Novo grupo desmantelado
Desta vez, esquema era operado em Cáceres. Meninas eram oferecidas em “pacote”
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Meninas de 12 e 13 anos atendiam clientes em viagens no rio Paraguai, nas tradicionais chalanas, aliciadas pela rede de prostituição; 5 acabam presos |
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CLARICE NAVARRO DIÓRIO
Da Sucursal de Cáceres
Depois de dez meses de investigações, a Polícia Civil em Cáceres desarticulou ontem uma rede de prostituição infantil que atuava na cidade, em Mirassol D´Oeste (a 100 quilômetros de Cáceres) e em Cuiabá. Oito pessoas acabaram presas e quatro menores foram encaminhadas ao Conselho Tutelar.
Segundo o delegado regional de Cáceres, Aldo Costa, a operação, denominada "Rufião", contou com investigações que incluíram interceptações telefônicas e fotos tiradas via satélite, monitorando as atividades do grupo, e resultou nas prisões das pessoas que agenciavam meninas para se prostituírem, inclusive fechando "pacotes" com clientes.
Em uma das conversas gravadas pela polícia, uma agenciadora oferece uma menina de 12 anos para um cliente. Em outra, um agenciador fecha um pacote de cinco meninas para atenderem a clientes em um barco. Há tempos a polícia vem investigando o turismo sexual em Cáceres, com garotas atendendo a turistas nas embarcações conhecidas como "chalanas".
Decretadas pelos juízes Elza Yara Ribeiro Sales Sanção, Geraldo Fernandes Fidelis Neto e Alex Nunes de Figueiredo, respectivamente das 1ª, 2ª e 3ª varas criminais da comarca, as prisões em Cáceres foram realizadas ontem.
Em Mirassol D´Oeste, o delegado Mário Resende prendeu Lucivaldo de Moraes, 22, e sua irmã, Lucimar de Moraes, 29, proprietária do bar "Sedução". Na cidade, as prisões aconteceram no dia 22 de fevereiro e foram mantidas sob sigilo devido ao andamento das investigações. Lucivaldo agenciava meninas em Cáceres e as levavas para se prostituírem em quartos localizados no fundo do bar. Em um dos quartos, os policiais encontraram duas menores, que tentaram se esconder em baixo da cama. Uma delas, de 13 anos, era amante de Lucimar, que é lésbica. No bar, foi encontrado também um álbum com fotos de garotas semi-nuas. Pelas fotos, os clientes escolhiam a garota para o programa.
Em Cáceres, a delegada Elizabete Garcia dos Reis, da Delegacia Especializada na Defesa da Mulher, prendeu Kleber Ramos da Silva, o "Klebinho", 31 anos, Sonia Maria Carneiro, 35 anos, proprietária do Bar da Sonia, localizado no bairro Vila Irene; e Laurença Prudêncio de Almeida, a "Cida", de 53 anos, proprietária do bar da Cida, localizado no bairro Vila Nova, onde também existem quartos no fundo e onde outras duas adolescentes foram encontradas.
Além das meninas, foi localizada no local uma criança de 1 ano e 7 meses. Há informações que Cida pega crianças para "criar". Ainda em Cáceres, foram presos Patrício Martins de Queiroz, proprietário da boate Hollyday, fechada há alguns meses, e Luiz Carlos Novaes. Patrício, segundo a polícia, vinha sendo investigado há três anos. Com o fechamento da boate, abriu um açougue. Luiz Carlos foi preso na casa de Klebinho, com maconha e documentos falsos. Em Cuiabá, o delegado Jales Batista da Silva prendeu Rutemberg de Carvalho, no bairro Verdão. Todos atuavam no esquema como agenciadores.
Segundo o delegado Aldo Costa, as investigações continuam e o inquérito tem o prazo de dez dias para ser concluído. A polícia quer identificar os clientes que utilizavam os serviços dos agenciadores, para que também sejam indiciados pelo crime de prostituição infantil.
O crime de submeter criança ou adolescente à prostituição ou à exploração sexual, conforme artigo 244-A do Estatuto da Criança e do Adolescente, resulta em reclusão de 4 a 10 anos, mais multa. O proprietário, gerente ou responsável pelo estabelecimento em que o crime for cometido está sujeito a mesma penalidade e ainda tem a cassação da licença de localização e de funcionamento do local.