Criança é arrastada até a morte por ladrões
Um roubo de carro na zona norte do Rio de Janeiro terminou com a morte bárbara de um menino de 6 anos, arrastado e dilacerado por 14 ruas, do bairro de Oswaldo Cruz. Poças de sangue e pedaços de massa encefálica foram recolhidos em diversos pontos do trajeto de sete quilômetros percorrido pelos ladrões, que levaram João Hélio Fernandes Vieites, preso pelo cinto segurança, do lado de fora do carro.
Às 21h, a comerciante Rosa Cristina Fernandes Vieites, 41, voltava em seu Corsa Sedan de um culto em um centro espírita, com os filhos João Hélio e Aline, 13. Ao passar pela rua João Vicente, em Oswaldo Cruz, foi abordada por dois homens – que mais tarde, presos, diriam a polícia estarem armados com revólver de plástico.
Rosa e Aline saíram rapidamente do carro, mas a mãe não conseguiu retirar o filho de 6 anos, que sofria de hiperatividade e tinha dificuldades motoras e de fala. No banco traseiro e com cinto de segurança, João Henrique tentava sair do carro quando os ladrões arrancaram. Ficou pendurado no veículo.
Foi arrastado por cerca de 15 minutos, com o carro em alto velocidade e pessoas na rua gritando: ‘‘Pára, pára’’. Os pneus do carro passaram várias vezes sobre o corpo que ficou dilacerado, com vários ossos expostos e sem a cabeça.
‘‘Foi a pior coisa que vi na minha vida’’, afirmou o delegado Hércules Pires do Nascimento, responsável pelas investigações e há 30 anos na polícia.
No começo da tarde, no morro São José da Pedra, em Madureira, a polícia prendeu três pessoas – sendo dois acusados de participação direta no crime, um deles adolescente de 16 anos. Ambos confessaram o envolvimento no caso, de acordo com a Secretaria de Segurança. A participação do terceiro, identificado apenas como Tiago, está sendo investigada.
O crime mobilizou o bairro. Policiais militares que deveriam deixar o plantão permaneceram até a captura dos acusados, que foram expostos com virulência aos jornalistas. Policiais levantaram seus rostos à força para que fossem filmados e fotografados.
A polícia permitiu que um deles – Diego Nascimento Silva, 18 –, fosse entrevistado pelo programa policial “Brasil Urgente, da Rede Bandeirantes, no qual foi chamado de ‘‘vagabundo assassino’’ pelo apresentador. ‘‘A gente só queria roubar os pertences deles. A gente não viu o garoto pendurado.’’
Os dois ouviram gritos de ‘‘assassinos e covardes’’ de moradores e até de integrantes de equipes de reportagem quando prestavam depoimento.
O pai de Diego afirmou que o filho não trabalhava e tinha comportamento rude. Ele já tinha passagem na polícia por roubo e, se for condenado, pode ficar de 20 a 30 anos na prisão. O adolescente pode ficar no máximo três anos apreendido.
Para o delegado, ambos estariam sob o efeito de drogas. ‘‘Ninguém em sã consciência faria algo como o que eles fizeram’’.
Desespero
Após o assalto, vendo o desespero da família Fernandes, um motociclista que estava a 200 metros do local do roubo, chegou a perseguir os ladrões, mas desistiu depois de ter sido ameaçado. ‘‘Pegamos a moto para ver se a gente conseguia ver, de repente, se o garoto tinha caído ali na frente’’, disse.
O motociclista ajudou a montar o retrato falado dos suspeitos e contou que eles chegaram a andar em ziguezague para se livrar do corpo.
Na fuga, antes de ir para o morro, a dupla atirou documentos de Rosa e das crianças em um galpão abandonado. Diego ainda passou em casa, tomou banho, trocou de roupa, bebeu água e foi embora. E, segundo os policiais, os dois ainda participaram de uma festa.
Acusado de arrastar garoto diz se arrepender de roubo
Agencia Estado
O assaltante Diego Nascimento Silva, de 18 anos, disse hoje estar arrependido por ter protagonizado o assalto que terminou com a morte brutal do menino João Hélio Fernandes, de 6 anos, na quarta-feira no Rio. Diego e um comparsa menor de idade roubaram o carro de Rosa Cristina Fernandes em Oswaldo Cruz, na zona norte. Preso pelo cinto de segurança do lado de fora da porta, o filho dela foi arrastado por sete quilômetros e morreu. O crime chocou o Rio.
Preso 18 horas depois do crime, Diego disse hoje a jornalistas que não sabia que arrastava o menino na fuga. Afirmou que já roubava carros desde o segundo semestre do ano passado, apesar de não ter antecedentes criminais. O jovem também contou que é usuário de maconha desde 2006.
Diego ainda disse que gostaria de pedir desculpas à família do menino morto. Sobre o fato de seu próprio pai, Nilson Nonato, ter ajudado a polícia a prendê-lo, o assaltante disse entender seus motivos. Detido na delegacia de Marechal Hermes, na zona norte, Diego será transferido ainda hoje para a carceragem da Polícia Interestadual (Polinter). O comparsa de 16 anos será encaminhado para a Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA).
Pai denuncia filho assassino
Escrito por Selena Rumiel
09 de fevereiro de 2007
Polícia localiza assassinos através de pistas fornecidas por pai de um deles, chocado com crime
Horrorizado com a barbárie, um pai ajudou a polícia a prender o próprio filho, acusado de ter participado do assalto que terminou com a morte do menino João Hélio. A PM chegou à casa de Diego Nascimento da Silva, 18 anos, através de informações passadas para o Disque-Denúncia. Na residência, não encontrou Diego, apenas seu pai, Kueginaldo Marinho da Silva, 35, que, ao saber que o filho era procurado pelo crime, entregou seu celular. Foi através das últimas chamadas do telefone que os policiais descobriram o paradeiro de Diego, capturado junto com seu comparsa na ação, o menor E., de 16, no Morro São José da Pedra, ao lado do Morro da Serrinha, em Madureira.
“Estou arrasado. Foi um crime hediondo. Bárbaro. Se meu filho participou, vou colaborar com a polícia”, afirmou Kueginaldo, na 30ª DP (Marechal Hermes).
Os criminosos foram presos pelo 9º BPM (Rocha Miranda), que recebeu mais de 10 informações do Disque-Denúncia. A primeira delas indicava que um dos assassinos morava na Rua Borneo, Cascadura, a 200 metros da Rua Caiari. Vários policiais — inclusive o comandante do batalhão, tenente-coronel Robson Batalha — seguiram para o local, onde estava apenas Kueginaldo e a madrasta de Diego, Maria Cinara de Oliveira, 30 anos.
O casal contou que Diego chegou em casa quarta-feira à noite nervoso, tomou banho, trocou de roupa, saiu novamente e não voltou. Ao saber que o filho era acusado do crime, Kueginaldo entregou à polícia celular, agenda e boné do jovem.
Pelo telefone, o major Malheiros, subcomandante do 9º BPM, descobriu a última ligação que Diego fez e o endereço do dono do celular para quem ele telefonou. Era no Beco da Vovó, para onde 30 PMs foram à tarde e se depararam com três rapazes descendo a escadaria do morro. Como tinham foto de Diego, os policiais o reconheceram. Presos, Diego e o menor confessaram o crime. Tiago Abreu Mattos, 19 anos, também foi detido porque estava com a dupla, mas não tem envolvimento com a morte do menino. “Os dois confessaram o assalto, mas negam ter visto o menino ser arrastado. Eles afirmam que descobriram a criança, já morta, quando abandonaram o carro”, informou o comandante do 9º BPM. O menor estava no banco do carona do Corsa.
TUMULTO E XINGAMENTOS
A prisão foi comemorada por policiais militares e civis. Chocados, oficiais e PMs de folga ou largando o serviço se empenharam nas buscas aos assassinos. Quando os criminosos chegaram à DP, houve tumulto. Revoltadas, mais de 10 pessoas que se aglomeravam no local e policiais xingavam os acusados. E gritavam: “Monstros, vocês têm que morrer”.
Na delegacia — onde o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e o comandante da PM, Ubiratan Angelo, compareceram —, Diego afirmou que não estava drogado e não sabia que o garoto estava preso ao carro. “Só vi quando parei o carro”, disse ele, que falou que não queria o veículo. “Só queria os pertences da vítima.” E finalizou: “Não tenho filho”, ao ser perguntado o que faria se fosse com seu filho.
A frieza da dupla é ilustrada por frases do pai do menor, Nilson Nonato da Silva, 43 anos. “Ele chegou em casa, jantou e, quando ia dormir, o Diego o chamou para sair. Foram para a festa da Igreja de São Brás”, disse Nilson, que não se conforma. “A ficha não caiu. Não acredito que isto esteja acontecendo. Sou uma pessoa honesta.”
A pessoa que ligou para o Disque-Denúncia informando o paradeiro da dupla receberá R$ 4 mil. O valor da recompensa era, inicialmente, de R$ 2 mil, mas foi dobrado devido à comoção provocada pelo crime.
Arma da dupla era de brinquedo
Segundo o delegado Hércules Pires, a dupla atacou a família com réplica de arma — que seria fuzil ou metralhadora —, não encontrada até ontem à noite. Ele está convencido de que Diego, ao volante do carro, sabia que o menino estava agarrado do lado de fora. “É impossível que não soubesse. Várias pessoas gritavam pela rua”, disse o delegado, que indiciará o criminoso por latrocínio (roubo seguido de morte). A pena é de 20 a 30 anos.
Exibindo tatuagem de bobo da corte no braço direito, Diego seria levado à noite para a Polinter. O menor seria encaminhado à 2ª Vara da Infância e Juventude, que determinaria uma instituição para abrigá-lo. O menor deverá ficar internado por três anos até ganhar a liberdade. Nenhum dos dois possuía passagens anteriores pela polícia.
“Eles são frios. Confessaram normalmente e não demonstraram arrependimento”, disse Hércules Pires, que contou com apoio de outros três delegados. “Quarenta homens da Polícia Civil participaram diretamente da investigação”, disse o diretor de Polícia da Capital, Sérgio Caldas.