Professores investigam alunos para acabar com os trabalhos copiados da internet

“A maioria dos acadêmicos acha que a banca não pesquisa sobre o assunto”, diz Iliane Maria Duarte, professora de economia.

Por Thiago Chiapetti
Os relatos entre os acadêmicos que estão concluindo o curso de que compraram sua monografia, ou o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), ou que conseguiram enganar os professores na apresentação da tese pode estar acabando. Que esta é uma prática comum entre os universitários, a comunidade escolar bem sabe. O assunto já é discussão entre os professores que buscam criar estratégias para coibir estas atitudes.
Iliane Maria Duarte, professora de economia, relata que já presenciou casos de orientadores que fizeram buscas na internet e encontraram a monografia completa, “sem mudar uma vírgula”. “Aí, na banca o professor mostrou pra aluna e disse que aquela monografia era copiada e que já estava sendo utilizada inclusive para escrever um livro”, lembra Iliane.
Conforme com a professora, o fato é tão interessante que a acadêmica recebeu nova oportunidade para reescrever a tese, depois de confessar que havia encomendado o trabalho. Quando apresentou pela segunda vez, o mesmo problema se repetiu. Ao plagiar o mesmo assunto novamente a universitária confessou que solicitou outra vez – ao profissional que havia contratado – outra monografia.
“A maioria dos acadêmicos acha que a banca não pesquisa sobre o assunto. A gente conhece o aluno quando tem capacidade de escrever ou não. E quanto mais teórico, mais fácil de suspeitar que seja copia”, entende a professora Iliane, que também é mestranda em administração e estratégia de negócios.

Atitude lamentável
Para o coordenador do curso de Administração da Unipar, professor Sérgio Bueno Fernandes, a atitude dos acadêmicos, seja em copiar o trabalho ou solicitar os serviços, é lamentável. “O aluno é reprovado, isso está previsto em nosso regulamento interno, além de ser crime. Copiar mesmo que duas ou três frases é plágio. É lamentável, mas o aluno prefere usar ctrl C e ctrl V por preguiça de pensar”, relata.
A dificuldade encontrada para avaliação, segundo o Sérgio, é quanto ao trabalho comprado. “Fica mais difícil de provar. Não tem como a gente afirmar que um trabalho é comprado. O que acontece é que quando o aluno não comparece às orientações nós desconfiamos. Quer dizer, ele não veio para receber orientação e no final do ano chega com o trabalho pronto? Tem alguma coisa de errada. Então na apresentação à banca ele vai provar se realmente produziu”, completa.
A alternativa é tão sigilosa que ninguém quer falar sobre o assunto. A. B. B. M. é recém formado em Direito e não quis ser identificado, mas concordou em conversar com a reportagem do Jornal de Beltrão e contou que presta serviços de co-orientação e de formatação dos trabalhos conforme normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Disse também que o primeiro pedido de quem solicita seus préstimos é para que ele escreva a monografia.

Procura por trabalhos é grande
“Primeiro eles pedem pra você fazer. Então por caráter de ética acabo dizendo que não. O que a gente pode observar é que a maioria dos acadêmicos não vai com aquele compromisso de quando acabar o curso estar apto a desempenhar a função. Principalmente no curso de Direito, aja vista que a maior prova é o Exame da Ordem”, disse.
Segundo A. B. B. M., a procura é grande, principalmente no final de ano, quando muitos acadêmicos deixam para se preocupar com a apresentação da monografia. “O pessoal fica desesperado porque não planejou nada e querem pra semana que vem. Eles acham que você numa semana vai conseguir orientar”, lembra.
Para A. B. B. M., a atitude dos acadêmicos tem fundamento e está associada ao acompanhamento das faculdades de Francisco Beltrão que, na sua opinião, é precário. Outro motivo seria a falta de tempo dos estudantes que também trabalham em períodos contrários ao das aulas e que os impossibilitam de produzir a monografia com empenho necessário.
“O fato é que chega no final do curso, a faculdade não está nem aí por aluno, os orientadores, diga-se de passagem, são péssimos na orientação. Isso acontece por causa da irresponsabilidade da instituição e dos orientadores. Tem orientador que abandona o aluno no final do curso. Eu mesmo não tive nenhuma orientação”, conta.
E continua: “Na verdade há uma falta de diálogo entre alunos e faculdade e professores. Isso sempre existiu, desde o começo das faculdades aqui em Beltrão”.

Quanto custa?
A. B. B. M. diz que os serviços de co-orientação e formatação de trabalhos não têm uma tabela de valores, mas que o custo depende da negociação. Uma monografia de 150 páginas, com formatação e correção de português custa em média R$ 100. “É uma quantia irrisória, levo no mínimo três dias pra fazer, fora a correção”, salienta. “O pessoal declara que quem faz monografia comete um delito penal. Isso não é verdade, não existe. O único delito penal na pessoa fazer a monografia seria se ela cometer um plágio”, destaca.

Jornal de Beltrão