de alegria, mas com toda certeza ontem teve um capítulo feliz. Maria contou que o irmão Osvaldo foi doado, ainda bebê, a uma família de Bauru, quando ela tinha 14 anos de idade. Na época, sua mãe, com sete filhos para sustentar, resolveu entregar o menino por falta de condições financeiras para criá-lo.
“Meu pai tinha morrido ainda quando minha mãe estava grávida dele (Osvaldo). Desesperada e sem muita instrução, seguiu o conselho de alguns conhecidos, que falaram para que ela desse os filhos mais novos e retomasse quando estivesse melhor de vida. Além do Osvaldo, mais três irmãs foram entregues a outras famílias. Nunca mais encontrei com elas”, lembra Maria, como se a história estivesse acontecendo recentemente.
Depois de alguns anos, a matriarca, que continuou vivendo em Bauru com os filhos mais velhos, tentou procurar Osvaldo com a família que havia acolhido o menino. “Mas eles não deixaram ela nem ver o Osvaldo, dizendo que ele não fazia mais parte da família dela. Minha mãe, como não tinha muito conhecimento sobre a Justiça, acabou desistindo e morreu sem rever o filho”, acrescenta Maria.
“Para mim, essa história é uma surpresa, porque nunca fiquei sabendo que a minha mãe foi atrás de mim para me ver”, emendou Osvaldo, entendendo a atitude dos pais que o acolheram.
Apesar das décadas de separação, a distância geográfica entre os dois irmãos foi muito pequena durante todo esse tempo que se passou. Maria mora já há alguns anos em Agudos, a 16 quilômetros de Bauru, onde Osvaldo vive desde quando nasceu. “Tão perto e tão longe ao mesmo tempo, meu Deus!”, exclamou o irmão enquanto Maria dava seu depoimento à reportagem.
Ela teve dois filhos, que hoje moram no Rio de Janeiro. Osvaldo ainda vive com a família que o adotou, mas não chegou a casar nem a ter filhos. “Ainda está inteirão, dá tempo de encontrar um bom partido”, brincou Maria referindo-se ao irmão.
O casal foi o principal assunto do hospital ontem, principalmente entre os funcionários, que se emocionaram com o reencontro. “Foi lindo demais. Depois de tanto tempo, se encontrarem aqui, ainda dessa maneira, por acaso. Só em filme”, comentou Vilma Pinheiro, vigilante que atendeu Osvaldo quando ele viu o nome da irmã na lista de pacientes.
Papo entre os dois, com certeza não vai faltar, afinal, deve haver muito assunto até colocarem a conversa em dia. “Quero levá-lo para conhecer os nossos outros irmãos, que hoje vivem em São Paulo. Esse Natal, se Deus quiser, vamos passar juntos pela primeira vez. Estamos juntos de novo”, finalizou Maria, entusiasmada.
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Grafia do sobrenome
Embora mal se conhecessem, Maria e Osvaldo demonstraram afinidade e comum numa relação de irmãos, como se convivessem há anos. Prova disso foi a discussão que os dois tiveram no hospital sobre a grafia de seus sobrenomes.
Ela dizia que o nome Lustosa se escreve com “s”, mas o irmão insistia na letra “z”. “Não, não, é com ‘s’ mesmo, tenho certeza, pode escrever assim moço”, disse Maria, interrompendo Osvaldo no momento em que ele descrevia seu nome à reportagem.