Grampo após roubo de blindado levou à prisão de ladrões do Masp

Polícia investigava bando envolvido em assalto a carro-forte Identificado mais um criminoso, que ainda está foragido. Museu recebeu pedido de resgate e foi instruído a publicar anúncio de venda de fazenda de Portinari.

Bruno Tavares, Rodrigo Pereira, Josmar Jozino e Camilla Haddad

Surgiu de um grampo telefônico a primeira pista da polícia para desvendar o paradeiro das telas de Picasso e Portinari furtadas do Masp, na Avenida Paulista, no dia 20. No rastro de uma quadrilha envolvida no assalto a um carro-forte, investigadores do Departamento de Investigações Sobre Crime Organizado (Deic) ouviram de um dos suspeitos monitorados a menção ao Masp num telefonema. O Deic prendeu Francisco Laerton Lopes de Lima, de 33 anos, e, a partir dele, chegou ao comparsa, Robson de Jesus Jordão, de 32, e ao "cativeiro" em que os quadros estavam escondidos, em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo.

A polícia tenta agora capturar Moisés Manoel de Lima, terceiro integrante do grupo que invadiu o museu, cuja identidade foi revelada ontem. O bando é apontado como executor de um plano arquitetado por mais uma ou duas pessoas, que teriam determinado quais obras deveriam ser subtraídas.

Embora o Deic tenha fortes indícios de que o crime foi encomendado por R$ 5 milhões, a Polícia Civil investiga uma tentativa de extorsão ao museu. No dia 3, uma carta endereçada ao presidente do Masp, Julio Neves, pedia US$ 10 milhões de resgate pelas telas.

As exigências iniciais eram típicas de seqüestro, como a de que a polícia e a imprensa ficassem longe do caso. O texto mandava a direção do museu publicar um anúncio num jornal do Vale do Paraíba, em 15 de janeiro, com os dizeres: "Está à venda uma fazenda que pertenceu a Cândido Portinari."

O comunicado deveria conter ainda o número de um telefone celular para que os criminosos pudessem dar continuidade às negociações. Só depois disso eles enviariam fotos comprovando que estavam com as telas. O que a polícia quer saber é se os próprios ladrões eram os remetentes da carta ou se o museu foi alvo de golpistas.

Antes de serem levadas para Ferraz, as obras foram escondidas em outra casa. Ao ser preso, Jordão, foragido da Justiça, admitiu aos investigadores que já se preparava para transferi-las para um terceiro endereço.

RÉVEILLON

A prisão de Lima ocorreu no dia 27, numa oficina na Avenida Laranja da China, bairro do Limoeiro, zona leste, com base em dados passados por informantes. Ele estava em liberdade condicional e cumprira pena no Centro de Detenção Provisória 1 (CDP) de Guarulhos. No mesmo dia, o o Deic passou a monitorar os passos de Jordão. Policiais fotografaram o réveillon do assaltante em Caraguatatuba, no litoral norte, e suas negociatas no centro da capital.

"Ele era um nômade. Nunca ficava num lugar só", disse o delegado Adílson Marcondes, da 3º Delegacia de Crimes Contra o Patrimônio do Deic. Jordão foi preso na tarde de terça-feira caminhando na Rua Tagipuru, na Barra Funda, zona oeste. Ele confirmou informações que a polícia já tinha sobre o esconderijo em Ferraz.

O bandido chegou a desdenhar dos investigadores ao ver suas fotos no réveillon. "Vocês não têm vida, não? Eu aproveito. Só não tenho vida quando volto aqui", disse Jordão, que fugiu da Penitenciária de Valparaíso. Questionado sobre a escolha dos quadros de Picasso e Portinari, o bandido respondeu: "Tinha um Monet lá que valia bem mais. Só que esses dois tinham mercado."

Nos depoimentos formais, os dois detidos negam participação no furto. Confirmam, porém, ter participado das tentativas anteriores de invasão ao Masp - em 29 de outubro e 18 de dezembro. Logo após a prisão de Lima, o Deic intimou dois vigias feitos reféns na primeira investida do bando. Ambos reconheceram o assaltante. "Eles não pegaram os quadros por acaso nem pretendiam ficar com as telas", disse Marcondes. "Só não sabemos se as obras seriam mandadas para o exterior ou não."

Ladrões de carro furtaram o Masp, diz polícia

Presos nunca tiveram envolvimento nesse tipo de crime; para os policiais, isso reforça a tese de furto encomendado

Quadros de Portinari e de Picasso ficaram 19 dias em uma casa simples de Ferraz de Vasconcelos, na maior parte do tempo sem vigia

Marcelo Soares/Folha Imagem
"O Retrato de Suzanne Bloch" e "O Lavrador de Café" após vistoria na sala de restauro do Masp


GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As pinturas de Pablo Picasso e Candido Portinari foram furtadas do Masp (Museu de Arte de São Paulo) por ladrões de carro que agiam na zona leste da capital paulista, que não passaram das primeiras séries do ensino fundamental nem tinham noção nenhuma de arte.
As obras, por sua vez, permaneceram escondidas 19 dias em uma casa simples da periferia de Ferraz de Vasconcelos (Grande SP), na maior parte do tempo sem nenhum vigia.
Para a polícia paulista, que recuperou anteontem as pinturas furtadas do Masp em 20 de dezembro, o perfil dos dois homens presos e as condições em que as obras foram encontradas não deixam dúvidas de que o crime foi por encomenda. A polícia diz, no entanto, que ainda não identificou o mandante nem um possível comprador.
"Desde o início trabalhamos com a investigação de crime por encomenda", afirma Adilson Marcondes, delegado-assistente do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado). Ele disse desconhecer qualquer pedido de resgate pelas obras.
Para o delegado, os presos Francisco Laerton Lopes de Lima, 33, e Robson Jesus Jordão, 32, participaram do furto das pinturas -o sistema de câmeras do Masp captou imagens de três ladrões.
A polícia identificou um terceiro suspeito -Moisés Manoel de Lima Sobrinho-, que também teria participado do furto das obras. Ele ainda não foi localizado.
Os ladrões usaram um pé-de-cabra e um macaco hidráulico para arrombar o museu. O furto durou três minutos. Os funcionários disseram que não perceberam a movimentação.
Os dois presos negam participação no furto das telas. Mas admitem, segundo a polícia, envolvimento nas duas tentativas anteriores de roubo e furto ao museu. Lima foi preso em 27 de dezembro, no Jardim das Camélias (zona leste de SP). Jordão foi capturado anteontem, na Barra Funda (zona oeste).
Jordão levou os policiais até o local onde os quadros estavam. Ele afirma, porém, que só era o guardião das obras. Disse que recebeu as pinturas de outros criminosos e citou nomes que a polícia acredita serem fictícios. Para o delegado, Jordão chefiou o furto ao Masp.
Segundo suas fichas criminais, Jordão tem ensino fundamental incompleto e Lima não passou do primeiro ciclo (até a 4ª série). Os dois têm condenações por roubo de carro. Foram crimes ocorridos na zona leste da capital paulista. Eles estavam armados quando abordaram as vítimas, segundo as sentenças da Justiça paulista.
Lima estava em liberdade condicional. Jordão fugiu do regime semi-aberto de uma penitenciária de Valparaíso (interior de SP).
"Eles nunca tiveram nenhuma ligação com crimes envolvendo qualquer obra de arte", disse o delegado.
Segundo Marcondes, os dois presos não falaram quanto receberiam pela tarefa. A Folha não teve acesso aos acusados.

Casa
Após ser preso, Jordão levou os policiais até uma casa de três pavimentos na periferia de Ferraz de Vasconcelos. À polícia ele disse que passava a noite no local esporadicamente. Na maior parte do tempo as obras ficaram abandonadas, sem nenhum vigia, segundo seu relato.
A polícia tenta esclarecer quem são os proprietários da casa e se sabiam que o local era usado como esconderijo. Segundo vizinhos, o responsável pelo local seria um jovem, que herdou o imóvel dos pais, que faleceram. A polícia também tenta localizar o jovem.
As obras ficaram no primeiro pavimento da casa, a maior da rua Antonio Vitorino da Costa, no Jardim Sara, em Ferraz de Vasconcelos. Segundo vizinhos, esse imóvel não foi colocado para locação.

Ladrões pediram US$ 10 milhões por obras de arte
Quadros voltam para museu; polícia agora procura receptador das telas furtadas do Masp

A assessoria do Masp informou ontem que o museu recebeu um pedido de resgate de US$ 10 milhões pelas duas obras que haviam sido furtadas no último dia 20. O valor não foi pago pelo museu e os quadros foram recuperados anteontem pela Polícia Civil.

As obras “O Lavrador de Café”, de Portinari, e “O Retrato de Suzanne Bloch”, de Picasso, foram encontradas em uma casa em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo. Ontem, os dois quadros retornaram ao museu.

Cerca de 30 viaturas, além de um helicóptero da Polícia Civil, fizeram a escolta do transporte das obras. Um caminhão-baú climatizado levou os quadros desde o Deic (Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado) até o Masp.

Os quadros haviam sido furtados na madrugada do dia 20 de dezembro, quando ladrões arrombaram o portão principal do museu com um macaco hidráulico.

O furto durou três minutos, das 5h09 às 5h12. Parte da ação foi gravada pelo circuito interno de TV.

Para a polícia, o furto foi encomendado. “É evidente que eles não furtaram [os quadros] para eles [suspeitos presos]. O foco principal agora é chegar ao receptador”, disse o delegado-geral da Polícia Civil, Maurício José Lemos Freire.

A coordenadora do acervo do Masp, Eunice Sofia, afirmou que as telas estão em perfeito estado. Os quadros, no entanto, ainda passariam ontem por uma análise mais minuciosa, com o auxílio de lentes e iluminação especial. As obras devem já ser expostas ao público na reabertura do museu, programada para amanhã, segundo o presidente da instituição, Júlio Neves.

Polícia diz que já identificou intermediário do furto no Masp

Homem teria oferecido R$ 5 milhões aos ladrões pela ação.
Terceiro suspeito já foi identificado, mas permanece foragido.
A polícia informou nesta quarta-feira (9) que já sabe quem contratou os homens que roubaram os quadros do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Além disso, identificou o terceiro suspeito que aparece nas imagens capturadas pelo circuito interno do museu. Ele ainda está foragido.
De acordo com as investigações, para proteger o mandante, os ladrões teriam sido contratados por um intermediário por R$ 5 milhões. Já identificado, ele tem o nome preservado pela polícia. Segundo os vizinhos do local onde as obras estavam escondidas, ele ia com freqüência ao esconderijo dos quadros. “Chamava muito a atenção porque aqui ninguém tem esse tipo de carro. Então era muito carro, muito carro mesmo, de muito, muito valor", conta um dos vizinhos sem se identificar.
Policiamento 24 horas

Foto: Reprodução

Reprodução
Imagem aéra do Museu de Arte de São Paulo, que recerberá reforço na segurança. (Foto: Divulgação)

As duas telas poderão ser vistas novamente pelo público a partir de sexta-feira, quando o Masp será reaberto.


Para que isso ocorra com segurança, a promessa é de que o museu será policiado 24 horas por dia.

A principal mudança na segurança será no sistema de câmeras internas e externas que terão capacidade para identificar com nitidez as pessoas que passam por lá.


Além disso, sensores que detectam quando alguém se aproxima muito das telas já foram instalados e as câmeras antigas começam a ser substituídas.

“À noite ela está ligada. Se alguém entra, ela acende, dá um foco na pessoa e a acompanha. Não adianta esconder que ela vai atrás filmando tudo”, conta Fernando Pinho, superintendente do Masp.

O museu, que passa por dificuldades financeiras, não vai pagar nada pelo sistema de segurança, doado por uma empresa de tecnologia. “É lamentável que tenha q ocorrer uma tragédia como essa para que a gente tenha que receber manifestações de apoio, inclusive financeiras. Deus escreve certo por linhas tortas", diz Julio Neves, presidente do Masp.

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Masp comemora em alto estilo volta dos quadros furtados

Sob forte esquema de segurança, a polícia de São Paulo devolveu, às 11h02 desta quarta-feira (9), os dois quadros furtados do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Pelo menos cinco carros, 14 motos e um helicóptero Pelicano da Polícia Militar escoltaram um furgão onde estavam as telas O Retrato de Suzanne Bloch, de Picasso, e O Lavrador de Café, de Portinari. As obras foram recuperadas na terça-feira (8), 19 dias após o furto.


As obras de volta. Nos estaque o cativeiro do roubo

O arquiteto Julio Neves, presidente do Masp, recebeu oficialmente as obras em solenidade que contou com a participação de diversas autoridades, a maioria integrantes do governo do Estado. Na coletiva de imprensa que aconteceu no museu, Neves fez vários elogios à atuação da polícia e dos órgãos públicos. "Esse País cresce pelo trabalho dos anônimos", afirmou. "Devemos ter orgulho da nossa polícia".

Neves lembrou que esse foi o primeiro caso de furto no museu em 60 anos de funcionamento. E destacou que, nos últimos 10 anos, mais de 3,5 milhões de pessoas visitaram o museu paulista. Segundo Neves, várias medidas de segurança interna - que ele não quis listar - foram e serão tomadas para evitar um acontecimento parecido.

O presidente do Masp também elogiou o acervo do museu, que chamou de "patrimônio histórico do País" e destacou que o museu já participou de mais de 80 exposições em todo o mundo, emprestando obras, sem as quais algumas exposições não teriam sido feitas. Ele destacou que as obras do museu são "insubstituíveis" porque cada obra de arte é única e original.

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