Sem companhia, sem alegria...

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Sem companhia, sem alegria...

O isolamento emocional, provocado por problemas de personalidade ou situações frustrantes, causa tristeza e pode se associar à ansiedade ou à depressão. A solidão não desejada é um dos piores inimigos da estabilidade psicológica e emocional, mas pode ser solucionada com simples medidas.

A causa da solidão é a ausência de um vínculo profundo e íntimo com outra pessoa; o solitário acredita que ninguém o aprecia, o compreende ou se interessa por seus problemas.

Este tipo de isolamento, que não se quer nem se procura, é mais freqüente na velhice, quando muitos entes queridos já foram perdidos, e na adolescência, devido ao medo provocado pelo mundo e pelas mudanças físicas, não compreendidos pelos jovens e que os levam à introsversão.

Além disso, os "sem ninguém" formam um grupo da população cada vez maior nos países desenvolvidos, onde aumenta a quantidade de pessoas solitárias e de telefonemas motivados por problemas de solidão aos serviços assistência psicológica das grandes cidades.

Solidão passiva, solidão ativa

Como surge a solidão? Segundo a psicóloga clínica Carmen Díaz Navarro, "experiências infantis como uma longa doença, a mudança da reidência e a falta de aprendizagem na família sobre a forma como se deve tratar os demais e conseguir relações positivas ajudam a forjar um caráter solitário, o que também é favorecido pela timidez, o complexo de inferioridade ou a fobia social".

Mas além disso, há outros fatores que favorecem o isolamento, ressalta a especialista espanhola:

"Da freqüente mudança da casa, que implica cortar laços com familiares e amigos, passando pela relações nas cidades, mais frias e menos íntimas que a de pequenos povoados; até o aumento no número de divórcios e de separações matrimoniais e o auge dos valores individualistas podem intensificar a solidão ".

Para a psicóloga, se sentir muito sozinho traz importantes conseqüências:

"Com o passar do tempo, a pessoa isolada tende a voltar insegura, com baixa auto-estima, dificuldades nas relações sociais, propensa a dar respostas defensivas, egocêntrica, arredia e um pouco agressiva. Se sentimos solidão podemos nos comportar passivamente e de forma auto-destrutiva, adotando condutas como estar triste ou chorar, dormir, aborrecer-nos, comer em excesso, tomar tranqüilizantes, beber álcool, tomar drogas ou passar horas frente à TV ".

Mas os especialistas também dizem que podemos aproveitar a solidão para enriquecer nossa personalidade e comunicação, comportando-nos ativa e construtivamente, dedicando tempo a diversas atividades - escrevendo cartas, ouvindo música, fazendo exercício, observando a natureza, indo ao cinema, lendo um livro ou fazendo tudo o que nossa criatividade e permitir.

"Este tipo de solidão ativa aumenta a independência, ao estimular a capacidade de se fazer o que se deseja, sem depender dos outros para sentir-se feliz", ressalta a psicóloga.

Aproveitar todas as oportunidades

Se o que se procura não é aproveitar a solidão, mas tratá-la , é preciso dar oportunidades aos relacionamentos: deve-se aproveitar todas as ocasiões para se conhecer pessoas, participar de reuniões e festas, viajar em grupo, conversar por telefone ou pela Internet.

"Prestar ajuda em atividades comunitárias do tipo cultural, esportiva ou comemorativa e ser voluntário em uma organização não-governamental (ONG) são opções válidas, assim como ir a centros que organizam viagens e atividades ou que colocam você em contato pessoal ou telefônico com pessoas parecidas, um método muito utilizado no Ocidente", explica a especialista.

"A convivência com um cachorro, gato ou animal doméstico alivia a solidão ao estimular a pessoa, ajuda-lhe a expressar seus sentimentos e a suprir a falta de contato e interação humana. Os mascotes podem desempenhar o papel de um membro ausente da família, substituindo os filhos que se foram ou que não vieram, um pequeno irmão ou companheiro de jogo, ou um ente querido mais velho que morreu".

Além disso, o tratamento cognitivo e condutivo, que trata a solidão como uma interpretação alterada da realidade, pode ser útil para sair do isolamento, ao ajudar a mudar a percepção negativa que o indivíduo tem sobre si mesmo nas situações sociais, criar uma autoconfiança que lhe impulsione a abrir-se a outras pessoas, e analisar as idéias, ações e emoções que lhe geram mal-estar.

Este método psicoterapêutico também inclui uma exposição progressiva às situações que são evitadas, com o objetivo de se aprender gradualmente a controlar e eliminar a fobia social.

Também pode-se recorrer à "ginástica social". Através do treino em habilidades sociais, aprende-se a atuar em situações diviersas, como iniciar uma conversa, falar fluentemente por telefone, reagir a um cumprimento e preparar-se para situações novas como falar com um desconhecido ou participar de um debate.

Segundo os especialistas, estas técnicas, que incluem aspectos como cuidados com a imagem, a roupa, o modo de andar e os gestos, podem aprsentar um ótimo resultado em poucos meses.

Antídotos para a exclusão

Para se omunicar com as pessoas e romper o isolamento, os psicólogos recomendam colocar-se no lugar do outro. Perguntar-se "como me sentiria em seu lugar?" nos aproxima dos demais e nos permite ter mais simpatia por eles.

Também é preciso pedir carinho, caso haja falta. É importante deixar que os outros saibam que a pessoa procura afeto e se mostrar tão sincero quanto a situação permita. Ao se abrir, falar ou perguntar algo, não há nada a perder e sim muito a ganhar, porque as pessoas estão dispostas a responder com afeto quando alguém se amostra acessível.

Aceitar as demonstrações de carinho é fundamental para romper o isolamento. Para que uma pessoa o aprecie é preciso expor-se à situações em que isto possa acontecer. Estamos habituados a rejeitar estas, mas é preciso aprender a assimilar estas expressões de afeto.

Também é importante escutar os outros. Mostrar apreço implica dar, mas também receber. Abrir-se às pessoas, escutando-as, é uma forma de fazê-las felizes e de se enriquecer: por exemplo, perguntando a alguém sobre algo do que gostaria de falar e pensando no que se possa ter em comum com essa pessoa enquanto ela se expressa.

Pedir explicitamente o que se deseja

Embora a melhor forma de entender-se seja falar, boa parte das brigas são provocadas por que as pessoas não sabem o que as outras querem. Por isso é conveniente pedir claramente o que se deseja.

Segundo os especialistas, uma das melhores armas para se comunicar com os outros é o sorriso. Uma cara séria, um olhar vago, um tom de voz baixo ou uma postura corporal não orientada para o outro são motivos suficientes para não se deixar de receber atenção. Ao mudar esses gestos, olhando para quem se fala e escutando-se com atenção, as pessoas se aproximam naturalmente.

Mas todas estas táticas têm um requisito para funcionar: ser fiel a si mesmo. Após o agradável bate-papo com uma pessoa pode vir a troca de telefones ou o convite para voltar a se encontrarem. Mas não se deve mudar por completo: falar, concordar e escutar não basta para se comunicar; temos que expressar nossas opiniões tanto a favor como contra. Renunciar a solidão não significa renunciar a nós mesmos.

Os cenários de mudança

Para aumentar as chances de se conhecer pessoas, a psicóloga Carmen Díaz Navarro aconselha a procura por atividades sociais: "por exemplo, matricular num cursinho, praticar um esporte ou filiar-se como voluntário a uma organização não-governamental (ONG) são opções eficazes para romper o isolamento, porque nos obrigam a nos relacionar".

Os bares, pubs e discotecas são lugares criados para facilitar o contato entre as pessoas. Os museus, feiras e concertos também são locais propícios para isso, segundo os especialistas, que também recomendam a participação em atos públicos como festas populares, inaugurações, comemorações e exposições, consideradas boas ocasiões para o início de um relacionamento.

"Lamentavelmente desperdiçamos oportunidades de fazermos amigos ou de estreitarmos vínculos quando nos convidam para irmos a uma festa, a uma excursão, ao cinema ou ao teatro e rejeitamos o convite", ressalta Carmen Díaz Navarro.

Ricardo Goncebat