Por Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) - As duras críticas que "Tropa de Elite" recebeu da mídia internacional foram rebatidas nesta segunda-feira pelo diretor José Padilha, com uma rispidez digna de capitão Nascimento, policial protagonista do longa.
Respaldado pela conquista do Urso de Ouro, prêmio máximo do Festival de Berlim, o cineasta atacou a imprensa que considerou o filme fascista.
No festival alemão, "Tropa de Elite" superou "Sangue Negro", filme com oito indicações ao Oscar e apontado como favorito. Esta foi a primeira incursão no exterior do longa brasileiro depois de ser o hit nacional em 2007.
Após exibição em Berlim, "Tropa de Elite" dividiu os críticos. Alguns elogiaram, qualificando o filme de um retrato poderoso das concessões que a polícia faz para sobreviver na luta contra o tráfico no Rio de Janeiro, mas outros disseram que glorifica os métodos duvidosos desses policiais.
Um crítico do periódico norte-americano Variety chegou a dizer que se tratava de um "filme de recrutamento de criminosos fascistas".
"A crítica da Variety foi particularmente estúpida", disse Padilha em entrevista a jornalistas no Rio de Janeiro, ao lado da estatueta do Urso de Ouro.
"Chamar o filme de fascista tem que ignorar o significado da palavra fascista. Tem que ser ignorante", disse. "É só procurar no dicionário."
"O meu filme é sobre um grupo de 100 policiais que fazem parte de um grupo de 40 mil policiais corruptos. É uma besteira extraordinária."
Outra publicação norte-americana, a Hollywood Reporter, disse que o filme era "pobremente estruturado e às vezes incoerente".
O diretor considerou que as críticas negativas foram influenciadas por uma falha do festival na primeira exibição do filme para jornalistas.
Segundo ele, a cópia com legendas em inglês foi trocada por outra com legendas em alemão. E para quem não entendia o alemão e o português, havia tradução simultânea por uma única voz feminina, sem áudio ambiente do longa-metragem.
"Na Alemanha, em momento nenhum eu tive a sensação de uma crítica negativa do filme. As críticas ruins aconteceram após a primeira exibição. A nossa sensação era que o filme estava indo super bem, mas quando entrávamos na Internet, víamos o contrário", disse o diretor.
CRÍTICAS PARA "EMBRULHAR PEIXE"
"Tropa de Elite" vem sendo comparado a "Cidade de Deus", não só por retratar a violência no Rio, mas também pelas chances de poder ter a mesma carreira em Hollywood.
"Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, também ficou de fora da corrida do Oscar de filme estrangeiro, em 2003, e conseguiu quatro indicações no ano seguinte em categorias importantes da premiação.
"Tropa de Elite" perdeu para o "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", escolhido pelo Brasil para tentar em vão a vaga no Oscar de filme estrangeiro deste ano.
Modesto, Padilha minimizou as chances de "Tropa de Elite" ter o mesmo sucesso. "É muito difícil fazer isso, o filme estaria concorrendo com filmes americanos. O quase impossível conseguir o que o Fernando conseguiu com o filme dele."
Meirelles, em entrevista à Reuters por email, também respondeu às críticas recebidas por "Tropa de Elite", afirmando que o filme ficará para a história, e as críticas, não.
"A verdadeira revanche dos cineastas é que o filme vai poder ser visto daqui a 40 anos, enquanto a crítica vai embrulhar algum peixe numa feira ou forrar o chão de uma casa que vai ser pintada e depois estará esquecida. Assim é a vida", escreveu Meirelles.
"Tropa de Elite", cujo DVD já tem pré-venda na Internet para 27 de fevereiro, voltará aos cinemas de Rio, São Paulo e Brasília em 50 cópias a partir de sexta-feira.
(Colaborou Fernanda Ezabella)