Polícia britânica é declarada culpada pela morte de Jean Charles

LONDRES (AFP) — A polícia britânica foi declarada nesta quinta-feira culpada por ter infringido as regras de segurança no caso da morte do brasileiro Jean Charles de Menezes numa estação de metrô de Londres após os atentados de 2005, ao término do julgamento realizado no tribunal de Old Bailey, em Londres.

Depois de a justiça anunciar seu veredicto, o juiz Richard Henriques multou a polícia no valor equivalente a 364.000 dólares na moeda local e ordenou ainda que a força pagasse 800.000 dólares de custos.

O advogado da polícia metropolitana sustentou, por sua vez, que Jean Charles reagiu "de maneira agressiva e ameaçadora" quando foi parado pelos policiais.

Em 22 de julho de 2005, na estação de metrô de Stockwell, sul de Londres, o brasileiro recebeu sete tiros na cabeça ao ser confundido por policiais britânicos com Hussain Osman, terrorista que foi condenado a prisão perpétua no início deste ano.

A morte de Jean Charles ocorreu num momento em que a capital inglesa ainda estava traumatizada com a série de atentados terroristas ocorridos duas semanas antes que deixaram 52 mortos e 700 feridos. No dia anterior, a polícia havia frustrado outro ataque.

O segundo maior partido britânico, o centro-esquerdista Liberal Democrata, imediatamente pediu que o comissário Ian Blair, oficial responsável pela operação, se demitisse.

"O veredicto torna inevitável que Ian Blair assuma a responsabilidade em nome da organização inteira e renuncie", disse o empresário porta-voz Nick Clegg, que luta para ser o próximo líder do partido.

"A principal prioridade hoje é mostrar que nós temos uma força policial em Londres preparada para assumir inteiramente a responsabilidade por seus atos".

Mas o responsável pela Metropolitan Police Authority (MPA), que acompanha o cotidiano e as finanças da polícia, expressou seu completo apoio a Blair.

"O MPA apóia completamente o comissário e vai continuar a trabalhar com ele, com sua equipe e com todo o pessoal da MPS para alcançar um alto nível de qualidade da polícia e para todos em Londres voltem a confiar na instituição", disse Len Duvall.

No ano passado, promotores britânicos absolveram os oficiais que atiraram contra Jean Charles por "evidências insuficientes".

Esta decisão irritou a família de Jean Charles, que acusava a polícia de encobrir a situação. O governo brasileiro também expressou seu desapontamento.

A polícia negou a acusação de que teria havido 19 "falhas fundamentais" de Scotland Yard e de que teria cometido uma série de "erros catastróficos", que acabaram culminando na morte do brasileiro de 27 anos.

No final do caso, o juiz Henriques falou à corte: "Este foi um caso isolado ocorrido em circunstâncias extraordinárias. Uma pessoa morreu e muitas outras foram postas em perigo potencial".

O juiz acrescentou que a pesada multa poderia causar perdas para os cofres públicos e para os custos da polícia.

A imagem “http://afp.google.com/hostednews/img/afp_logo.gif?hl=pt” contém erros e não pode ser exibida.