A psiquiatra Hilda Morana, que aplicou o teste de Rorchach (usado para identificar traços de personalidade) no médico Farah Jorge Farah, que esrá sendo julgado por matar e esquartejar a cliente e amante Maria do Carmo Alves em 2003, é categórica ao defini-lo: "Não é um psicopata, não é um perverso, não reincidiria no crime, nem nada. Ele é um descontroladinho para questões emocionais."
A psiquiatra, que depôs no julgamento na condição de testemunha de defesa, afirmou que, através do teste, foi possível determinar que o réu poderia cometer o crime sobre forte pressão emocional.
O teste de Rorcharch implica na apresentação de dez pranchetas brancas com manchas escuras simétricas. O avaliado diz o que enxerga em cada uma delas e, após isso, ele explica o porquê da resposta ao avaliador.
Baseado em parâmetros pré-definidos e formas matemáticas, os defensores do método garantem poder definir ao menos 18 traços de personalidade, inclusive aqueles que indicam problemas mentais.
Já o psicanalista e perito judiciário Carlos Alberto de Souza Coelho, chamado pela acusação, acredita que Farah tentou fazer uma desconstrução da figura feminina com o esquartejamento.
- Enxergo uma relação com a mãe, que o dominava. Posso entender, quando ele comete um crime dessa maneira, que ele desconstrói a figura feminina, visando se libertar do domínio materno - diz o perito.
Segundo ele, Farah sabia que cometia um crime, mas não foi capaz de segurar seu impulso. Quanto ao esquartejamento, afirma que o réu não estava consciente no momento em que o praticava. Ambos os especialistas concordam que é possível que Farah seja semi-inimputável, quer dizer, que não estava no comando pleno de suas faculdades mentais quando cometeu o crime e o posterior esquartejamento de Maria do Carmo Alves.
O GLOBO
Farah alega legítima defesa, mas admite que teve um surto
Aparentando fragilidade, médico acusado de esquartejar mulher caiu ao chegar ao fórum, mas se defendeu com firmeza
Laura Diniz
Um velhinho na aparência, um garotinho no discurso. O médico Farah Jorge Farah sentou-se ontem, às 15h30, no banco dos réus do 2º Tribunal do Júri da Capital para ser julgado pela morte de Maria do Carmo Alves, em janeiro de 2003, com quem afirma ter tido um relacionamento amoroso. O julgamento atrasou cinco horas porque a Justiça se esqueceu de intimar uma testemunha de defesa, sem a qual o júri não poderia ser realizado.
Ao chegar ao Fórum, por volta das 10 horas, o réu se desequilibrou e caiu, apesar de usar uma bengala - ele tem uma das pernas pouco firme, por causa de problemas de saúde. A imagem de um senhor com as condições físicas debilitadas e de declarações infantis de que vivia em torno dos pais, contrastou com a linha de raciocínio forte.
"Houve uma luta." Foi a primeira frase de Farah ao juiz Rogério de Toledo Pierri, que preside o julgamento em que o médico é acusado de homicídio duplamente qualificado - por motivo torpe (vingança) e dissimulação, uma vez que teria atraído a vítima ao local do crime sem que ela pudesse imaginar o desfecho dos fatos - e ocultação de cadáver.
Consta da acusação feita pelo promotor Alexandre Marcos Pereira que o médico anestesiou e em seguida dissecou a vítima. "Foi legítima defesa", disse o réu, às 16h30, para resumir sua versão dos fatos. O que houve depois da luta corporal, que alega ter tido com a vítima, seria "interpretar um sonho ou um pesadelo". "Eu surtei", resumiu. Segundo ele, após ter desarmado Maria do Carmo, que supostamente o procurou munida com uma faca, não se lembra de mais nada.
Farah deixou claro que o crime ocorreu após pelo menos cinco anos de uma perseguição insistente e desmedida por parte de Maria do Carmo. "Fiquei com medo", afirmou o médico - e repetiu isso por dezenas de vezes, dizendo que ela era uma ameaça para ele, suas funcionárias e sua família.
A defesa argumenta que o comportamento de Maria do Carmo causou um stress tão grande no médico que ele se desestabilizou. A estratégia do advogado Roberto Podval é separar o homicídio do esquartejamento. Segundo ele, o assassinato seria facilmente justificável perante aos jurados explicando o impacto da "perseguição" da vítima na vida dele. "Ocultação e vilipêndio de cadáver (esconder e esquartejar o corpo) são crimes infinitamente menores que o homicídio, mas para quem julga tem valor infinitamente maior", analisou o advogado.
Estão arroladas 23 testemunhas - 13 da defesa e 10 da acusação. Dez delas falaram ontem. Hoje, os depoimentos continuam e serão exibidos dois filmes a pedido de Podval: Atração Fatal e Tomates Verdes Fritos. "Os filmes demonstram o que se passou na vida real. Retratam como ele se sentiu."
Em seguida, como a defesa e a acusação concordaram em abolir a leitura de peças do processo, cada um terá direito a falar quatro horas, além da réplica e da tréplica. A previsão é de que o júri demore mais um ou dois dias.
A mãe de Maria do Carmo, Alice Paulice Silva, e o pai dela, Amaro Silva, vieram com a família assistir ao júri. Alice fez questão de dizer que Maria e Farah nunca foram amantes e se revoltou com essa afirmação da defesa. "Minha filha era evangélica, odiava adultério. Ela era casada e não precisava desse verme", disse a mãe, emendando que considera o marido dela, João Augusto de Lima, como seu filho.
Indagada se já havia encontrado o réu alguma vez, Alice disse que não. "Se pudesse não olharia para ele, para aquelas mãos assassinas que tiraram a vida da minha filha."
Testemunhas de acusação choram durante depoimento no júri de Farah Jorge Farah
CBN
SÃO PAULO - Duas testemunhas de acusação que foram ouvidas nesta manhã choraram durante o júri do médico Farah Jorge Farah, acusado de matar e esquartejar a dona-de-casa Maria do Carmo, em janeiro de 2003. Elas disseram que foram molestadas por Farah após cirurgias plásticas feitas pelo médico. O julgamento entrou hoje no segundo dia e deve terminar apenas nesta quinta ou sexta-feira.
Uma das testemunhas só conseguiu falar após o juiz Rogério de Toledo Pierri retirar Farah do tribunal. Ambas as testemunhas negaram ter tido um relacionamento amoroso com o réu. Uma delas disse ainda que precisou fazer tratamento psiquiátrico após ser molestada por Farah.
Recomeça julgamento de ex-cirurgião
De A Tribuna On-line
Recomeçou por volta das 10h desta quarta-feira o julgamento do ex-cirurgião plástico Farah Jorge Farah, acusado do assassinato e do esquartejamento de sua paciente e ex-amante, Maria do Carmo Alves. A sessão, que acontece no 2º Tribunal do Júri de São Paulo, no Fórum de Santana, na Zona Norte de São Paulo, começou na terça-feira. A previsão é que ela seja encerrada na quinta.
Na terça, dez pessoas testemunharam. A primeira delas foi o próprio Farah. O ex-cirurgião plástico afirmou que agiu em legítima defesa porque a mulher o atacou com uma faca. “Ela me atacou com uma faca. Me defendi com minha bengala. Eu a empurrei e ela bateu a cabeça na parede. Eu surtei, excelência (se referindo ao juiz), e não lembro o que aconteceu”, disse.
A penúltima testemunha a depor, de acusação, foi uma ex-paciente de Farah. A mulher, que chegou em uma cadeira de rodas, contou ao juiz que conheceu o médico em 1992, quando o procurou para uma cirurgia de redução de mama. Disse que teve apenas três contatos com o cirurgião: durante a primeira consulta, no retorno para levar os exames e quando o procedimento nos seios foi realizado.
“Quando saí da cirurgia tinha alucinações, mas não contei para ninguém”, relatou a testemunha. Ela deu detalhes do que alegava ouvir. “Uma voz no meu ouvido, sentia um beijo no pescoço, algo no rosto. Sentia cheiro de frutas”. A testemunha disse que passou a ficar com medo do médico, imaginando que havia sofrido abuso sexual enquanto estava inconsciente. “Não quis voltar para tirar os pontos porque me sentia culpada por ser casada. Eu achava que era imaginação minha”.
Ela admitiu que resolveu falar sobre seu contato com Farah depois da notícia da morte de Maria do Carmo. “Depois do crime, resolvi falar. Fiquei dez anos dentro de um armário. Fui a programas de TV para delatar”.
Diante do promotor, a testemunha voltou a comentar sobre as alucinações. “Sentia cheiro forte da laranja e de banana. Isso me marcou forte durante anos. Passei anos sem as minhas filhas me beijarem no rosto”, relatou. A crise da mulher se estendeu ao casamento dela. “Tive meu marido, mas não um homem. Eu não permitia que ele me beijasse”, contou a testemunha, que afirmou ter entrado com um pedido de indenização por danos morais contra o réu.
A décima e última pessoa a depor foi um agente da vigilância sanitária. Ele contou que as instalações da clínica de Farah "não eram condizentes" com o padrão de higiene exigido. Segundo a testemunha, o local apresentava "más condições para funcionar", o que resultou na sua interdição. A denúncia foi feita por Maria do Carmo, contou o homem. Ainda de acordo com a versão dele, quando a clínica foi fechada, Farah "ameaçou se suicidar". As informações são do G1, da Globo.