Japonesa Kirin compra 100% da Schincariol


Os irmãos Gilberto, José Augusto e Daniela Schincariol receberam, na quinta-feira, um cheque da Kirin de cerca de R$ 2,3 bilhões por sua participação de 49,5% na Schincariol, a segunda maior cervejaria brasileira. Lideradas pessoalmente por Gilberto Schincariol Júnior, de apenas 28 anos, as negociações entre as duas partes foram intensas nos últimos dois dias.

Segundo a companhia japonesa, o valor pago por 100% das ações da cervejaria brasileira, cerca de 6,2 bilhões de reais, é razoável perto do potencial de crescimento do mercado brasileiro de cerveja.

A Kirin até esteve disposta a pagar uma soma maior aos minoritários da Schincariol para solucionar a disputa, segundo apurou o iG. Mas, depois da decisão da Justiça, em outubro, que favoreceu a Kirin, os irmãos perderam força nas negociações, diz uma fonte especializada em fusões e aquisições. A defesa dos controladores alegava que os minoritários, embora recorressem ao direito de preferência, não tinham recursos para pagar os mesmos valores desembolsados pela Kirin. 

Em agosto, a Kirin pagou a Adriano e Alexandre Schincariol, primos de Gilberto, quase R$ 4 bilhões em dinheiro por sua participação de 50,45% no capital da cervejaria brasileira. Gilberto e seus irmãos, provavelmente, acreditavam que poderiam receber uma quantia equivalente a que havia sido paga aos controladores. Ir à Justiça para impedir que seus primos vendessem o controle da cervejaria foi uma aposta, avalia uma fonte.

Jun Makuta, um dos advogados da TozziniFreire, passou praticamente todo o dia 1º de maio sem bateria no celular. Quando recarregou o aparelho, à noite, notou várias ligações não atendidas – todas de um mesmo número. Ao retorná-las, naquele mesmo dia, foi atendido pelo gerente jurídico da Kirin, que convidava o escritório a assessorá-lo na Operação Zico.

É claro que a cervejaria japonesa não estava interessada em nenhum jogador brasileiro – nem mesmo o Galinho, que fez sucesso no Japão dos anos 90. Operação Zico era o codinome, escolhido pela Kirin, para um plano ambicioso: comprar a brasileira Schincariol e, com isso, entrar no país.

O maior problema, àquela altura, era tempo. A Kirin foi a última a entrar na briga, e teria apenas 15 dias para analisar a Schincariol e estruturar uma proposta. As outras interessadas – SABMiller, Diageo e Heineken – estavam mais adiantadas (oficialmente as empresas não comentam o assunto). Na verdade, o mandato de venda da Schincariol fora concedido ao BTG Pactual em fevereiro – e, desde então, o banco de investimentos buscava compradores. A Carlsberg afirmou que, no momento, concentrava seus esforços nas operações asiáticas.

O primeiro encontro entre os japoneses e a cúpula da Schincariol, em Itu, ocorreu em maio. Em meados de junho, a Kirin voltou à mesa de negociações, desta vez, em Nova York, em uma reunião no escritório local do BTG Pactual. Nem Adriano, nem Alexandre, participaram – apenas os assessores. “Foi mais uma conversa; nem apresentamos o preço”, diz Pedro Seraphim, que coordenou a operação pelo TozziniFreire.

Embora quisesse levar 100% da Schincariol, a Kirin aceitou avaliar apenas a parte dos sócios majoritários. Coube ao banco americano, em meados de junho, chegar a um valor próximo dos 3,95 bilhões de reais que a Kirin acabaria pagando pela fatia de 50,5% dos irmãos Alexandre e Adriano Schincariol.

Com o acerto, a companhia familiar, fundada em 1939 pelo filho de imigrantes italianos Primo Schincariol, torna-se parte de um dos maiores grupos de bebida do Japão. Adriano Schincariol fica na empresa até janeiro. Já o primo Gilberto deixa a empresa agora.
A Schincariol foi fundada em 1939 como fabricante de refrescos e hoje em dia possui mais de dez fábricas que produzem cerveja e outras bebidas não alcoólicas em diversos pontos do Brasil.


A Schincariol produz marcas de cerveja como Nova Schin, Devassa Bem Loura, Glacial, Baden Baden e Eisenbahn. Além da cerveja, que representa 81,6% de seu faturamento, o grupo produz refrigerantes, sucos de fruta e água mineral.


O grupo brasileiro, que emprega 10 mil pessoas, registrou um faturamento de R$ 2,85 bilhões em 2010 (US$ 1,634 bilhão).


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Patrocinadora do Carnaval de Salvador pelos últimos onze anos, a Schincariol perderá o posto para a Brahma em 2012. A marca da Ambev venceu a concorrência promovida pela organização do evento e investirá R$ 4,9 milhões na estrutura da festa para se tornar a patrocinadora oficial.