Avô de Isabella diz que mãe 'mentiu em alguns pontos'

Avô de Isabella diz que mãe 'mentiu em alguns pontos'


Antonio Nardoni, avô paterno da menina Isabella, disse que Ana Carolina de Oliveira, mãe da criança, mentiu e omitiu informações na entrevista que o "Fantástico" exibiu neste domingo (11).

Isabella foi morta em 29 de março após ser espancada, asfixiada e jogada do 6º andar do prédio na Zona Norte de São Paulo onde fica o apartamento de seu pai, Alexandre Nardoni, e da madrasta, Anna Carolina Jatobá. Ela tinha 5 anos de idade.

Nesta segunda (12), o pai de Alexandre Nardoni comentou a entrevista dada por Ana Carolina de Oliveira. Ele disse ao G1: "Eu entendo que na primeira parte ela foi bem. Ela falou da filha. Ela está sofrendo e nós também estamos sofrendo. Mas eu acho que, em um segundo momento, ela mentiu em alguns pontos e omitiu outros pontos".

O avô de Isabella cita como exemplo a declaração de Ana Carolina de que ela e Alexandre não se falavam. Antonio Nardoni diz que, "ultimamente", os dois não se falavam, mas que Ana Carolina teria entrado em contradição na entrevista ao afirmar que soube do ciúme de Anna Carolina Jatobá por meio do próprio pai de Isabella. Também disse que Ana Carolina "se entendia" com Jatobá sobre questões relacionadas à menina.

Depois de falar com Antonio Nardoni, a reportagem do G1 entrou em contato com a família de Ana Carolina Oliveira. O avô materno de Isabella, José Arcanjo, afirmou que antes de responder às críticas preferia ler a reportagem.

Para Antonio Nardoni, Ana Carolina de Oliveira também tinha ciúme de Anna Carolina Jatobá por causa de Alexandre. "A Jatobá tirou o Alexandre dela", justificou ele, dizendo que, antes disso, Ana Carolina de Oliveira e Anna Jatobá eram amigas. "Elas se falavam e trocavam e-mails antes de o Alexandre ficar com a Jatobá", acrescentou.

O avô paterno de Isabella também negou que o filho tivesse ameaçado a mãe e a avó materna de morte ao discordar de Ana Carolina que queria matricular a criança em uma escola. "O Alexandre queria que a menina ficasse na nossa casa (dos avós paternos). (...) Ela usava a menina para judiar do Alexandre. Ela não deixava a menina vir aqui em casa", disse Antonio Nardoni, acrescentando que Ana Carolina teria dito a Alexandre que Isabella nunca ficaria com a família dele.

O avô paterno também apontou que Ana Carolina de Oliveira teria mudado de postura ao não reiterar na entrevista ao "Fantástico" que a criança possuía um "amor incondicional pelo pai", conforme o fez em outro depoimento.

Na opinião do pai de Alexandre, Ana Carolina de Oliveira deixou de informar que, além da pensão mensal de R$ 250, o pai de Isabella dividia despesas como roupas, material, formatura e passeio escolar. "O que ela comprava, ela acaba dividindo com o Alexandre. É estranho ela falar só o valor da pensão, como se fosse só aquilo", disse ele, que definiu Ana Carolina como de "gênio difícil". De acordo com Antonio Nardoni, o valor da pensão era maior, mas Ana Carolina e Alexandre concordaram em reduzi-lo. "Acho que ela deveria ter explicado."

Antonio Nardoni acredita que o depoimento de Ana Carolina de Oliveira à Justiça, como testemunha de acusação, será prejudicial para o casal e que pretende discutir com os advogados a possibilidade de impedir a mãe de Isabella de testemunhar.

Também afirmou, sem apontar suspeitos, que, há cerca de 20 dias, vem recebendo ameaças de morte. "As pessoas mandam carta e recado por outras pessoas. Isso faz uns 15 dias, 20 dias. Mudei de carro por causa disso (das ameaças)", disse ele, que não registrou um boletim de ocorrência.

Leia a seguir alguns pontos da entrevista de Antonio Nardoni:

Testemunha de acusação - "Ela (Ana Carolina de Oliveira) deveria ter impedimento em testemunhar, porque tem interesse no caso. Ela pode ir lá e dizer o que quiser. Ela mudou a forma de se conduzir. Ela dizia uma coisa e agora está dizendo outra. (...) No depoimento inicial, que ela fez no inquérito, ela mudou a postura. Antes, a filha adorava o pai. Agora, não gosta mais."

Suspeita contra o casal - "Eu me preocupo muito (sobre suspeita de Ana Carolina quanto ao envolvimento de Alexandre Anna Jatobá na morte de Isabella), porque ela nunca poderia dizer isso. Ela conhece o Alexandre mais do que ninguém. Ele não gostava que ninguém encostasse a mão em Isabella."

Enterro - "Quando chegamos (ao velório), ela (Ana Carolina) estava dormindo com o namorado dela. (...) O Alexandre ficou ao lado de Isabella com a Jatobá. Quando ela acordou, também não foi falar com ele. Ela estava ao lado do namorado. É uma situação meio desagradável.”

Pensão - "Ela deixou de dizer que o Alexandre dividia todas as despesas com ela, como passeio escolar, formatura, roupas. Eles se entendiam. (...) Normalmente, quem pagava (a pensão) era o Alexandre. Tinha meses que ele se apertava, ele nunca teve um salário alto. Quando ele tinha dificuldades, eu ajudava."

Família de Alexandre tentou inocentá-lo no velório

Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, assassinada no último dia 29 de março, disse nesta segunda-feira que durante o velório da menina a família de Alexandre Nardoni tentou convencê-la da inocência dele na morte da filha. Ana Carolina contou que a mãe de Alexandre, Maria Aparecida Alves Nardoni, aproximou-se dela no cemitério, declarou a inocência do filho e depois nunca mais fez qualquer contato, nem mesmo por telefone.

"A mãe dele (Maria Aparecida) chegou no velório justificando a inocência do filho. Depois disso, nunca mais falou comigo, não fez nenhum contato, em nenhum momento. A irmã (Cristiane) só ligou depois para saber onde seria a missa de sétimo dia", disse Ana Carolina Oliveira.

Ana Carolina Oliveira, que é testemunha de acusação no processo, será representada pela advogada Cristina Leite, que nesta segunda-feira disse que só se manifestaria após o interrogatório de Ana Carolina.

A menina foi asfixiada e depois jogada do apartamento onde o pai e a madrasta dela, Anna Carolina Jatobá, moravam na Vila Mazzei. Para a polícia, Alexandre e a madrasta são os autores do crime, já que a perícia não encontrou vestígios de que uma terceira pessoa tenha invadido o apartamento. Segundo a promotoria, eles cometeram homicídio doloso triplamente qualificado, por motivo cruel, impossibilidade de defesa da vítima e por ter cometido um crime (jogado a menina pela janela do apartamento) para acobertar um outro (a asfixia).

Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, neste domingo, Ana Carolina contou que durante o velório Alexandre não lhe dirigiu a palavra. Ela disse que estava cochilando na sala do velório quando o casal chegou ao cemitério. Apenas a madrasta falou rapidamente com ela, cobrando que Ana Carolina não havia ligado para a filha no sábado, dia do crime. Segundo a avó materna de Isabella, Rosa Oliveira, a família Nardoni também não mostrou interesse para ajudar no enterro da menina.

"Isso me chateou muito. Eles não perguntaram onde Isabella seria enterrada, se havia jazigo ou campa (laje da sepultura). Nós cuidamos de toda a burocracia", disse a avó materna de Isabella.

Rosa contou que as duas famílias chegaram a se aproximar quando Alexandre Nardoni e Ana Carolina Oliveira namoravam, mas o relacionamento esfriou depois que a mãe de Isabella perdeu o contato com o pai da menina, quando se separaram, depois do nascimento de Isabella. Rosa não soube dizer se outros parentes da família Nardoni foram ao enterro da menina, além dos pais e irmãos de Alexandre Nardoni.

"Eu não tenho isso muito claro. Não me lembro muito bem", disse a avó materna de Isabella.

Ana Carolina contou durante a entrevista ao Fantástico que nunca conversava com o casal. Quando telefonava, a madrasta passava o telefone celular diretamente para a menina. Ana Carolina disse que não sabe explicar ou definir o sentimento que tem sobre o pai e a madrasta de Isabella. Ainda abatida, Ana Carolina contou que está fazendo terapia duas vezes por semana para tentar entender tudo o que está acontecendo na sua vida.

"O que está me ajudando é a terapia. É uma forma de me expressar, de soltar o que está preso dentro de mim. Consegui até sair do foco da minha filha e falar de outros problemas que tenho. Algumas amigas ligam desesperadas e eu acabo as consolando", disse ela, que passou o sábado em um retiro espiritual.

A mãe de Isabella disse que foi muito difícil passar o Dia das Mães sem a filha. Ela ficou o tempo todo acompanhada da mãe. Ela disse que não tem como mensurar a saudade que sente da filha e que sente muita falta da menina quando volta do trabalho e à noite, na hora de dormir.

"São momentos difíceis. É difícil ver a minha família como está. De uma forma ou de outra ninguém está bem. Um tenta apoiar o outro, mas é bem difícil. Espero que a Justiça seja feita. A Justiça vai ser feita, é a única coisa que estou apostando", disse a mãe de Isabella.

Ela elogiou o trabalho da polícia e diz que chegou à mesma conclusão que todas as outras pessoas que acompanham o caso sobre a participação do pai e da madrasta de Isabella no crime. Sobre o futuro, Ana Carolina, que não foi trabalhar nesta segunda-feira para tentar resolver problemas pendentes, disse que "vai engatar a segunda marcha nesta terça-feira e tocar a vida".

"Vou tentar levar (a vida) da melhor maneira possível. Não sei que maneira é essa, mas vou tentar. Por enquanto, vivo um dia por vez. Só não quero me expor muito. O caso tomou proporções inevitáveis e uma hora eu tinha que falar, mas eu não quero me estender muito para não passar do que é ponderável", disse Ana Carolina.

Da Agência O Globo