Orkut mata, se ligue

Da clonagem de perfis à assassinatos na vida real. O site de relacionamentos mais popular no Brasil, orkut, está perdendo cada vez mais sua característica socializadora para se transformar numa diversão perigosa. No estado (Natal), o caso que mais chamou a atenção para o fato, foi o assassinato da corretora de imóveis Célia Carvalho Damasceno, 43, morta a pauladas depois de marcar um encontro com um jovem que conheceu pelo orkut. Por ironia, o assassino e seus colegas foram identificados pela filha da vítima que passou a investigar as mensagens enviadas e recebidas por Célia na rede social.

Do episódio que ganhou destaque na mídia nacional podemos tirar uma série de dicas elencadas pela ong Safer Net (http://www.denunciar.org.br). Por não saber realmente quem está do outro lado da tela, é prudente evitar o envio de fotos e informações pessoais. Marcar encontros em locais isolados e mantê-los em segredo também pode ser muito perigoso.

Desde quando foi inventado - em janeiro de 2004 - o orkut vem passeando do extremo do amor para o do ódio por parte de seus usuários. Esses sentimentos são fonte de inspiração para mais de 20 comunidades sendo ‘‘orkut - Um caso de Amor e Ódio’’, a que reune mais de 13 mil membros cadastrados. O jornalista Edwin Carvalho, 26, foi vítima do orkut há poucos meses. Membro do site de relacionamentos há mais de três anos, teve suas fotos ‘‘roubadas’’ e publicadas em um portal de conteúdo adulto. Tudo sem sua autorização. A Safernet se esforça em elaborar uma estatística e formas de trabalho para combater esse tipo de crime, mas a quantidade de denúncias é enorme, beirando as 100 mil só no ano de 2006.

O jornalista lembra que ao se cadastrar no site não tinha idéia do fenômeno que o orkut se tornaria no Brasil - o país detém 55,94% da fatia dos mais de 40 milhões de cadastrados no site. ‘‘No meu profile tinha tudo sobre mim, fotos, telefone celular, e-mail e as coisas ue eu gosto’, cita. No ano passado o jornalista começou a receber trotes que iam de cantadas à xingamentos gratuitos. ‘‘Quando percebi que era por causa do orkut tirei o número do meu telefone do meu perfil’’, disse. Pouco tempo depois, ele foi avisado por um colega que todas as suas fotos estavam publicadas num site de conteúdo adulto.

A primeira atitude tomada por Edwin foi buscar ajuda em uma delegacia civil na Central do Cidadão. O coordenador das promotorias criminais do estado, Wendel Beethoven Ribeiro, explica que esse é o procedimento adequado. O problema, segundo ele, é que a maioria das delegacias não possui núcleos especializados nesse tipo de investigação nem acesso à internet. O que dificulta o desenrolar do processo. Ao constatar a dificuldade, o jornalista resolveu agir sozinho e depois de alguns dias conseguiu tirar as fotos do ar.

Apesar do transtorno, ele não desistiu da rede de relacionamentos. Mas faz ressalvas: ‘‘agora eu só adiciono as pessoas que conheço, apago os recados deixados por meus amigos e evito publicar fotos que me exponham demais. ’’, avalia. Para ele, as pessoas se expõe demais tanto no orkut quanto nos fotologs (álbuns virtuais que permitem a publicação de uma ou diversas fotos diariamente). ‘‘A internet é um meio muito perigoso. As pessoas precisam ter um cuidado enorme’’, alerta.

GABRIELA FREIRE
DA EQUIPE DE O POTI