Era o primeiro assalto que fazia fora de Espanha e seria o último da sua carreira. Jaime Giménez, ‘El Solitário’, preparava-se para viajar para o Brasil, onde pretendia adquirir uma casa, contrair matrimónio com uma jovem a quem enviava dinheiro com frequência e montar uma empresa.José Manuel Ribeiro, Reuters
Durante muitos anos, ninguém sabia quem era nem como era o perigoso assaltante de bancos que não se importava de matar para manter secreta a sua identidade. Anteontem, Jaime Giménez Arbe, 51 anos, resolveu dar a cara e assumir-se como ‘El Solitário’, à saída do Tribunal Judicial da Figueira da FozSegundo fontes policiais, o homem mais procurado nos últimos 14 anos em Espanha, por suspeita da prática de 32 assaltos e da morte de três polícias, planeava ‘reformar-se’, aos 51 anos. Jaime Giménez Arbe já tinha os bilhetes de avião em seu poder e contava viajar ontem para o Brasil, para se encontrar com a noiva, uma mulher residente em Ribeirão Preto, nos arredores de São Paulo.Pela troca de chamadas telefónicas entre ambos, as autoridades espanholas crêem que o perigoso assaltante queria aproveitar o dinheiro roubado na Caixa de Crédito Agrícola Mútuo da Figueira da Foz, para sinalizar a compra de uma casa no Brasil, na terra da noiva. Foram esses mesmos telefonemas que ajudaram as autoridades a encontrá-lo.Divorciado de uma mulher inglesa, Giménez perdeu-se de amores pela brasileira, dona de uma loja de fertilizantes em Ribeirão Preto. E fazia chegar-lhe dinheiro com frequência. Os documentos bancários apreendidos no apartamento e num armazém do detido, em Madrid, revelam que terão sido feitas várias transferências para a conta da brasileira. A polícia espanhola tem dois inspectores no Brasil a investigar a vida da noiva de ‘El Solitário’ e, pelas contas já efectuadas, estima-se que terá recebido perto de 60 mil euros. Este valor, porém, representa uma ínfima parte dos 600 mil euros roubados por Giménez.Como actuava sempre disfarçado, só agora o seu rosto foi dado a conhecer. Tal como o cadastro. Ao contrário do que se supunha de início, o homem frio, calculista e perigoso, tem já uma longa carreira criminal. Segundo o jornal ‘ABC’, na década de 70 protagonizou uma série de assaltos, na companhia do irmão, já falecido.Em 1978, foi apanhado com 300 receitas falsas de psicotrópicos. Mais tarde, foi detido na Inglaterra e na Suécia, por suspeita de tráfico de drogas. E em 1982 apunhalou dois companheiros, com quem havia ido beber uns copos a um bar de Madrid. O motivo da agressão foi uma discussão sobre assuntos banais.A detenção de Giménez em Portugal foi recebida com agrado na Urbanização Monte Alto. O homem tocava música folck na garagem, com alguns amigos, mas não era bem visto pelos vizinhos, que o descrevem como uma pessoa “agressiva, problemática e pouco sociável”. A maioria dos moradores pensava que ele pertencia a “uma família de bem, com muito dinheiro”. Um homem “meio louco”, que cultivava marijuana no jardim e ouvia música de Eric Clapton e Chuck Berry. Mas o arsenal de armas e documentos encontrados pela polícia revelaram uma realidade bem diferente. Giménez tinha em casa várias armas curtas e longas, granadas de fabrico artesanal, dezenas de livros sobre fabrico de explosivos, material de disfarce, chapas de matrícula falsas e documentação detalhada com o planeamento dos inúmeros assaltos. As autoridades encontraram ainda algumas peças de um Suzuki Vitara verde, o automóvel de onde terá disparado os tiros de metralhadora que atingiram mortalmente dois guardas civis. INSPECTORES DISFARÇADOSOs inspectores da Polícia Judiciária de Coimbra envolvidos na detenção de ‘El Solitário’ disfarçaram-se de pedreiros, mecânicos e de turistas para neutralizar o suspeito sem que fosse disparado um único tiro. “Tínhamos que o prender disfarçado e equipado para assaltar o banco, mas não o podíamos deixar entrar, sob pena de fazer reféns e haver um banho de sangue”, adiantou fonte da PJ. Como actuava sempre armado e protegido com colete à prova de bala, Jaime Giménez confessou que nunca esperou ser preso sem disparar pelo menos um tiro.MUDANÇA DE CADEIAA hipótese de transferir o detido do Estabelecimento Prisional Regional de Coimbra para a cadeia de Monsanto estava ontem a ser ponderada. A prisão é ocupada sobretudo por reclusos em regime aberto, mas tem um sector fechado que se destina aos presos em trânsito para outros estabelecimentos prisionais. Nas proximidades encontra-se instalado o Grupo de Intervenção dos Serviços Prisionais (GISP). Com esta transferência, pode estar a ser preparada a colocação do detido numa cadeia considerada de alta segurança, como é o caso de Vale Judeus.SAIBA MAIS8 moldes em gesso foram apreendidos no armazém de ‘El Solitário’, em Pinto, Madrid. Serviam para fabricar as máscaras em látex que usava para esconder o rosto das autoridades.3 metralhadoras da marca Maretta – as preferidas de Giménez – foram confiscadas pela polícia espanhola. Havia ainda várias granadas de mão.MATRÍCULASO suspeito guardava dezenas de matrículas falsas, da Espanha, Inglaterra e Portugal. Eram cópias de chapas verdadeiras, cujos dados recolhia durante as deslocações.EMPRESAOs investigadores acreditam que ‘El Solitário’ pretendia abrir uma empresa no Brasil, para produção de álcool para automóveis, um tema que andava a estudar.PILOTOGiménez Arbe estaria habilitado a pilotar helicópteros, de acordo com uma licença encontrada em sua casa. Tinha também muitos livros sobre aeronáutica.
Francisco Pedro, Leiria
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Atualizado 27/07/2007 13:42
Namorada de El Solitario depõe na
PF em Ribeirão
EFE
EL SOLITARIO Jaime Arbe foi preso anteontem quando planejava assaltar um banco em Portugal A namorada ribeirão-pretana do assaltante mais procurado da Espanha, Jaime Jiménez Arbe, 51 anos, o “El Solitario”, prestou depoimento ontem na Delegacia da Polícia Federal de Ribeirão Preto, na condição de testemunha. O depoimento foi dado aos agentes da Interpol, em caráter reservado. Ela confirmou ter recebido 60 mil euros (R$ 156 mil), enviados por Arbe – informação antecipada pelo jornal A Cidade em sua edição de ontem.
Ela chegou ao prédio em um EcoSport, acompanhada por dois advogados e escoltada por dois agentes. Entrou por uma porta lateral. A investigação está sob sigilo.
Dois oficiais espanhóis estão no Brasil há 20 dias e investigam o relacionamento dela com “El Solitario”.
Empresa em RP
“El Solitario” iria usar o dinheiro do assalto em Figueira da Foz (Portugal) para montar uma empresa em Ribeirão Preto. Ele foi preso anteontem, quando planejava assaltar um banco português.
Policiais espanhóis encontraram na casa do assaltante, em Madri (Espanha), documentação que sugere o interesse dele em abrir uma empresa ligada ao setor de álcool combustível em Ribeirão Preto.
O assalto que ele realizaria em Figueira da Foz provavelmente seria sua última ação – uma espécie de garantia para sua aposentadoria, de acordo com a polícia. Ele foi preso com passagens áereas para o Brasil, o que reforça a tese da polícia.
Foram os telefonemas trocados entre ele e sua namorada em Ribeirão Preto que ajudaram a polícia a encontrá-lo. “El Solitario” queria se mudar para Ribeirão.
Agentes usaram disfarces na operação
Os policiais da força-tarefa hispano-portuguesa que prendeu “El Solitario” anteontem tiveram de usar disfarces para prender o assaltante em Figueira da Foz.
Os policiais disfarçaram-se de pedreiros, mecânicos e turistas. A intenção era a de que o assaltante mais procurado da Espanha fosse detido sem o disparo de armas de fogo.
A operação foi coordenada pelo comissário Almeida Rodrigues, da Polícia Judiciária de Coimbra.
Jaime Jiménez Arbe está preso na cadeia de Coimbra e é acusado pela morte de três policiais na Espanha e por mais de 30 assaltos a bancos. Ele comprava armas danificadas pela internet e as restaurava e fabricava suas próprias granadas.
Usava disfarces de todos os tipos, o que dificultava sua identificação.
A vida de “El Solitario’” será transformada em minissérie, anunciou a rede espanhola Antena 3 TV.