LISBOA (Reuters) - A polícia portuguesa negou o suposto vazamento de um depoimento de Kate McCann no qual ela dizia que sua filha Madeleine chorava em seu quarto na noite anterior ao seu desaparecimento, há um ano.
O depoimento foi feito por Kate McCann à polícia portuguesa investigando o desaparecimento, de acordo com o canal de televisão espanhol Telecinco, que o publicou na semana passada.
O Telecinco informou que Madeleine havia perguntado para sua mãe no dia 3 de maio, na manhã do dia em que desapareceu, por que ela não havia ido ao quarto quando ela e seus irmãos choraram na noite anterior.
A publicação levou o porta-voz dos McCann, Clarence Mitchell, a pedir uma investigação às autoridades portuguesas sobre como o depoimento foi divulgado, já que ele estava protegido por leis de sigilo.
Em uma rara declaração no caso, a polícia portuguesa disse na segunda-feira que "é falsa a afirmação de que o conteúdo publicado em notícias reproduzia o material da investigação, que está protegido pelo sigilo legal".
"Por outro lado, a polícia lamenta a declaração infundada do porta-voz, acima de tudo em um momento quando passos significativos estão acontecendo na investigação."
A declaração disse que Mitchell acusou publicamente a polícia de ser responsável pelo vazamento.
A polícia portuguesa considerou Kate e Gerry McCann como suspeitos oficiais no caso. Madeleine desapareceu de seu quarto em um hotel em Algarve poucos dias antes de seu quarto aniversário.
A polícia não fez prisões no caso e não sinalizou estar mais perto de achar Madeleine.
(Reportagem de Axel Bugge)
Porta-voz dos McCann é um "mentiroso"
David Jones / ap |
Clarence Mitchell deu várias entrevistas em que insultava a Judiciária |
Marisa Rodrigues
O porta-voz dos pais de Madeleine McCann "é mentiroso e maquiavélico". Quem o diz é o presidente da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal (ASFIC). Carlos Anjos acusa Clarence Mitchell de ter uma estratégia bem definida. "Quer desacreditar a Polícia Judiciária (PJ) e inventar desculpas para que o casal não venha a Portugal participar na reconstituição da noite do crime. Mentiu com quantos dentes tem na boca", dispara.
Carlos Anjos reagiu assim depois de ontem a PJ ter garantido serem falsas as informações avançadas pelo canal de televisão espanhol "Telecinco" que anunciou ter tido acesso a interrogatórios de Kate e Gerry. "É inteiramente falso que o conteúdo da notícia reproduza matéria constante do inquérito e que se encontra em segredo de justiça", assegurou a PJ em comunicado, emitido após uma reunião em Lisboa entre Alípio Ribeiro e Paulo Rebelo, coordenador da judiciária de Portimão e responsável pela investigação ao desaparecimento de Madeleine.
Depois da notícia, avançada quinta-feira como sendo um "exclusivo" do canal espanhol, Mitchell desdobrou-se em entrevistas a televisões britânicas. Insultou a PJ e culpou os inspectores portugueses daquilo a que chamou de "grotesca violação do segredo". Acusou-os de encetar uma "manobra desonesta para desacreditar a família".
Nesse mesmo dia, Kate e Gerry estavam em Bruxelas a apresentar um projecto europeu de ajuda à localização de crianças desaparecidas. Enquanto isso, em Leicestershire, Inglaterra, a equipa de Paulo Rebelo acompanhava inquirições previstas na carta rogatória.
Perturbar diligências
A PJ diz "lamentar a insustentada intervenção do porta-voz, sobretudo num momento em que se realizavam significativas diligências para a investigação". O presidente da ASFIC vai mais longe. "Finalmente sabe-se de que lado está a verdade. Enquanto a PJ cumpria o dever de investigar o que aconteceu à criança, o porta-voz dos pais manipulava a opinião pública", acusa.
Para Carlos Anjos, "quem montou um esquema foi o senhor Clarence Mitchell. Precisava de arranjar uma desculpa para o casal não participar na reconstituição, dizendo agora que não confia na PJ". A ASFIC está disponível para dar apoio jurídico aos investigadores que se sintam visados pelas declarações de Mitchell e queiram avançar com uma queixa-crime.