Crise foi causada por 'gente branca e de olhos azuis', diz Lula

Brown: economia do mundo pode dobrar depois da crise

RICARDO LEOPOLDO - Agencia Estado

SÃO PAULO - O primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, disse hoje que, quando acabar a recessão global e o nível de atividade nos países desenvolvidos e emergentes estiver recuperado, a economia mundial tem o potencial de dobrar de tamanho. Em palestra na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, ele destacou que as oportunidades de prosperidade dobrarão, mas isso também vai requerer, por outro lado, um aumento significativo de desafios para a comunidade internacional.

Contudo, Brown ressaltou que atualmente a séria crise global impôs muitos efeitos negativos às transações comerciais e financeiras em todo o mundo. Segundo ele, o credit crunch foi responsável por uma queda drástica do fluxo de capitais para países emergentes, pois baixaram da magnitude de US$ 1 trilhão para US$ 160 bilhões.



O primeiro-ministro do Reino Unido também disse que é fundamental o avanço da regulação e supervisão financeira global. "É preciso ação para levar paraísos fiscais para rede de regulação", afirmou ele, referindo-se a um grupo de localidades no mundo, que permite o ingresso de recursos internacionais. Em geral, os controladores desses capitais fazem tais operações em paraísos fiscais por várias razões, sobretudo para não pagarem impostos cobrados em seus países de origem.
http://www.estadao.com.br/noticias/economia,brown-economia-do-mundo-pode-dobrar-depois-da-crise,345486,0.htm

Crise foi causada por 'gente branca e de olhos azuis', diz Lula

Presidente fez a afirmação ao lado do primeiro-ministro britânico e compara crise a febre que atinge todos

Leonencio Nossa, da Agência Estado

Gordon Brown encontra Lula em visita oficial

AP

Gordon Brown encontra Lula em visita oficial
BRASÍLIA - Ao lado do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira, 29, que as decisões políticas neste momento de crise são mais importantes que as econômicas. "Ele (Gordon Brown), outros líderes mundiais e eu sabemos que o momento exige decisões políticas profundas mais fortes que decisões econômicas que viermos a tomar", afirmou. Lula reforçou que a crise financeira internacional foi causada e fomentada por "gente branca, e de olhos azuis", numa referência a especuladores estrangeiros, de países do primeiro mundo.

Lula rebateu afirmações de que haveria questões ideológicas nas suas avaliações sobre a crise financeira mundial. "Não existe questão ideológica, existe um fato que mais uma vez percebe-se que a maior parte dos pobres que sequer participava da globalização estava sendo uma das primeiras vítimas da crise. O preconceito que vejo é contra os imigrantes nos países desenvolvidos", afirmou o presidente ao lado de Brown.

Lula citou que no Brasil o governo decidiu regulamentar a permanência dos bolivianos. "Porque não se pode jogar nas costas deles a responsabilidade de uma crise que foi causada por poucos". E completou: Não conheço nenhum banqueiro negro ou índio. Só posso dizer que as pessoas desta parte da humanidade foram as maiores vítimas do mundo e elas não podem pagar por isso".

Em declaração à imprensa, no Palácio da Alvorada, o presidente voltou a defender a regulação do sistema financeiro internacional. "Não é possível uma sociedade em que você entra no shopping ou no aeroporto e é filmado, sempre vigiado, e o sistema financeiro não ser vigiado e não ter uma regulação", afirmou.

Para o presidente, a crise financeira é uma febre que atinge todos os países. Ele defendeu maior participação do Estado na busca de melhorias para a sociedade. "É preciso que o sistema financeiro se reeduque e trabalhemos para incentivar o setor produtivo", afirmou. "Temos consciência de que é preciso fortalecer as instituições de financiamento", acrescentou.

Lula disse que Gordon Brown já é um "amigo" do Brasil e de seu governo, desde 2003, quando o britânico era ministro da Economia. "Recordo sempre dos momentos mais difíceis, quando tomamos posse em 2003. Gordon Brown, como ministro da economia, foi um parceiro para ajudar o Brasil naqueles momento difíceis e de incertezas, sobretudo para ajudar o Brasil a ganhar credibilidade internacional", disse.

Brown defendeu a mudança na lógica do sistema financeiro internacional. "O antigo consenso de Washington morreu e não podemos voltar ao modelo de sistema bancário passado", disse Brown, ao lado de Lula. "Temos de mudar a lógica financeira para permitir que pessoas e empresas se sintam seguras em usar os bancos", acrescentou.

Plano anticrise dos EUA

Lula não demonstrou ânimo em relação à eficácia do pacote econômico apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que prevê um aporte de US$ 1 trilhão para compra de ativos considerados "tóxicos". "Se o Obama tomou a decisão pensando no melhor para os Estados Unidos, ótimo. Espero que dê certo", disse. "Mas acho que não podemos usar o pouco dinheiro que nos resta para comprar títulos que aqui chamamos de podres", completou.

Lula afirmou ainda que entre os problemas que precisam ser enfrentados no mercado interno é o spread bancário. "Subiu demais", disse.

O primeiro-ministro Gordon Brown evitou críticas ao plano de Obama e fez comentários num tom amistoso. "É um bom sinal que, uma semana antes do G-20, o governo Obama tenha se posicionado sobre os ativos tóxicos", disse.
http://www.estadao.com.br/noticias/economia,crise-foi-causada-por-gente-branca-e-de-olhos-azuis-diz-lula,345255,0.htm