Paraíso Tropical é a mais nova novela das oito que não começa as oito horas. Pela segunda vez a trama da principal novela do país será ambientada na cidade do Rio de Janeiro. Geralmente é feito nas tramas exibidas no horário das oito (nove) um rodízio entre as cidades do Rio e São Paulo. De vez em quando aparece uma história ambientada no Nordeste com uma salada de sotaques. O motivo de fazer uma segunda história no Rio de Janeiro é para levantar o moral da cidade. Quando o moral do Rio.
aumenta o do Brasil segue junto. As novelas atraem milhões de telespectadores. É coisa séria num país que lê pouco e tem pouca instrução. Este ano a mídia fará de tudo para levantar a bola do Rio. Carnaval, Pan-Americano e Paraíso Tropical. Vão mostrar o Rio para inglês ver. Se a anterior mostrava o bairro do Leblon maquiado, desta vez Copacabana é a princessinha do mar sem poluição.
A edição das páginas 10 e 11 do jornal O Globo de 05/03/2007 foi um primor. A propaganda da novela informa: "Venha conhecer um Paraíso Tropical".
Compare agora com os títulos das notícias nas mesmas páginas que o anúncio foi veiculado:
"Tráfico proíbe vans de circular na Zona Oeste"
"Encapuzados matam cinco durante festa em Ciep"
"Assalto em Copacabana termina com um morto"
"Motoboy dá dois tiros em porteiro em São Gonçalo"
"Idosa leva a prisão de bandidos que praticavam extorsão por telefone"
"Missa por franceses mortos reúne 500 pessoas" Foram mortos em Copacabana"
"Beira-Mar deve chegar ao Rio hoje para audiência"
Este é o verdadeiro Rio de Janeiro. Uma cidade que as pessoas dão passagens aos sonhos para tentar sobreviver. A história de Paraíso Tropical é sobre o bairro de Copacabana, mas sem a realidade do bairro. É uma Copacabana maquiada, inclusive nas cenas de violência. Parte das gravações irá ocorrer numa cidade cenográfica no Projac.
O outro pólo da novela será no Nordeste. Os personagens atuam num resort na cidade fictícia de Marapuã. Mesmo com a trama envolvendo prostituição, empresas e crimes, a realidade brasileira é bem diferente das tramas. Por mais que a propaganda tente nos convencer que este é um país abençoado por Deus o inferno é logo ali. A realidade brasileira está mais próxima do grito das matérias do que do paraíso das propagandas.
Com todo o respeito aos autores do folhetim, aos artistas e equipe de produção, mas será preciso muito mais para revitalizar o Rio de Janeiro do que enaltecer a cidade que não existe através de novelas ininterruptas. Nova York não melhorou sua imagem apenas com camisetas, logomarcas e musicais. Nova York só recuperou o brilho com ações energias. Os autores estão fazendo a parte deles, mas acho muito improvável que os governantes façam a sua.
A novela vai explorar a sensualidade de Alessandra Negrini, o talento de Tony Ramos, amor gay, os podres do mundo corporativo, terceirização e outros temas polêmicos que vão aparecer durante a trama. Desconfio que o povão se entusiasme mais com a volta da perua Mary Montilla, de "Belíssima". Ainda assim o Paraíso do nome está muito distante da realidade. Com todos os problemas as personagens de novela não se equiparam a luta de sobrevivência diária dos brasileiros no espetáculo do crescimento (da violência, desemprego e corrupção). Muitas novelas da casa mostravam os outros países ao contrário de Paraíso Tropical, que se passa inteiramente no Brasil. Assim como o futebol a televisão é deveras importante para o nosso país. Levantar a moral do povo tão desacreditado parece ser uma das estratégias recentes. Mas... O Rio de Janeiro da novela é mais fictício do que a cidade Marapuã, criada pelos próprios autores. O Rio de João Hélio e Alana não é o Rio de Janeiro que eles mostram. O Brasil das novelas não é o Brasil real. O Brasil que o Bush viu não é o verdadeiro Brasil.
Paraíso tropical? Imagine o inferno. It's easy if you try...
Fonte: Duplipensar.net